O pomo de Deus ou qual seu propósito?

Quando se fala que Deus tem um propósito para nós, o que isso significa? Significa haver Deus preparado um futuro em que esse propósito se realize? Mas como saber se esse propósito, esse projeto de futuro, de vida suspensa dos caminhos terrenos, se realizará e em quais condições?

Será necessária a vida num mosteiro, num convento, num templo para que Deus nos chegue ou nada disso terá importância se no âmago de nosso ser não há espaço para Deus?

Como saber se o que temos são relatos de experiências vividas e vivenciadas por pessoas que antecedem nosso tempo, porém, através de suas experiências, nos deixaram registros que ultrapassam séculos e que, em certa medida, nos chegam como se tivessem algo ainda de permanência.

Paulo, o apóstolo filósofo, sugere ter experienciado algo que o transformou e de, cuja experiência, resultou todo seu legado. E Santo Agostinho, como não considerar as transformações que passou? De homem quase mundano, transformou -se numa das referências mais importantes da Escolástica. Tantos podem ser os exemplos, mas, penso, ainda assim, a questão se mantém: o que significa dizer que Deus tem um propósito para nós?

Perguntas que se apresentam e que se colocam frente a um desafio. Desafio que consiste: primeiro, tentar entender e aceitar a existência de Deus. Segundo, aceito a existência de Deus, buscar, para entender melhor, se desapegar da crença e, tomado da racionalidade, sem preconceito e sem disparate, com respeito, seriedade e serenidade, tratar do tema com certa distância, isto é, de espírito livre e aberto. Afinal o canto do pássaro só ecoa pela floresta porque nela não há gaiolas. Da mesma maneira, Deus só pode checar se nosso espírito estiver livre e aberto, como um caderno, para que nele se inscreva o que há de vir.

Novamente, o que significa, então, que Deus tem um propósito para nós?

Partindo da aceitação de sua existência, há que se dizer, então, que esse propósito consiste e se constituiu em percorrer nossa existência numa estrada isenta de ideias separatistas ou mesmo exclusivistas. Levar e aceitar uma vida sem o desejo de exclusividade, mais que um desprendimento, significa, em sua máxima possibilidade, entender que nada mais pernicioso que achar-se exclusivo em superiodade a outro.

Se há um propósito de Deus para nós, penso que está em nos possibilitar a prerrogativa do erro. É no erro, penso, que se encontram as fissuras. É no erro que se encontra a maneira possível de se reconciliar e se reconfortar no novo enunciado e anunciado como um novo caminho.

Se o propósito se inscreve na sempre aberta possibilidade de se refazer no embate que se dá entre crença e razão, é permitido afirmar, sem margem para desvio, que o mesmo propósito está naquilo que ao homem se consignou pelo conhecimento. Dessa maneira, se há algum propósito de Deus para com o homem, esse propósito, em oposição à imposição, dogmatizacão, penso, se encontra no coração. É no coração, não no templo, que deve Deus primeiro habitar. Um Deus só possível no templo, é um Deus enclausurado, cercado, prisioneiro dos desejos e interesses de outros homens, que em seu nome, e, quase sempre, contrários às próprias Escrituras, pensam em seus, e só seus, interesses. Esse deus enclausurado, ao contrário daquele que habita o coração, não se inscreve pela fé, mas pelo que essa "fé" pode oferecer.

Um Deus distante do homem, um Deus, assim, mercantilizado, não chega no coração, nesse sentido, esse é um deus morto, pois, ao não habitar o coração, se afasta e afasta àquele que está em sua busca.

E, perdido, como se andasse numa estrada sem fim, o homem, tal qual a criança abençoada pelo caminho, à própria sorte, anda sem saber onde e se chegará.

Daí, retorna a pergunta: qual o propósito de Deus para nossas vidas? Será a busca incessante de sua companhia ou será a luta com nossas mais íntimas dúvidas?

Qualquer que seja o propósito, penso que ele consiste em fazer do homem, para àqueles que o conhecem no coração, tornarem -se seres em que o sentido da vida se resuma em caminhar, caminhar, como se ao fim da linha, como na fábula do arco íris, lá estivesse seu pote de ouro como resultado de sua evolução, noutras palavras, o propósito de Deus, me parece, é bem mais simples, porém, sugestionado por sinais só perceptível por àqueles que o tem no coração.