CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(9) ***Dar a Deus: uma questão de lógica ou de fé?***

Dar a Deus e honrá-lo com nossos recursos é um princípio financeiro fundamental que tem sido debatido e discutido ao longo dos tempos. Muitos cristãos seguem esse princípio como uma forma de expressar sua gratidão, sua obediência e sua confiança em Deus. Eles acreditam que, ao dar a Deus, eles estão investindo no seu reino e recebendo bênçãos em troca. No entanto, essa visão pode ser questionada por uma perspectiva mais centrada na lógica e na racionalidade. Neste ensaio, vamos analisar os argumentos a favor e contra essa prática, bem como as implicações éticas e sociais que ela envolve.

Um dos argumentos a favor de dar a Deus é que ele é o dono de tudo e que nós somos apenas administradores dos seus bens. Segundo essa visão, tudo o que temos vem de Deus e pertence a ele. Portanto, devemos devolver uma parte do que recebemos como um reconhecimento da sua soberania e da sua bondade. Esse argumento se baseia em várias passagens bíblicas, como: "Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe, o mundo e os que nele vivem" (Salmos 24:1) e "Lembrem-se: aquele que semeia pouco também colherá pouco, e aquele que semeia com fartura também colherá fartamente. Cada um dê conforme determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria" (2 Coríntios 9:6-7).

Outro argumento a favor de dar a Deus é que ele nos promete recompensas materiais e espirituais quando o fazemos. Segundo essa visão, dar a Deus é uma forma de semear para colher no futuro. Deus se agrada dos que dão com generosidade e os abençoa com prosperidade, saúde, paz e salvação. Esse argumento também se baseia em várias passagens bíblicas, como: "Tragam o dízimo todo ao depósito do templo, para que haja alimento em minha casa. Ponham-me à prova", diz o Senhor dos Exércitos, "e vejam se não vou abrir as comportas dos céus e derramar sobre vocês tantas bênçãos que nem terão onde guardá-las" (Malaquias 3:10) e "Honre o Senhor com todos os seus recursos e com os primeiros frutos de todas as suas plantações; os seus celeiros ficarão plenamente cheios, e os seus barris transbordarão de vinho" (Provérbios 3:9-10).

No entanto, esses argumentos podem ser contestados por uma perspectiva mais lógica e racional. Um dos argumentos contra dar a Deus é que ele não precisa do nosso dinheiro ou dos nossos bens. Segundo essa visão, Deus é auto-suficiente e não depende das nossas ofertas para sustentar o seu reino ou para realizar a sua vontade. Ele não é um comerciante que troca favores por pagamentos. Ele é um pai que nos ama incondicionalmente e nos provê gratuitamente. Esse argumento se baseia em algumas passagens bíblicas, como: "Pois quem sou eu, e quem é o meu povo para que pudéssemos contribuir tão generosamente como fizemos? Tudo vem de ti, e nós apenas te demos o que vem das tuas mãos" (1 Crônicas 29:14) e "Pois se vocês derem aos outros, Deus dará a vocês. Ele lhes dará uma medida boa, socada, sacudida e transbordante na concha de vocês. A mesma medida que vocês usarem para medir os outros Deus usará para medir vocês" (Lucas 6:38).

Outro argumento contra dar a Deus é que ele não nos garante recompensas materiais ou espirituais quando o fazemos. Segundo essa visão, dar a Deus é uma questão de fé e de obediência, não de barganha ou de interesse. Deus não é um caça-níqueis que nos devolve mais do que colocamos. Ele é um juiz que nos avalia pela nossa sinceridade e pelo nosso amor. Ele pode nos abençoar ou nos provar, conforme a sua vontade e o seu propósito. Esse argumento se baseia em algumas passagens bíblicas, como: "Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração" (Mateus 6:19-21) e "Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá" (Gálatas 6:7).

Além desses argumentos, há também implicações éticas e sociais envolvidas na questão de dar a Deus. Uma delas é a responsabilidade social dos cristãos em relação aos pobres e aos necessitados. Dar a Deus não significa apenas dar à igreja ou aos ministérios religiosos, mas também dar aos que sofrem e aos que clamam por justiça. Como disse Jesus: "Pois tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram" (Mateus 25:35-36). Dar a Deus é também dar ao próximo, pois eles são imagem e semelhança dele.

Outra implicação é a liberdade individual dos cristãos em relação à sua consciência e à sua situação financeira. Dar a Deus não significa seguir regras rígidas ou obrigações impostas por líderes ou tradições religiosas, mas seguir o Espírito Santo e o seu próprio coração. Como disse Paulo: "Cada um faça como já resolveu em seu coração, sem pesar nem constrangimento; pois Deus ama quem dá com alegria" (2 Coríntios 9:7). Dar a Deus é também dar a si mesmo, pois ele nos fez livres e responsáveis.

Em conclusão, dar a Deus é um princípio financeiro fundamental que pode ser analisado de diferentes perspectivas. Há argumentos bíblicos, lógicos e racionais a favor e contra essa prática. Há também implicações éticas e sociais que devem ser consideradas. O importante é que cada cristão tenha uma visão equilibrada e coerente sobre esse assunto, respeitando a sua ideologia e a dos outros. Como disse Agostinho: "Ama a Deus e faz o que quiseres".