CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(15) Para além de Deus e do Diabo: moralidade como projeto humano
A relação entre religião, moralidade e comportamento humano é um tema complexo e controverso, que envolve diversas perspectivas filosóficas, teológicas e éticas. Neste ensaio, pretendo analisar criticamente a ideia de que a religião é a única fonte de moralidade e que aqueles que a rejeitam estão condenados à perversidade e à corrupção. Em contrapartida, proponho uma visão mais inclusiva e compassiva, que reconhece a diversidade de crenças e valores morais na humanidade, e que enfatiza a importância da empatia, compreensão e respeito mútuo.
A ideia de que a religião é a única fonte de moralidade é baseada na crença de que há uma lei divina que determina o que é certo e o que é errado, e que essa lei deve ser obedecida por todos os seres humanos. Essa visão implica que aqueles que não seguem essa lei estão em rebelião contra Deus e são merecedores de castigo. Essa visão também pressupõe que há uma oposição entre os "cristãos" e os "homens do mundo", sendo estes últimos considerados como inimigos de Deus e da verdade.
Essa visão, porém, pode ser questionada por vários motivos. Em primeiro lugar, ela ignora o fato de que há diferentes religiões no mundo, cada uma com seus próprios conceitos de moralidade e de divindade. Como saber qual delas é a verdadeira? Como conciliar as divergências entre elas? Em segundo lugar, ela desconsidera o fato de que há muitas pessoas que não aderem a nenhuma religião específica, mas que se comportam de maneira ética e compassiva, seguindo princípios universais de justiça, solidariedade e dignidade humana. Como explicar a existência dessas pessoas? Em terceiro lugar, ela adota uma abordagem negativa e ameaçadora para promover a fé religiosa, baseada no medo da destruição e do julgamento final. Essa abordagem pode gerar angústia, culpa e intolerância, em vez de amor, perdão e reconciliação.
Diante disso, proponho uma visão mais inclusiva e compassiva, que reconhece que a moralidade não é exclusiva da religião, mas sim uma qualidade universal que pode ser encontrada em pessoas de todas as origens e crenças. Essa visão se baseia na ideia de que todos os seres humanos são criados à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:27), e que portanto possuem uma consciência moral inata, capaz de discernir o bem do mal (Romanos 2:14-15). Essa visão também se inspira na mensagem de amor, perdão e reconciliação presente em muitas tradições religiosas, especialmente no cristianismo (Mateus 22:37-40; João 3:16; 1 João 4:7-21). Essa visão ainda se apoia na reflexão filosófica sobre a moralidade humana, que busca compreender sua origem, sua função e seus critérios racionais (Kant, Nietzsche, Feuerbach, etc.).
Concluo dizendo que é preciso reconhecendo que a moralidade não é exclusiva da religião, basta-nos promover valores universais de empatia e respeito mútuo. Essa perspectiva pode contribuir para uma convivência mais harmoniosa entre as pessoas, independentemente das suas crenças religiosas.