A DESOLAÇÃO POÉTICA —VII—
A DESOLAÇÃO POÉTICA —VII—
FILHOS DA TERRA, ONDE ESTÃO VOCÊS???
A EMBOTAR E ESVAZIAR O MAR???
MULTIDÕES A CAMINHAR EM CÍRCULOS
Eu não sabia de nada, olhando o Coração das Trevas
Na luz no silêncio. O cadáver da Rosa brotou, floresceu???
Companheiro, irmão, não sei de um nem do outro
O Cupido Dourado esconde seu brilho
Os estranhos perfumes o afogaram em odores
O cabelo das mulheres queimaram nos crânios em fogo
Que pensamentos poderiam ter os mortos
No beco onde os ratos perderam os ossos???
Por que cada um e todos parecem não saber nada???
O ator shakespeariano, elegante, inteligente
Está a flutuar no palco sobre um portal de antimatéria
Quem mede as próprias palavras
Apressa-se em favor das horas
Ninguém se envergonha por ser tão antigo
Por que casar se não quer te filhos???
Boa noite queridas senhoras do sermão de fogo
Os testemunhos de verão viraram cinzas
Por sob as águas do Velho Monge, os mortos os peixes iluminam
Mariazinha começou seu naufrágio por trás do posto de gasolina
O pé do rato pressionou o freio de mão e a buzina
O corpo abalado lançado aos pés de senhora do prefeito, dona Carolina
As vozes do coro infantil cantam na cúpula do governo senil
Tirésias, embora cego, lambeu o bico dos seios da vestal
No Templo de Júpiter, reuniram-se os deuses corruptos
Os últimos raios de sol brilhavam no Equinócio da Primavera
No divã de tio Freud deitaram-se os fugitivos de Capela
Os médicos e dentistas, cabisbaixos, fizeram morada por mais mil
Anos entre as almas penadas no inferno dos capachos insanos
O agente imobiliário surrupiou o chapéu de seda do milionário
O zigoto transformou-se em embrião no momento propício
Na entediada refeição. O amante falecido estava feliz
Feliz por sua encarnação ter desencarnado
Sozinha a mulher do soldado, sob o véu do temor atávico
Puxou, devagarinho, com a ponta das unhas, os pentelhos do general
As barcaças, à deriva, rio abaixo, rio arriba, cruzaram as águas
Na tempestade sobre Greenwich Village ouvia-se jazz na Grande Maçã
Manhattan pululava de ratos. Casais intimistas lambiam-se em Hollywood
Os deuses entravam desapercebidos em Walhalla
Ao som onisciente de Richard Wagner
Em breve não haveria mais humanos pra contar estórias
Na Terra Devastada, nos Sertões nacionais da brasilidade
Os políticos sorriam engasgando-se com a própria senilidade
Meus pés estão com as unhas quebradas
Em Cartago vociferava a Morte pela Água
A alma de Flebas, o Fenício, voou no corpo e no grito da Gaivota
Sua idade e juventude vivenciaram a ressurreição sobre as águas
Você sabe quem é o Terceiro que caminha ao seu lado???
Quem, esse outro ao lado de você???
As Torres também caíram em Jerusalém. Salem, Atenas
Alexandria, Viena e Londres. Até no Piauí houve quedas
Dos que não mais poderão levantar-se em seus pedestais
Morcegos fizeram ninhos nos longos cabelos reluzentes
Das mulheres carentes, em busca do degelo
A selva Amazônica, agachada em seu silêncio
O coração terrível urgia em obituários
A aranha circulava por sobre os selos quebrados
O Apocalipse, a Terra Devastada, mugia nos tsunamis
E explosões góticas nos armários. O príncipe da Aquitânia engoliu
Seu escarro para parecer aos outros ser um sujeito educado
A POESIA NÃO EMUDECEU DIANTE DESSAS RUÍNAS.