SOFRIMENTO, MUDANÇA E REDENÇÃO

    Uma dor profunda vivenciada no mais profundo da alma pode engendrar uma mudança gradativa em vários aspectos do ser humano, ainda que seja a contragosto e independente da intenção do indivíduo; ou, o que pode acontecer, conduzir infelizmente a vida ao vale da desesperança, da prostração e da morte.

     Quando um árduo sofrimento é aos poucos superado ou redirecionado, inevitavelmente vai gerar uma abissal transformação que vai repercurtir na maneira de um ser humano enxergar o mundo e nos contornos de sua cosmovisão; e ainda produz no coração uma certa humildade não só pelo fato de descobrir qualquer ilusão de onipotência e vã glória, mas também de saber que quase nada sabe.

   Só quem discerne bem as nuances dos abalos na vida, é forte para perceber que não é nada mais do que um ser suscetível aos revezes; e sábio para entender que é cheio de antinomias e limitações, ou seja, um ser que também sofre e morre, se angustia e se lamenta, tanto quanto se alegra e festeja com uma certa convicção de sua posição social e fama.

    Estamos, todos nós seres humanos, sujeitos ao luto decorrente das perdas e as doenças de várias ordens, nas quais produzem na alma um sinal de que algo precisa ser ressignificado e mudado em nosso ser. Não somos seres que agem como se nunca pudessem sofrer qualquer abalo e nunca se tornassem em algum momento sequer vulneráveis as tormentas da existência. Pelo contrário, somos justamente seres ávidos de cuidado, amor e salvação em todos os sentidos possíveis e inimagináveis.

    Se formos mais além em nossa humildade e em nossa implacável honestidade, perceberemos a realidade de nossa própria finitude e de nossa condição limitada espaço-temporalmente, uma condição capaz de aniquilar com perfeição todo o nosso orgulho e vaidade. E quem sabe, ao superarmos tais ilusões de onipotência tão comuns na juventude e na vida social competitiva, não teremos ao menos a possibilidade de olhar a vida e a existência como uma passagem e, ao mesmo tempo, uma oportunidade para descobrirmos a chave que dará acesso a algo maior e de ordem transcendental e mais elevada!

    Certamente, o sofrimento ensina a olharmos a vida não mais sob a ótica de alguém que pretende ganhar o mundo, mas de um ser que busca ganhar a si mesmo, a sua própria alma e o galardão da majestade divina no espaço infinito do seu coração.