Os Anjos no Céu e o Gabriel na Terra
(Gabriel Resgala)
Sim, eu até gosto do meu nome. Bonito, sonoro, chama a atenção...
Não, não acho que meus pais fizeram uma má escolha ao colocarem esse nome em mim.
Mas... devo alertá-los, futuros papais e mamães que também gostam deste nome e que desejam coloca-los em seus filhos...
Cuidado!
Pois vocês correm um belo risco de estar traçando, ainda que sem querer, uma expectativa angelical demais pro seu pimpolho. Principalmente se o mundo inteiro cismar, como não sei por que raios aconteceu comigo, que além de nome ele tem cara de anjo.
É, eu sei... Sei que muitos, no fundo, querem é isso mesmo, né? Querem que o filho seja um anjinho... Com auréola, asinha, carinha de santo...
Mas lamento informar: seu filho – independente do nome – se Deus quiser, será humano.
Assim como eu sou, e quero ser humano!
Não, não estou defendendo o direito de sair por aí fazendo de tudo, de pintar o sete, ou de ser “do mal”. Muito pelo contrário... Até porque anjo também faz isso, lembra do tal de Lúcifer? Pois é...
Só estou defendendo o ser humano. Com todas as fraquezas, as forças, os defeitos e as qualidades de todo ser vivo que tem um polegar oposto ao resto da mão. E ainda com um monte de coisa esquisita, que cada bicho-homem no mundo tem de diferente dos outros, e que os psicólogos chamam de personalidade. Uma personalidade humana (ou várias, dependendo do sujeito...).
Ser humano dá medo. E como! A gente é jogado numa vida doida pra burro e tem que aprender a se virar!... Tem uns que conseguem, se viram que nem frango assado em televisão de cachorro, e parece que dá certo... Tem outros que não conseguem, talvez por serem quadrados demais. Tem outros que se espremem, vira daqui, vira de lá... e parece que conseguem, mas aí quando a coisa aperta, quando vai ver, já era - não conseguiram foi nada!...
Mas acho que o melhor que podemos fazer, já que estamos (ou “somos”) nesse corpo ereto (ou meio corcunda) com esse cérebro gigantesco (que nem sempre é usado como deveria, é verdade...), é sermos humanos. Com tudo de bom que temos. Deus gostou do que fez, porque a gente insiste em se negar?...
Vamos ser humanos. Sem pensar que estamos no céu (embora tenhamos todo o direito de querer ir pra lá, um dia...). Sem querer que alguém daqui, de carne e osso, seja um anjo. Eles têm os problemas deles (os “da guarda” que o diga!), que nós tenhamos os nossos. Tem gente até que diz que, se a gente se virar direitinho por aqui, um dia vamos até mandar neles!...
E foi pra ver se eu consigo enfrentar melhor essa “humanidade” toda que resolvi começar a escrever. Enquanto não tenho asas, vou indo, tentando aproveitar as pernas que Deus me deu...
Quem me conhece, vai poder conhecer um pouquinho mais sobre o que eu penso. Quem ainda não conhece, vai ter a oportunidade de se deparar com mais um bicho humano – e, como todo bicho, tem gente que gosta, tem gente que não...
(Que bom, né? Já pensou se todo mundo gostasse do ornitorrinco?!...)
(JF, 15.05.05)
TEXTO PUBLICADO NO LIVRO "COMPREI JUJUBA!" - www.compreijujuba.blogspot.com