DE MARIE CURIE AO PC SIQUEIRA

A radioatividade que m4ta!

Oi, como vai você?

*Por Antônio F. Bispo

Ainda me lembro como se fosse ontem: um rapaz vesgo, usando óculos de aro redondo, magrinho, cabeçudo, cheio de tatuagens e com um modo peculiar de se comunicar, apareceu na tela do meu computador como sugestão de vídeo e ao clicar, me surpreendi com o novo formato de comunicação.

Produzindo conteúdo áudio visual em sua própria casa, sem nenhum apetrecho profissional, sem instrutor, diretor ou teleprompter para guiá-lo com roteiro polido, cheios de termos técnicos ou politicamente correto, ele falava o que lhe vinha à cabeça.

Comentava sobre tudo e qualquer coisa e mesmo sem ter (na maioria das vezes), domínio sobre o assunto, ele conseguia prender a atenção das pessoas por um bom tempo.

Recordo-me de uma ocasião em que ele descreveu modo tosco sobre a dificuldade em abrir um potinho de iogurte e uma embalagem de biscoito waffes. Foi hilário!

Seu vocabulário comum, sem tanta polidez, sem adereços e o modo como gesticulava, andava sorria ou dava chiliques diante de certos enunciados fazia parecer que estávamos numa roda de amigos e que já nos conhecia há décadas.

O véu da sacralidade das telinhas estava sendo rasgado e dali em diante, qualquer ser de “carne e osso” seria apto digno a repetir tais feitos.

Percebeu-se então que não mais era obrigatório ser bonito, possuir vestes e linguagens impecáveis e nem tão pouco ter alguns títulos universitário para aparecer diante das câmaras. Notou-se também que dali em diante não seria mais necessário “vender” o corpo, a honra ou a própria personalidade para permanecer numa posição em que “só os deuses” poderiam ocupar.

O império das grandes emissoras começaria a ruir e o “cartel de notícias” poderia ser desmentido à qualquer hora por qualquer pessoal em qualquer lugar, pois diante das ocorrências do cotidiano, qualquer um poderia ligar a câmera e contar ao seu próprio modo, o que diante de si se passava.

Esse pioneiro e ousado rapaz era um mero mortal no reino dos homens, falando sobre assuntos que de tão triviais ou irrelevantes, pouca inteligência nos era requerido para compreendê-los, já que se tratavam de perrengues do dia a dia ou assuntos que pouca gente poderia falar em outras situações devido ao tempo e valor monetário, agregado a cada segundo de audiência pelas grandes emissoras.

(PARTE 2 DO TEXTO)

Saindo de um extremo ao outro, temos a nobre cientista, a Srta. Marie Curie, cujo restos mortais jaz no Panteão de Paris.

Seu corpo encontra-se guardado em um caixão de chumbo de algumas toneladas com o intuito de proteger o povo da radioatividade que a matou e que continuará emitindo frequências mortais por mais de 1500 anos à frente.

Ela também foi pioneira no seu segmento.

Começou um estudo sobre algo ainda desconhecido e que abriu as portas para diversos campos da ciência moderna.

Todos nós hoje tiramos proveito medico cientifico de seus estudos.

Muitos outros fizeram fortunas com suas descobertas.

Ninguém até então poderia prever que a radioatividade era mortal.

Ela pagou com a própria vida e o seu corpo contaminado ainda seria capaz de contaminar outros seres se bem guardado não fosse.

Ganhadora de dois Nobéis, uma das primeiras cientistas (mulher) que o mundo “pariu” uma mãe, esposa e estudiosa dedicada.

Mesmo assim ela morreu ao lidar com o desconhecido e receber em si uma carga milhares de vezes maior que a estrutura humana poderia suportar.

Sua estória é fascinante.

Ela inseriu a humanidade numa nova fase.

Morreu (talvez) sem saber o real motivo da doença que a levaria ao óbito.

Um bom feito ela fez a todos, jamais será esquecida!

O jovem Paulo Siqueira por outro lado, apesar de não ter prestigio cientifico algum, foi exposto demasiadamente ao pior entre todos os tipos de radioatividade que existe: O ÓDIO HUMANO.

Quando descabido, desproporcional, intencional e injustificável, essa “química dos infernos” é a pior que alguém pode se expor.

Nem sempre sabemos de onde virá, de quem virá, quando acabará ou qual será (seria) o seu real propósito.

Curie foi pioneira em seu segmento e abriu portas para caminhos nunca dantes percorridos.

PC Siqueira de igual modo, ao se expor de modo primitivo e sem saber sobre o real alcance de suas palavras (e influencia), abriu as portas para um novo modelo de comunicação. Centenas de pessoas que andaram por tais caminhos e usaram seus métodos se tornaram milionários.

Além da população geral, os donos de patentes e industrias lucraram horrores com as descobertas de Curie e nada puderam fazer quando ela estava sendo consumida pelos efeitos da radiação, ainda que boas intenções houvessem neles.

Por outro lado, muitos que literalmente subiram nas costas do PC para torna-se o que são (usando seu modelo), hoje mijam ou cospem em seu túmulo e atribuem ao seu cadáver, todos os adjetivos pejorativos que uma mente perversa possa armazenar.

Há quase 90 anos o corpo de Marie repousa nu local destinado aos deuses (literalmente). Palavras de honrarias estão escrito sobre ela em diversos livros e jamais sua memória será esquecida pelas grandes mentes deste mundo.

Na data de hoje (30/12), o PC Siqueira foi sepultado em um cemitério comum.

Quanto ao seu local de repouso, nada maior era esperado por enquanto. Porém, se os historiadores forem imparciais no futuro, quando a história dos pioneiros no mundo digital for escrita por profissionais do ramo (e não por profissionais do ódio), há de se declarar que aquele rapaz teve tanta influência no mundo moderno e na maneira de se comunicar e consumir informações e produtos, quanto a Srta. Curie teve em sua época.

Acho que em sua lápide caberia a sua frase inicial de abertura: OI, COMO VAI VOCÊ?

Por chama-lo de mero mortal, lembro aos leitores que este era um cidadão comum, cheios de erros e acertos como todos nós somos, porém em uma terra em que ainda não havia leis (o mundo virtual), por ser um segmento ainda em construção, todos os que são expostos de modo indevido pelo público raivoso, sofrerão em suas almas ou em seus corpos, o efeito da malignidade dos homens maus.

Acredito que em cima disso, um mundo melhor (virtualmente) está sendo construído e que em muito em breve usaremos essa tecnologia de uma forma bem mais útil que destilar ódio a quem quer que seja.

Que descanse em paz o Jovem PC e a ainda mais jovem a mocinha Jessica Beatriz, cuja morte precoce fora provocada por um exame de gente maliciosa, desocupada e “cheia de radioatividade maligna”.

Os que postaram, compartilharam e destilaram ódio baseados na mentira deslavada que levou a moça a tirar a própria vida, poderão ser cumplices da dor a fez desejar abandonar com urgência sua breve estadia nessa jornada qual chamamos de vida.

Desejo saúde e sanidade a todos.

(De volta à parte 1 do texto)

Meu maior interesse naquela atitude (como um eterno estudante do comportamento humano, das tecnologias e dos seus efeitos sobre a sociedade) era compreender essa “mágica”. Como era possível prender a atenção dos ouvintes tendo tão pouco a oferecer? Isso era realmente fabuloso e um ato revolucionário até então!

Suas publicações logo se tornaram virais e com frequência, os que tinham acesso continuo às redes, se deparavam com seu material de uma ou de outra forma.

Não havia em si beleza ou formosura alguma se comparado aos padrões exigidos na época para ocupar tal espaço diante das câmeras.

Dizia-se até de modo vulgar por alguns poderosos, que pobre, preto ou “gente f*dida”, só aparecia na telinha se fosse como estatística.

Aquele objeto misticamente sacralizado, além de muito caro, difícil de manusear e retransmitir em cadeia, parecia destinado somente aos sábios e senhores do mundo da política, dos esportes, da indústria, da religião ou de qualquer outro segmento cujo dividendos pudessem ser compartilhados com os donos das emissoras, para que de modo positivo fosse exibido seus produtos, serviços ou um culto à sua própria imagem.

De repente, aquele “nerd maluco”, com equipamento totalmente amador, quebrou a quarta parede, entrou nos lares de milhões de brasileiros e passou a ser o centro das atenções, “roubando” audiência de grandes “dinossauros” das comunicações.

Não me vem à mente outra pessoa antes dele fazendo o que ele fez de modo tão simplório e com tão poucos recursos.

Pelo menos aqui no Brasil, acredito que ele tenha sido um dos primeiros nesse segmento que hoje faz render bilhões de reais por ano, beneficiando não somente aos influenciadores, mas também aos que fabricam e comercializam o que por eles são divulgados.

Seu feito inicial abriu a porta para milhares de outros influencers que, espelhando-se em seu sucesso, resolveram também “dar a cara à bater”, expondo-se de diversas maneiras com o intuito de promover a si mesmo, algum ideal ou só polemizar mesmo!

Surgiu de tudo: de adulto infantilizado, todo seboso, deitado numa banheira de chocolate imitando uma foca, até gente culta mostrando a natureza, ciências, os bastidores da política, alguns lucrando com a própria nudez e outros até ensinado “ao vivo e a cores” como depilar o c#, aproveitando-se da repercussão para se tornar parlamentar (já que nossa política é mesmo uma f#da). Havia espaço para todos e cada um montava seu próprio circo, com picadeiro, plateia e até “pipocas personalizadas”, a exemplo da venda de uma suposta água de banho cuja vendedora alegava ter lavado as partes íntimas com o produto daquele recipiente.

Com não dava para gritar “TERRA À VISTA” por estar navegando no mundo virtual, era permitido dizer “TRUXAS À VISTA” e lesados pelos exploradores tinham orgulho de serem chamados publicamente de idiotas.

Diferente dos índios que se admiravam pelas cores e formatos das bagatelas ofertadas pelos conquistadores em troca de suas terras férteis, o povo de nossa geração pagava (literalmente) para ter um espaço na arquibancada dos idólatras e tratavam influenciadores como seres angelicais. Não era terra que estava sendo conquistado: eram mentes vazias, tempo precioso e recursos ilimitados já que qualquer bobagem comercializada com a cara dos novos deuses seria tremendamente cobiçada!

Era terra de ninguém!

Como no período das grandes navegações, qualquer um poderia ir lá e fincar sua bandeira, criar sua própria marca e literalmente construir um império à partir de uma sala minúscula, usando apenas um celular ou dispondo de uma equipe bem preparada.

Águas ainda não singradas, terra sem lei e um universo inteiro de possibilidades, conquistas, fracassos e frustações.

Assim era (e até certo ponto ainda é) esse novo cosmo que se despontava bem diante dos nossos olhos. Era como se fossemos introduzidos em uma nova dimensão.

Golpistas de todos os tipos e gente amando e sendo amada também podia desfrutar das mesmas ondas. Famílias que há décadas não se viam, mas que aprenderam a encurtar as distancias e a economizar tempo e dinheiro por meio dessa invenção e do modo fácil e direto dessa comunicação possibilitado a todos.

Quanto ao PC, a frase de abertura que ele usava (OI, COMO VAI VOCÊ?), de tão comum, fazia parecer que ele nutria uma certa intimidade com o ouvinte, como se falasse sob encomenda para alguém exclusivo, uma pessoa em particular.

Eram novos tempos.

Como dito, iniciava-se naqueles dias (não somente devido a ele) a era da comunicação direta, onde absolutamente qualquer um, poderia narrar sua própria versão de mundo, de vida, de pensamentos, de ideias ou qualquer outro tipo de assunto banal, real, boçal, científico, político, verdadeiro ou falso. Logo o mundo (literalmente) estaria inundado por uma enxurrada de conteúdo das mais variadas intenções.

Era só gravar, postar, reagir, repostar, gravar outra vez e receber lucros pela audiência pagos pela plataforma.

Em certos casos, ao invés do retorno financeiro desejado, o influenciador recebia vários processos judiciais quando em suas “viagens” e “direitos de liberdade de expressão”, ultrapassam os limites da razão, da ética ou do mínimo de respeito devido ao objeto de insulto (ou não).

Lembro de uma certa vez (antes desse modelo de comunicação) fomos convidados a participar de um evento sabendo que uma equipe de reportagem profissional de TV estaria lá para cobrir o que tínhamos a mostrar.

Esperávamos uma entrada ao vivo mas não rolou.

Ao invés disso, foram quase 2 horas de preparações, gravando, montando cenários, equipamentos, reposicionando, treinando sorrisos e expressões forçadas, para no fim das contas, apenas 80 segundos do nosso esforço fora exibido.

No mundo da “TV real”, tudo era caro, pesado, difícil de manobrar e com uma severa rede de editores monitorando, editando, cortando ou corrigindo tudo o que deveria ser ou não exibido, atendendo principalmente aos interesses dos anunciantes, já que estes por meio de propagandas, bancavam toda aquela estrutura gigantesca, engessada e feita para funcionar pessimamente se comparado aos novos modelos que viriam.

Ninguém tinha se dado conta até então.

Daí chega um “zé mané qualquer” e sem custo ou ritual algum, seria capaz de conseguir uma audiência até 20 vezes maior que empresas do segmento.

Além disso, os futuros influenciadores conseguiriam também, de livre espontânea vontade, uma horda de seguidores permanentes, que além de bancar seus estilos de vidas luxuosos, seu fã clube os idolatrariam como se deuses fossem.

Somente nas igrejas evangélicas é que se podia ver tanta “fidelidade” e subserviência “espontânea” à gente comum que se achava divina.

Mesmo assim, nas igrejas os pastores só obtinham isso por conta das constantes ameaças feitas em nome de Deus, da fé, da religião e principalmente dos seus próprios interesses pessoais.

Era necessário ameaçar o povo com inferno, morte, praga, misérias, doenças e todo tipo de mazela para manter o povo assíduo naquele ambiente.

Quando não, um número sem fim de falsas promessas e todo tipo de chantagem emocional ou financeira eram difundidas a fim de obter o “amor” e assiduidade do povo. Porém, aquele “simples moleque” estava tendo tanto êxito quanto um império midiático de mais de meio século de existência.

Aquilo era fascinante!

Uma nova era se descortinava bem à nossa frente e poucos se davam conta disso!

Quando se trata da exposição de imagens a um público gigante, qualquer pessoa pode se tornar um deus num estalar de dedos.

Os humanos são tendenciosos à idolatria e a construção de deuses e objetos mistificados podem ocorrer em qualquer lugar, à qualquer hora ou com qualquer pessoa que conheça essa fórmula secreta ou que acidentalmente tenha esbarrado nela.

Infinitas as possibilidades de lucro surgem quando aliado à imagem de algo for anexado (propositalmente ou não) uma estória de vida, labuta, um ideal a ser conquistado ou a ideia de um salvador imediatista, um messias prometido.

O jovem Felipe Neto e o ex-presidente da república o Sr. Jair Messias são os maiores exemplos que temos no que diz respeito à ascensão meteórica, obtenção de fortuna, poder e recursos ilimitados gerados por uma audiência que, apesar de distantes, tornaram-se presentes ao uniram-se por ideais comuns.

São “mitos” construídos por um simples (milhões deles) click de mouse ou de dedos em telas de cristais líquidos.

Em ambos os casos, além da fama, os dois exemplos oscilam entre o amor e o ódio de seus seguidores e opositores.

Sem saber (ou não), tantos os que os “amam” quanto quem os “odeiam” só fazem aumentar o poder e fortuna desse tipo de gente.

Quando sentimentos individuais, revoltas e apoios populares “aos deuses sob encomenda” são demonstrados no coletivo, que falem bem ou que falem mal, o lucro será igual, se a pessoa que estiver do outro lado souber como converter os impulsos voluntários (ou não) em resultados positivos para si próprio.

De volta ao PC Siqueira, apesar de ter sido um dos pioneiros no segmento, o coitado não teve a mesma sorte.

Por ser algo extremamente novo, o modo sobre como obter vantagens sobre a popularidade das redes ainda era muito vaga.

Por outro lado, suas ambições pessoais não pareciam ser das maiores.

Sua principal qualidade (falar o que lhe vinha à mente de modo desorganizado), tornou-se sem saber o maior “defeito” posteriormente, quando o TRIBUNAL DA INTERNET começou a ser equipado.

O envolvimento (ainda que indireto) com o caso da menor (instigado pela própria mãe) ajudou a destruir sua carreira e reputação anos atrás. Por pouco não o sepultaram por completo depois do vazamento (proposital?) de alguns prints.

Quanto sua estética exterior, ele foi capaz de corrigir o defeito em um dos olhos, porém esqueceu-se de aprimorar sua visão de mundo, não percebendo o próprio poder de influência que havia conseguido, atraindo assim abutres diversos que desejavam minar seus recursos ou popularidade de várias formas.

Se com grandes poderes vem grandes responsabilidades, com grande visibilidade você atrai contra si ou ao seu favor, um exército de gente falsa, oportunista, de caráter duvidoso e acima de tudo, uma legião de odiadores gratuitos, gente frustrada com a própria vida e que não tendo nada melhor à fazer, anda à procura de alguém para destroçar, destilando o próprio ódio nos outros.

O prazer maior de gente assim se completa no fato de saber (ou presumir) que o alvo de sua ira está sofrendo com os ataques, calunias e difamações difundidas com intuito único de tirar a paz alheia.

É um tipo de RADIOATIVIDADE que mata!

(De volta ao Texto 2-Final)

Que o respeito e a capacidade se pôr no lugar do outro sejam maiores que a vontade do lucro exacerbados e da vontade de ser o centro das atenções em tudo.

Que nossos conceitos sobre liberdade e libertinagem sejam revisados!

Desejos Saúde e Sanidade à Todos!

Feliz 2024!

Texto escrito em 30/12/23.

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 31/12/2023
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