O Vigilante Silencioso

 

 

“Há um conceito e uma função de Vigilante Silencioso: é o que serve de intermediário entre o plano material e outro de maior transcendência”.

Cosmogênese – Sociedade Brasileira de Eubiose

 

 

A noção de Vigilante Silencioso está presente em várias filosofias esotéricas, com nuances diversas de significado, mas sempre com uma conotação de amparo ao crescimento espiritual não só do ser humano, mas de toda a Criação. A “vigilância” se define como o foco da atenção do Vigilante – uma Consciência Superior -  no processo de aquisição de consciência de cada entidade individualizada e da Criação como um todo.

 

Este processo de aquisição de consciência somente pode ser eficaz se for autônomo. Ou seja, não há como transferir consciência de uma entidade para outra. O nível de consciência de cada entidade da Criação é absolutamente individual e só pode progredir pelo uso de seus atributos específicos em interação com as experiências a que é submetida. Trazendo este conceito para o campo pessoal, cada ser humano poderia afirmar: “Eu só posso evoluir no contexto da interação entre minhas características de personalidade e os eventos que se desenrolam em minha vida. Não posso contar com nenhuma outra entidade além de mim mesmo, por maior que seja sua hierarquia espiritual, para me trazer consciência”.

 

No entanto, este processo, embora individual e autônomo, não está desamparado. As Entidades de consciência superior observam os resultados do uso do livre arbítrio, individual e coletivo, e promovem o arranjo do roteiro de vida, na configuração necessária para que as experiências indutoras do crescimento da consciência ocorram.

 

Quando os pais fazem a tarefa de casa para os filhos, não estão lhes proporcionando qualquer aprendizado. Assim também, a transferência de consciência de uma entidade a outra seria absolutamente inócua, por não ter brotado do âmago do ser em evolução.

 

Se a vigilância por parte de Consciências Superiores é necessária para a criação do contexto adequado ao processo evolutivo, o Seu silêncio também o é, na forma de não intervenção e de permissão para o exercício integral do livre arbítrio do aspirante (consciente ou não). Portanto, Vigilante Silencioso é um conceito, de amplo espectro, na caminhada evolucional da humanidade.

 

O conceito de Vigilante Silencioso pode e deve ser interiorizado em cada ser, como elemento fractal que se repete em todos os níveis da experiência humana, micro e macro cosmicamente. Cada um de nós tem em si, em seu interior, a representação do Vigilante Silencioso, como um fator decisivo de evolução da consciência. No entanto, este fator se encontra adormecido pela predominância do ego no controle do arbítrio sobre todas as questões vividas.

 

Diferentemente do Vigilante interno, o ego, um aspirante inconsciente, quando deixado por própria conta, longe de ser vigilante e silencioso, é responsivo e barulhento. Responsivo porque apenas reflete o que recebe do meio externo, e barulhento porque sua resposta ao meio externo é sempre carregada de emoções extremadas: raiva, paixão, medo, excitação e congêneres. Esta é precisamente a arena que deve ser objeto da atenção do Vigilante interno.

 

Mas a atenção não pode se manifestar em duas instâncias ao mesmo tempo: ou ela está sob o comando do ego, que prodigamente a utiliza em busca do prazer ou para fugir da dor, ou em poder do Vigilante que a usa para observar o ego, oferecendo-lhe oportunidades de se tornar consciente.

Eis que se torna imperativo subtrair do ego o poder de atenção e entregá-lo ao Vigilante, uma entidade de consciência superior que, assim, entrará em função na observação do aspirante inconsciente, o ego. Estando o ego desprovido do poder de atenção e submisso à observação do Vigilante, interrompe-se o fluxo desenfreado entre o ego e o meio externo, cessando assim o ciclo vicioso dos pensamentos e sentimentos recorrentes.

 

Esta transferência da posse da atenção do ego para o Vigilante é uma prática simples, mas de eficácia comprovada para a manutenção da mente saudável e consequente desenvolvimento da consciência – o que aliás é a essência do processo de evolução espiritual. Através desta prática produz-se um ambiente asséptico, purificado na psique humana, onde a doença não tem como se manifestar.

 

A observação do ego, ou a “vigilância dos sentidos”, consiste em manter a atenção – a consciência - focada nas sensações, emoções, sentimentos e pensamentos, sem qualquer julgamento ou repressão: apenas observar o comportamento do ego, em todas as situações. Ao perder o poder de observação para o Vigilante, o ego vai lidar apenas com as energias ainda presentes nos corpos mental e emocional, remanescentes dos ciclos recorrentes anteriores, sem, todavia, retroalimentar tais energias com a interação inconsciente como o meio exterior.

 

Esta prática é também conhecida como “sensações conscientes” ou “mindfulness” que na língua inglesa significa “atenção plena”, numa tradução livre.  Originária do budismo, ela está presente na filosofia oriental há milhares de anos. Mais recentemente, na cultura ocidental, passou a integrar algumas terapias em clínicas de psicologia e em práticas de meditação. Embora de fácil aplicação e com retorno imediato dos seus benefícios, a versão ocidental da prática é, por si só, carente de uma contextualização que induza à sua compreensão e à sua utilização permanente como ferramenta de correção de rota, quando nos perdemos nos atalhos ilusórios da caminhada da vida. Ela deveria ser compreendida no contexto do processo de evolução espiritual do ser humano a partir de seus corpos mais densos até os mais sutis do espírito.

 

Em sua versão mais simples, a prática consiste na manutenção da atenção plena em todas as atividades que executamos, de forma a se tomar consciência de tudo o que fazemos, fixando a atenção no presente, evitando assim a divagação pelo passado e pelo futuro. De fato, este é o segredo da presença da mente no momento em que a realidade da vida acontece, no presente, no agora. No passado e no futuro não existe realidade.

 

No entanto, como um exercício de espiritualidade, o objeto da atenção deve se ampliar e se aprofundar, para incluir nele as sensações, as emoções, os sentimentos e os pensamentos aleatórios ou incontidos, manifestações do ego que, para se tornar consciente precisa ser observado à distância, a partir de uma instância superior além dele mesmo. Pois ele, o ego, como os nossos olhos, não consegue olhar a si próprio, tão envolvido que está consigo mesmo (busca do prazer, fuga da dor) e com o mundo exterior (a fonte dos recursos que satisfazem suas buscas de prazer e anestesiam suas dores).

 

A observação do ego, não só como uma prática, mas como um processo, uma postura de vida, e como um instrumento para o projeto de evolução da consciência do ser e da humanidade, já em curso agora mesmo nestes tempos de transição planetária, precisa ser entendida como uma função intrínseca e indissolúvel da mente, assim como é função intrínseca dos pulmões a oxigenação do sangue. Precisa ser entendida como uma chave do portal do espírito, de onde jorram os elementos do autoconhecimento e de cura em todos os corpos do ser humano.