PROSOPOPEIA HOSPITALAR. (Já imaginou alguns objetos trocando ideia?)
“PERSONAGENS”: maca, cadeira de rodas, termômetro, soro, estetoscópio, álcool, algodão, injeção, etc.
TODOS JUNTOS: Estamos aqui reunidos, ininterruptamente, prontos para servir a quem quer que seja. Não importa a idade, sexo, cor, religião, política, futebol etc. De uma coisa, caro paciente, pode ter certeza, cada um de nós, por mais assustador que possa parecer, está imbuído de segundas intenções e muito menos com o objetivo de fazê-lo sofrer. Pois pensando bem, dor, apreensão, medo e mais alguma coisa você já trouxe no seu íntimo. Aqui só existe dor porque alguém a trouxe porque ninguém aqui tem uma maquininha de fazer dor. Aqui, pelo contrário, só queremos amenizá-la e extingui-la, mas para isso precisamos também muito da sua colaboração. Afinal, primeiramente o paciente tem que se ajudar para que possamos ajudá-lo. O nosso objetivo só será concretizado com sucesso com a colaboração de cada pessoa que chega aqui precisando de tratamento. Outra coisa: você pode ter certeza que ninguém aqui é sádico e muito menos masoquista. Assim sendo, podemos chegar a um acordo, que é devolver o mais rápido possível a sua maior riqueza que, sem dúvida, é a sua saúde.
CADEIRA DE RODAS: “Caro paciente, sente-se, por favor. Sei que talvez não queira conversar porque está com alguma dor. Mas a tendência é melhorar. Pensamento positivo. Vou lhe apresentar a minha colega de transporte, a dona MACA, a espevitada, a magrela!”
MACA: “Alto lá”! Respeito é bom e conserva os dentes, ou melhor, no seu caso, as rodas! Primeiro lugar, espevitada é a vovozinha. E também agradeço a “dona”, cheio de ironia. Chegamos aqui no mesmo dia, querida. Desculpe-me, paciente, o trocadilho, sabe que você deve estar impaciente para ser atendido logo, mas pode se deitar um pouco, pois o nosso colega SORO já está pronto para lhe fazer uma visita. Eu frisei a palavra a expressão “pode se deitar” por que a minha colega CADEIRA DE RODAS, infelizmente é mais limitada e não tem condições de lhe oferecer outra opção senão que fique sentado.
SORO: Como falam esses meios de transportes hospitalares! Agora que você está numa posição adequada para me receber, permita-me fazer um passeio injetável pelo seu corpo, enquanto o médico prepara um diagnóstico mais detalhado sobre o seu caso, ou seja, sua convalescença. Olha, a minha parafernália assusta um pouco, mas não dói nada. E a propósito, sou muito lento, mas essa é a minha função. Não se irrita comigo, é para o seu bem... Olha só quem estar chegando, outro colega totalmente indolor, o ESTETOSCÓPIO.
ESTETOSCÓPIO: Sinto muito ter um nome tão pomposo e até difícil de pronunciar, mas a minha finalidade é muito simples: é avaliar ou medir a pressão arterial. Pois através dessa avaliação o médico poderá diagnosticar mais tranquilidade, E posso garantir que após o nosso colega ALGODÃO, modéstia a parte sou o objeto mais suave e que ninguém teme, exceto alguém que desconheça totalmente a minha finalidade. Só em não causar nenhum desconforto ou dor, já é muita coisa, não é verdade?
ALGODÃO: Realmente, o nosso amigo ESTETOSCÓPIO tem toda a razão: sou o único objeto que, além de mais macio jamais assusto a quem quer que seja. Modéstia a parte tenho várias utilidades e são todas realizadas silenciosamente, mesmo quando me apertam contra uma parte do corpo onde ocorre uma pequena hemorragia e sou utilizado para estancar o sangue. Quando me utilizam juntamente com o nosso colega ÁLCOOL, geralmente antes e após a aplicação de uma injeção chego a provocar certo receio, visto que não sendo analgésico, o que nós fazemos é apenas esterilizar o local da picadinha da agulha. Comigo ele é sempre útil e se dar bem em todas as ocasiões. O que o meu colega ÁLCOOL não combina é com a presença de alguma fagulha porque aí é fogo!
ÁLCOOL: É isso aí, colega ALGODÃO, só que sou suspeito de falar nessa palavra fogo. Pois reconheço que o meu nome assusta e muito, mas quando estou relacionado à bebida, quando o meu parente etílico entra em ação. Já no meu caso, a minha finalidade, a minha essência é simplesmente medicinal, portanto, totalmente benéfica, pois esterilizo objetos, partes do corpo etc. Mas por outro lado, sou tachado de perigoso, quando utilizado de maneira inadequada, principalmente por crianças, o que pode ocasionar tragédias, prejuízos e até mortes, infelizmente. Mas quando os adultos em momento de lazer estão preparando uma churrasqueira, lembram logo de mim e já começam a aguçar o paladar, pois um apetitoso churrasco está vindo aí! Só não pode exagerar porque senão alguém fica doente, sente alguma febre e até encontrar o meu amiguinho TERMÔMETRO não é fácil.
TERMÔMETRO: É isso mesmo, colega ÁLCOOL, é como o controle remoto, pois é sempre assim: “ta tudo muito bom, tudo muito bem”, imediatamente alguém precisa de um de nós dois, o que acontece? Dificilmente acha no ato! Tem que procurar em vários lugares! Mas falando sério, se não me engano, eu sou o menor objeto hospitalar que existe. Perco apenas para a agulha descar-
tável. Através do meu mecanismo, aparentemente simples, indico o grau da temperatura de uma pessoa. O meu manuseio é ainda tão fácil que qualquer pessoa é capaz de me manusear. Por outro lado, sinto orgulho de também não despertar nenhum ojeriza ou medo em quem quer que seja. O único que ganha de mim neste item é o nosso colega ALGODÃO, que já se apresentou... E quem é totalmente o contrário, sem dúvida, é a nossa colega, a pequena e temível INJEÇÃO!
INJEÇÃO: Tudo bem. Reconhece que sou temida por quase todas as pessoas, principalmente as crianças. Mas dependendo da composição química do medicamento o meu efeito, apesar de muito dolorido ou não, é sempre considerado mais rápido e muito eficaz. Provoco mais aversão simplesmente por causa da picada da agulha e não tem outro meio para substituí-la. Sinceramente, se eu fosse medicada de outra forma, isto é, o instrumento utilizado não fosse assim tão assustador quem sabe, eu não seria assim tão odiada, preterida!...Não quero com isso colocar toda a culpa da minha aversão na seringa e agulha, respectivamente. Pois agindo assim estaria sendo muito injusta e ingrata com aquelas que me transportam, fazendo com que eu atinja o meu grande objetivo. Agora, se o paciente sente que o peso da mão de quem me aplica interfere no seu desconforto físico, aí são outros quinhentos. Mas uma coisa é inevitável: a pessoa pode ter a mão leve ou como se costuma dizer, de seda, mas fazer com que o paciente não sinta a picada só se usar pomada preventiva, adormecendo o local. Caso contrário, só na desculpa esfarrapada de algumas pessoas que costuma dizer na hora H assim: “não vai doer nada, é só uma picadinha...” Então ta. Engana-me que eu gosto...