ECLIPSE DA TRADIÇÃO E DOS SEUS VALORES

Um dos maiores perigos de nosso tempo consiste no fato de pensarmos e agirmos como se não precisássemos de um fundo originário que nos dê algum alicerce ou sustentação. Ou melhor, como se não precisássemos de qualquer tradição como suporte para a nossa caminhada existencial, eclipsando a nossa maneira de ver o mundo e considerar o nosso semelhante e os demais seres vivos.

 

Esse percurso de desconstrução dos valores tradicionais pode conduzir a vida humana a uma verdadeira mazela, ou seja, às beiras do niilismo, da ausência generalizada de convicções espirituais e a tendência a depreciação do que antes era visto como belo, bom e virtuoso nos moldes da ética platônica na tradição filosófica, de um lado; e da ética judaico-cristã na vida religiosa e civil, por outro lado.

 

Podemos ver esse fenômeno em vários âmbitos, como por exemplo, em filmes, séries, novelas e livros, cujo teor de violência às vezes supera até mesmo de nossas expectativas mais pessimistas, não só em imagens sangrentas e vampirescas, mas também em falas blasfemas, arrogantes, ousadas e irreverentes até as raias do absurdo.

 

Se outrora havia a presença dos heróis como fonte de inspiração para muitos jovens; ou até mesmo o exemplo dos grandes homens de fé e gratidão, inspirando e incentivando a vida de comunhão, esperança e coragem, hoje em dia, estranhamente, as fontes de inspiração são os anti-heróis, embora ainda os atos heroicos mais sublimes tenham os seus entusiastas.

 

Em alguns casos, infelizmente, os seres degenerados com tendências psicopáticas, ou os mafiosos com um estilo atraente e sedutor, tambem exerçam um grande fascínio nos coração dos telespectadores, especialmente os mais jovens. Sem dúvidas, uma maneira um tanto quanto nociva para educar a nossa juventude!

 

O mal, o perverso, o inconsequente, já não são vistos frequentemente como perfis a serem combatidos, desprezados e enfrentados; mas são cada vez mais incentivados mediante a presença de pessoas de boa aparência, descoladas, de forte influência social e, lamentavelmente, espertas com seus trejeitos e macetes para explorar imagens poderosíssimos de malandragem, exercendo aquele fascínio na vida de milhares de indivíduos que, para subir no topo da vida social, aprendem a defraudar e trapacear o seu próximo com cada vez menos remorso e temor.

 

O que podemos dizer dos estereótipos e estigmas que carregam aqueles que não se mostram de maneiras tão radicalizadas em sua maneira de se comportar e se vestir? O que podemos dizer da maneira como são retratadas por certas novelas as pessoas religiosas? E o que pensar de certos filmes que estereotipam aqueles que ''ainda'' resgatam a beleza dos valores de sua tradição?

 

Muitos podem ver nesse processo como algo perfeitamente natural, irreversível ou compreensível; porém, não há como negar que exista uma tendência para considerar belo o que traz um perfil animalesco e demoníaco; e o que é bom, o que guarda traços antissociais mediante um perfil vingativo e justiceiro, sem qualquer valor patriótico, religioso ou familiar como fundo arquetípico de certas ações e ímpetos.

 

Um bom exemplo dessa deturpação na cultura brasileira é o que fizeram com o personagem histórico conhecido como Lampião, transformando-o numa figura heroica e num modelo de conduta. Mas sabemos que na verdade ele não passava de um bandido e assassino juntamente com sua quadrilha.

 

Tal tendência não aparece só no Brasil, mas também nos filmes hollywoodianos com toda sorte de depravação, injustiça e perversidade sendo tratadas com doses de louvor e aplausos, atitudes que sempre foram endereçadas aos personagens que conseguiam transcender a sua propria condição, que não eram constantemente retratados na degradação da vileza moral como se fosse algo normal.

 

Nada pior para a cultura do que levantar como heróis aqueles que jamais conheceram o verdadeiro heroísmo da transcendência, da humildade e da liderança que exorta, ama, conduz e rege na direção da luz.

 

A tradição sempre se valeu do heroismo  no campo moral, religioso e espiritual. Ora, resgatar o originário da tradição para a vida comum; resgatar os valores que fundaram as bases das grande religiões e sociedades, é muito mais do que um mero tradicionalismo ou conservadorismo puro e simples, o que pode soar em muitos casos como retrógrado e limitado. É na verdade, encontrar o sentido de missão indispensável para que não nos percamos no vale da desesperança (sem fazermos disso uma ruptura com a realidade de nossos dias) e cheguemos aos nossos verdadeiros objetivos com base no que pode haver de mais perene e indestrutível em nosso ser.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 21/09/2023
Reeditado em 28/09/2023
Código do texto: T7890814
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