A DESOLAÇÃO POÉTICA —II—
A DESOLAÇÃO POÉTICA —II—
Consideremos que através dos anos-luz nos separam de civilizações muito, muito mais antigas do que a nossa, um conluio destas tenha criado o arquétipo que originou o Homo sapiens. Civilizações que começaram a existir milhões de anos antes da criação de nosso sistema solar de quinta grandeza.
A conspiração dessas civilizações cúmplices da Criação ou formatação deste planeta Terra, chegaram ao consenso de que seus cientistas se dividiram em três grupos distintos: o primeiro grupo de cientistas produziria a cabeça do Homo sapiens. O segundo, reuniria uma equipe para construir o tronco, com todos os seus órgãos internos: o pescoço, o tórax (pulmões e coração) e o abdômen. No abdômen estão o estômago, fígado, intestinos, rins e bexiga.
O terceiro agrupamento de cientistas extraterrestres predecessores deste universo que conhecemos, ficou na incumbência de construir os quatro membros dos androides de carne e osso, aos quais chamariam de “humanos”: duas pernas, membros inferiores dois braços, membros superiores. Os membros fazem parte integrante da uniformidade do corpo por inteiro. Representam o nexo entre o sexo e o plexo solar. Podemos agora nos ver sob a perspectiva da Criação: cabeça, tronco e membros no ambiente geopolítico familiar do planeta Terra. Planeta este formatado através da terraplanagem, para ser a habitação dessas criações onde residem os habitantes que coabitam na esfera terrestre.
A mulher, minha mãe biológica, fabricada pela alta tecnologia dos que nos precederam no continuum do Tempo, no espaço abrangente universal, “descobriu a pólvora”, ou seja: engravidar para ela era penetrar nos misteriosos meandros da Criação. Ela sentia-se uma deusa. Ao engravidar, sentia-se útil. Estava a povoar o mundo, ignorante de que o mundo já estava mais do que povoado. Quando de ventre inchado pela gravidez, sentia-se parte do mistério do universo, no qual desempenhava um papel importante: o de parir.
Parir um ser tridimensional, alguém que até então não fazia parte do mundo da largura, comprimento e altura: ela não tinha outra ambição. Sua existência fútil, inútil, ganhava, quando grávida, um sentido na vida. O marido era um fraco sem noção, sem mínima autoridade moral. Um bobão na Corte de uma sociedade de frutos da árvore da vida deteriorada, desgastada no histórico de uma parceria de irmandades, nas Assembleias enegrecidas pela ferrugem de sobrevivência na inconsciência e na solidão patética de um mundo que já havia acabado. Mas ambos faziam de conta não saber.
A Lei do Carma chamava suas almas ao julgamento final das gerações. O casal se recusava, terminantemente, a tomar consciência do drama pessoal, familiar e social, drama universal, no qual estavam imersos, igual peixes numa tarrafa, sem outra opção que não fosse a fritura ou o cozimento sob o sol inclemente de temperaturas crescente no orbe da Terra. Não havia neles identidade sensorial, mesmo porque, tudo que poderiam sentir era o quanto não sentiam nada mais que suas necessidades e afazeres domésticos.
Viviam um existencialismo de novela. Eram personagens fechados dentro de uma bolha hermética. Tudo que poderiam sentir era o reflexo da própria obscuridade. Os filhos que se amontoavam ao redor, não eram mais que oportunidades de exercerem sua pestilência emocional. O autoritarismo paterno e o maternal, fustigados por mil culpas e novelos de linhas de tecer suas pobres destinações: as mulheres seriam não mais que domésticas a serviço da libido dos maridos infectados pela herança da sodomia.
Os marmanjos estariam sendo encaminhados para os empregos, carregando os ressentimentos e problemas acumulados sob o poder gestado pela autoridade opressiva dos que lhes pariram. A família não era mais que um buraco negro a servir de argumento político para candidatos a serviçais da ideologia obstinada e casmurra, que tinha como slogan: “deus, pátria, família e liberdade para ser escravos do consumismo.
A crescente influência, pessoal, familiar e social de uma solidão acompanhada de “fake-news” ou mentiras rituais conectadas aos interesses do mundo cão. O medo sempre estava presente, companheiro de suas mazelas. O medo que fazia aquela mãe de família botar mais um pária no mundo para lhes fazer companhia. Seu “ventre livre” crescia no produzir rotinas que, nove meses depois, teriam mais outro acompanhante na procissão dos necessitados. Suas “buchadas de bode” a acrescentar outro habitante, nas cidades de carne rendidas ao ancestral sodomizado de há 3650 anos, na região de Telel Hamã, onde prosperaram as relações sexuais antinaturais.
De sua montanha de carne emprenhada pelo Inconsciente Coletivo da Cidade das mulheres grávidas, saíam mais e mais ressentimentos e problemas que se somariam aos demais já existentes de sobra. A sincronicidade subjetiva da cidade de carne prometia uma nova “idade das trevas”, marcada pelas superstições, pelos Avatares das lombrigas, a descer à Terra em encarnações de assombrações ancestrais vindas de muito longe. Muito longe no continuum do espaço e do tempo das divindades terrenas.