A POESIA É RESPOSTA AO CAOS

– Para Oneida Maria Di Domenico, filósofa e poeta.

A existência humana no plano terreno, segundo a filosofia espiritualista, por ser um período vivencial de expiação de erros e culpas, incluídas as oriundas de encarnações anteriores, é sempre um insidioso território em que se constata o conflito e o tumulto, nos quais prevalecem a brutalidade e o autoritarismo, que forçosamente levam ao conflito e à des/ordem.

A realidade perpassa alimentada pela truculência, com a negação da vida ordenada, individual e coletivamente. Ao poeta cabe o afago, o carinho a quem sofre, auxiliando a si e aos semelhantes nos lamaçais de asperezas.

O vate dominado pela verdade e bons princípios sabe e conclui que esse universo precisa de ajuda para que a humanidade possa sobreviver com dignidade, e então, de somenos, exsurge, airosa e grácil, a palavra poética, no mundo recém-criado pela liberdade de criar, fortaleza, prazer e gozo, propondo azo à linguagem figurada, metaforizada, com vocábulos ornados com seus vestidos de gala ou de festa, benefício estético de sua axiologia e beleza.

Desta sorte, neste ambiente vivencial, o poeta-autor propõe a si próprio uma re/criação que lhe gera felicidade e o torna momentaneamente feliz, mesmo que tudo se complete em sua cabeça e não se refaçam as causas e concausas, de modo a que nunca se perfectibilize a geração no mundo dos fatos.

Lembras de que, segundo Fernando Pessoa, em sua “Autopsicografia”, o poeta é um fingidor?

Por fim, teria a Poesia alguma funcionalidade, já que o Belo é extasiante, perdimento e sobrevivência, um todo dentro do próprio poema?

O poeta-autor e também o poeta-leitor creem piamente que o pequeno mundo por eles recriados é verdadeiramente um mundo melhor para ser vivido. Este recanto zelosamente recriado é um astro (raro e altruísta) nascido na permanência do verbo AMAR.

Fora destes tão dolorosamente humanos limites, o planeta do nascer, ser, estar e morrer é apenas uma inacabada ópera bufa.

MONCKS, Joaquim. O CAOS MORDE A PALAVRA. Obra inédita em livro solo, 2023.

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