Matriz lógica
A beleza da natureza nos encanta. São padrões escritos numa linguagem universal. Linhas sinuosas e bem desenhadas que acalmam e acalentam o mais raivoso olhar.
Nossas mentes infantilizadas veem com regozijo e espanto! A maravilha portentosa do Cosmo na sua unidade absoluta. Os fenômenos naturais são verdadeiras incógnitas que desafiam a razão humana. Eles nos assustam nos fazem questionar sobre o que há no horizonte distante. E as respostas, ou pelo menos as tentativas de respostas, pululam e são refinadas no limiar do tempo.
A aurora da civilização presenciou indubitavelmente um Homem ainda imaturo, ingênuo e tomado por misticismos. Imaturo porque a sua convivência em sociedade praticamente restringia-se à célula familiar e quanto muito a um clã, mais ou menos estável. Ingênuo, devido ao fato de ainda não ter desenvolvido uma cultura mais robusta, pois vale lembrar que a escrita inexistia, salvo parcos registros mais ou menos estruturados, legados a nós e gravados em ossos e pedras basicamente, nada de muito substancial. Somando-se ao fato de não ser iniciado nas artes da ciência e da especulação, pois a lógica como matriz de pensamento ainda não havia sido gestada. Ato contínuo que devido à contextualização aqui brevemente exposta, corrobora para que inadvertidamente o Homem objeta responder aos mistério do Cosmo, criando e desenvolvendo o misticismo. Consistindo numa forma meio que incipiente de racionalismo para explicar as coisas.
Os mitos objetivam per se, a responder às questões profundas da existência. Haja vista que o Homem, “um macaco nu”, livre em um ambiente natural agressivo, desafiador e deslumbrante, povoado por fenômenos portentosos, como tempestades, eclipses do sol e da lua, terremotos, maremotos, vulcões, enchentes entre outros. E munido de um cérebro igualmente portentoso e de alto poder cognitivo, formule tentativas de respostas para tudo que o cerca, e além, buscar uma resposta para o sentido da vida. Está composto o caldo fértil para o advento dos Mitos e suas narrativas.
E nesta mistura caudal que gestou e concebeu os Mitos das primeiras civilizações, trouxe consigo o arquétipo primário da estrutura lógica, o logos. Esta matriz estruturante que vai desembocar em Zenão de Eléia o pai da dialética por assim dizer. E que com base em uma matriz lógica de pensamento, ensejou constituir de ordem o discurso, a narrativa. Passando pelo polímata Aristóteles nativo de Estagira na região da calcídica grega. Foi ele quem recolheu os saberes referentes ao corpo de conhecimento que se tinha até então da arte argumentativa o logos. Aristóteles então dotou a lógica de uma matriz estruturante, delineando os seus pontos principais, tais como o argumento, a premissa, a proposição, os termos. Todos estes pontos cingidos no que denominou-os de silogismo. Pronto! Estavam lançadas as bases da lógica denominada clássica, que iria povoar e perscrutar as nossas mentes por quase dois milênios praticamente sem grandes e bruscas alterações. Salvo acréscimos valorosos e comentários nem sempre elucidativos dos pósteros do polímata.
Contudo a estrutura conceitual pertinaz a trilha do pensamento Humano é algo legado do passado Grego Clássico. Obra aristotélica! Com contributos benéficos evidentemente, até porque ninguém escala o cume íngreme da razão e da sapiência sem ajuda!
A lógica não é um fim per se, ela constitui-se basicamente numa matriz em que se enquadra o pensamento e o processo de raciocínio. Sendo adaptável e moldável para qualquer área do saber. Constitui-se numa ferramenta polimorfa que pode ser aplicada para tudo quando se trata das questões de razão e da abstração.
A lógica moderna como corpo de conhecimento têm acréscimos que rememoram a Grécia Clássica e perpassam à Era Medieval, estacionando na Revolução Científica do século XVI e XVII, onde ocorreu a sua matematização. Nesta etapa a lógica foi libertada das amaras da linguagem e trilhou um caminho livre. Dando um assim denominado “salto epistemológico” e adentrando nas profundezas da abstração. As sentenças e silogismos outrora declarados em linguagem escrita, passaram a serem representados por variáveis, dando assim um toque sutil e de contornos impessoais. Desta forma a lógica passou ainda mais para o campo da estruturação, deixando de lado às questões de conteúdo dos argumentos, preocupando-se com a “forma” a matriz estrutural do processo inferencial.