Deus não Existe!

 

O título deste ensaio é realmente provocativo. No entanto, ele contém uma lógica filosófica intrínseca:

 

A definição do Universo como "a totalidade do espaço, tempo e tudo o que existe nele" implica em que não existe um "fora" do Universo, não existe um lugar além do Universo observável, desde que tudo o que existe está contido nele de acordo com a teoria cosmológica atual.

 

Por outro lado, a palavra Universo tem sua origem no latim "universus" - uni (um) e versus (oposto a) - ou seja, o verso da Unidade, aquilo que se contrapõe à Unidade, ou ainda, a multiplicidade. Se entendemos Deus como a Unidade, e a Sua Criação como a multiplicidade, então Deus, a Unidade, e Sua Criação, a multiplicidade, são entidades distintas. Deus, pois, em sua essência absoluta, está fora da multiplicidade, está fora do Universo. Logo, pela própria definição cosmológica de Universo, Deus, o Inefável, não existe!

 

No entanto, não há como sermos tão simplistas quanto a lógica construída a partir de silogismos aristotélicos sem o risco de incorrermos em paralogismos. É preciso, então, contextualizar:

 

Sim, Deus criou o Universo. Mas não tinha como fazê-lo a não ser a partir de Si mesmo. Se antes da Criação não havia Universo, nada existia, então, que pudesse ser a origem dele próprio.  Antes da Criação, Deus era - sempre foi e sempre será - o Nada absoluto, mas também o Todo em potencial. Portanto, todas as coisas existentes no Universo, inclusive tempo e espaço contêm o "DNA" do Criador, a substância de que todas as coisas foram criadas.

 

Então, Deus existe no Universo como a argamassa da Criação, e É, também, o potencial criador em sua essência, independente de sua Criação, independente da existência. Na "Respiração de Bhrama", segundo  a filosofia Hindu, (manvantara - expansão do Universo - e  pralaya - retração do Universo) Deus existe em manvantara mas não existe em pralaya, momento cósmico de repouso da existência em sua reabsorção na Unidade. Neste último estado, Deus apenas É! A rigor, podemos dizer que, quando existimos, Deus também existe (manvantara); quando não existimos, Deus também não existe (pralaya).

 

Esta frequência vibratória cósmica de tempo linear imensurável (mais de quatro bilhões de anos) é um padrão que permeia todo o Universo. Todos os ciclos de que são compostas as manifestações da vida ( o dia, o mês, a própria vida e todas as experiências humanas), são expansivos e retrativos, contendo em si o potencial de crescimento, amadurecimento e  fenecimento, esta última fase dando lugar a um novo ciclo em patamar mais elevado de consciência.

 

A física moderna teoriza sobre a quantização do tempo, ou seja, sobre a hipótese de que o tempo não é contínuo, mas quantizado ou alternado (discreto). Esta hipótese pode trazer luz à ideia de que os macrociclos cósmicos têm também sua correspondência no microcosmo onde ocorrem as pulsações quânticas de frequência vibratória infinitamente alta, portanto em espaços de tempo infinitamente pequenos, não perceptíveis aos sentidos humanos.

 

Nestas vibrações quânticas, manvantaras e pralayas ocorrem a cada instante infinitezimal, criando a propulsão evolucional aparentemente contínua do Universo. Assim, nossa convivência com o Criador é permanente, e ocorre a cada micro-pralaya onde o Universo é reabsorvido na Unidade para ser, em seguida, manifestado novamente num micro-manvantara da existência. Esta pulsação quântica, de altíssima frequência vibratória, é o protótipo, é o padrão da existência no Universo onde tudo é cíclico.

 

Aí está o segredo da inevitabilidade da evolução de toda a existência. Não há como fugir da alternância quântica dos fenômenos universais onde a cada microciclo, a existência retorna com a chancela do Criador.