Sobre a existência (ou o que é existência?)
Agora eu sei exatamente o que era a época dourada dos tempos esquecidos.
Dito isso, a tela volta a ser branca. Sem nada mais na superfície, a tela, agora na sua existência original, branca e sem nada que lhe dê algum sentido, ou seja, sem, ao menos um rabisco que indique alguma ação externa sobre a brancura da tela, agora, somente o branco uniforme, opaco e único. A impossibilidade de outra coisa senão além de conceber o pensamento como a única saída possível. É o mesmo que dizer: ok. Aceita-se essa contingência apenas como referência para uma existência solitária. É o branco da tela, opaco, sem vida, apenas exibindo sua significância de branco como uma espécie de anteparo ao escuro. Não é uma oposição, apenas um anteparo porque opor-se precisa reconhecer para se opor, assim, opor significa aceitar a existência do outro e fazer-lhe oposição como uma nova possibilidade de relação. Ao contrário, o anteparo não precisa dessa aceitação. Funciona tão somente como um obstáculo independentemente da existência. O anteparo está lá, pura e simples.
Todavia, as coisas só existem na medida da capacidade cognitiva do agente. Dito de outra maneira: somente com a capacidade de verbalizar, dar sentido semântico e discursivo, é que a existência adquire sentindo de existência. Por exemplo: uma cadeira só será cadeira se, dada minha capacidade cognitiva, inté é, minha capacidade de falar sobre o que é uma cadeira, é que ela, a cadeira, existe como cadeira. Pensemos assim: quando em 1500 os portugueses aportaram suas caravelas no litoral brasileiro, nossos indígenas sabiam o que era uma caravela? Puderem dizer:" lá estão os portugueses e suas caravelas" ou , ficaram assombrados com o que viam? É bem provável que o espanto tenha sido a primeira manifestação. Então, as coisas só adquirem existência se haver capacidade cognitiva quê lhe dê sentido, fora isso, só espanto, estranhamento; a tela branca. A opacidade como resultado da incapacidade do verbo. Dizer o verbo pressupõe conhecer e conceber a existência, dar sentido para que o que se dá nome, ao nomina -lo, será como dizer: eis a coisa, a qual, a partir do presente instante, considerado que agora, tem nome, tem existência, não será, desde esse instante, algo sem existência. E assim, o que antes era nada, agora passa a ter sentido.
E a época dourada dos tempos esquecidos, nada mais será, senão um fragmento da memória quando estávamos no jardim da infância da espécie humana. Quando andávamos perdidos tateando as paredes para encontrar a luz do outro lado da caverna.
E irmanados à luz que nos recepciona , nós, que até a possibilidade de saída de saída da caverna, apenas existiàmos como qualquer outro vivente, descobrirmos que além da montanha, um vale, verde e com fonte de água cristalina, pode existir.