O Éden e A Árvore

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O Éden é o Jardim deste mundo. O verdejar da nossa consciência. Somos parte deste Mundo e da Alma dele. Somos a evolução da matéria em todos seus aspectos bio-físico-químicos. Cada fervilhar de nossas intenções. Cada uma das fagulhas da nossa realidade. Todos os dias somos confrontados a reagir conforme as mudanças de posição do Sol e da Lua. Os outros planetas nos mostram os momentos únicos que passam diante de nós e as nossas escolhas e reações para cada um dos momentos diante dos eventos além-mundos.

Todos os dias nos deparamos com a guerra descrita no "Mahabharata¹", no episódio do "Bhagavad Gita": A guerra entre escolher a Luta pelo Poder de Ter para Si ou pela Libertação de Ser Parte de Tudo. A mesma luta entre acreditar que haverá um além-mundo a ser doado e merecido pelos escolhidos que sublimarem suas deficiências morais, e a luta de conservar e lutar por reconstruir esse mundo como se fosse Novo Éden e onde edificamos nossa Torre de Babel. Lugar onde mesmo diante de tanta comunicação e diferenças étnico-religiosas, conseguimos estabelecer acordos e tratados de paz e de cessar fogo.

Todos os dias vejo a Árvore do Jardim do Éden² diante de mim e de meus olhos procurando nas montanhas de Minas Gerais o Paraíso a ser reflorestado ou recolonizado pela graça natural verdejante. Todos os dias, em cada momento do Sol Nascente ou do Sol Poente, fico olhando entre a linha do Céu Azul e o limite do cume das montanhas, pintados como o Éden para nossos descendentes e vizinhos residirem e desfrutarem. E daí questiono "Por que acreditar que eu mereço o Além Mundo?"

A Árvore, seja a Da Vida ou a do Bem e do Mal, com seu conhecimento em frutos, mostra-me a luta entre meu egocentrismo e humanocentrismo e a realidade complexa de sinergia com outras espécies da fauna e da flora. A luta entre fazer o que é certo ou fazer o que é errado e como estas escolhas moldam meu caminhar diário. A Árvore é perfeita pra representar cada um dos meus possíveis caminhos e trilhas. Ela desenha as sete galhas que apontam ao Céu dos ideais que desejo, bem como é sustentada por outras sete raizes maiores e tuberosas que agarram-se a este Plano Terreno. A Árvore é parte do Éden como sou Parte do Todo no Universo. Quero me conectar a Árvore da Vida ou com a Árvore do Bem e do Mal. Entender suas mudanças entre estações. Questionar-me se sou capaz de interpretar a adaptação humana em cada evento cataclísmico desde frios polares a calores intensos até grandes enchentes ou grandes secas.

A Árvore se exibe pra mim. Viçosa, Caule grosso, base larga, raízes profundas. Ela não se desespera pela destruição deste Plano. Ela não conspira contra o Criador. Ela aceita ser parte do Todo, tal e qual verdeja e floresce em cada primavera. Ela me convida a comer seu fruto: conheça o alimento da alma entre o Bem e o Mal e o que você escolherá projetar e fazer. Ela me dá a chance de sublimar a capacidade de ser apenas criatura para ascender como parte de tudo que ficará e haverá de se mudar. Por isso eu arriscarei libertar-me do desejo de ter muitas coisas deste mundo pelo prazer de ser e sentir parte deste plano e desejar que este Éden seja melhor cada dia em que eu puder contribuir.

Comi o fruto da Árvore. Meus olhos se abrem como se fossem lavados com a água sulfurosa das minas termais de uma nascente. Sinto-me preparado para continuar. Sinto-me feliz por ter a oportunidade de ser parte do Mundo e da Alma do Mundo. Não tenho medo da Árvore pois ela é parte do Éden do meu Criador. Não tenho medo do Mal que contem o fruto, pois é equivalente ao Bem que há dentro dele. Ambos, como doce e sal, amargo e azedo, corrigem meus excessos e me ensinam equivalência e equilíbrio.

Agora sento-me ás sombras da Árvore da Vida. Encosto minhas costelas e nuca no seu caule largo e robusto. Fico tempo alí tentando equilibrar-me sentado entre as raízes. Ouço o Espírito da Alma do Mundo me dizer para não ter medo de seguir meu próprio caminho na Filosofia e na Espiritualidade. A Árvore me adverte que o propósito de todas suas galhas e religiões é ensinar a cada uma das criaturas a evoluir a Espiritualidade ao invés da Convicção. A Árvore me aconselha a despir-me das certezas e aceitar que as dúvidas modifiquem meu ego e minha forma de atuar neste Plano. Eu desejo isso. Sim. Eu digo "sim" para a metamórfica construção do pensar e subo em cada uma das galhas.

As galhas suportam minha empreitada. Não descansarei até passar por cada um dos galhos e chegar ao topo. Chegando lá, contemplarei a realidade de cada uma das convicções. Todas apontando um norte próprio com interesses similares e mesmo destino, pois apontam para o Céu. Chego até a ponta de cada uma das galhas e vejo somente o azul celeste. A árvore verdeja para cima e projeta sua sombra para suas raízes. Ela não se importa com as diferenças entre cada uma de suas galhas ou tragetórias. O destino é o mesmo: O Alto e o Altíssimo.

Descubro as vantagens da Árvore. Descubro que suas folhagens cantam ao Som do Vento. Que sua Sombra revigora e me descansa ao Sol do Meio Dia e que suas flores me enfeitiçam a encontrar os insetos que produzem o mel nas coletas de néctar. A árvore me serve de abrigo. Me ajuda a forjar ferramentas. Me permite dormir em paz comigo. Me permite um abrigo contra a chuva.

A Árvore é o condomínio de pássaros e formigas. Eu me sinto parte disso. Mesmo visitando-a com pouca frequência, quando avisto-a de longe já me encho de paz e de esperança. Corro para tocar-lhe o caule. Corro para sentir que ela me ajudará a achar a Saída. Ela combina com o Éden e compõe ele. Ela me confirma como parte do Éden que desejo preservar para coexistir. Ela, como árvore, recebe-me com tudo que pode. Acalmo minhas turbulências e medos diante dela. Nela sinto a sedução fresca de suas sombras refrigerando minha alma. Nela sinto a força pra continuar a investigar como viver e ser melhor. Nas flores dela sinto o perfume da beleza da vida e da sexualidade me convidando a autopreservar-me e amar a mim mesmo. Nos frutos sinto alimento para alma e pra os olhos. Consumo-a sem medo. Já não há lugar para o receio ou desconfiança quando aceito que ela é árvore e seus frutos são para me capacitar e me prepar. Por isso tornarei a aproveitar dela e comê-la. Sinto-me tentado a fazê-lo diariamente.

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¹Mahabharata", e o episódio do "Bhagavad Gita" são obras da Literatura Indiana

² Árvore do Jardim do Éden² é uma ilustração citada na Bíblia Sagrada e na Torah no Gênese e por outros profetas como Zacarias e descreve os primórdios da humanidade

Glaussim
Enviado por Glaussim em 29/11/2023
Reeditado em 29/11/2023
Código do texto: T7943191
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