APEGO E DESAPEGO

A vida humana é semelhante a um rio que se conforma entre duas margens: o apego e o desapego.

Após uma conquista, a pessoa sente necessidade de mantê-la, apegando-se a ela. Quanto mais difícil for a conquista, maior será o desejo de mantê-la para exibi-la como troféu. Ao possui-lo, a pessoa sente-se mais segura, e a segurança se transforma em costume e em fixação ao objeto conquistado, o que a faz tentar construir, com ele, a sua identidade pessoal.

Entretanto, outros desafios surgirão em sua jornada e ela precisará enfrentá-los, em busca de novas conquistas. Para tanto, precisará desapegar-se de sua conquista passada, para liberar a energia que está investida no troféu, transformado em conforto, dependência, costume ou vício.

Este é o momento do desapego, quando a pessoa precisa desvencilhar-se das amarras que a prendem ao passado, para enfrentar e vencer os novos desafios que irão configurar o seu futuro.

Precisamos aprender com o ciclo respiratório, com sua inspiração e expiração, ou com o ritmo cardíaco, com sua sístole e diástole, ou com o movimento oscilante das marés, ao longo dos dias e noites.

Precisamos aprender a conjugar o apego e o desapego, para que nossa vida desabroche suas potencialidades.

Precisamos perceber quando é tempo de desapegar e de seguir em frente, deixando passar o que conquistamos. Às vezes, nem conquistamos. Apenas recebemos de alguém, que nos cedeu ou esqueceu de retirar, ou de pedir de volta.

Quando as pessoas acumulam, como colecionadoras, momentos de vida, aos quais se apegam sofregamente, elas interrompem o fluxo natural do devir, responsável pela vitalidade do viver.

Assim, tentam prender o que foi bom, como se conseguissem mantê-lo, para sempre, com medo de que o que está por vir seja mal. Esquecem que a sensação, a emoção e o sentimento, que são seus, foram os responsáveis pelo que foi bom. Talvez não saibam que o bom não existe per si, independente de quem o sinta, de quem o julgue. Não percebem que o bom ou o mal falam mais de si do que do outro, ou da situação.

Quando finalmente percebem esta verdade, o fluxo vital se restabelece, deixando fluir os momentos vividos, com a intensidade necessária e a inteireza desejada, frutos do desapego.

Paradoxalmente, ao desapegar viabilizamos o nosso desenvolvimento, o nosso bem-estar e a nossa felicidade, que só florescem no embate entre o apego e o desapego.

Os orientais intuíram a existência destas duas forças, denominando-as de Yin e Yang, construtoras do Tao, isto é, do processo dialético que constitui, mantém e transforma a realidade.

Assim, apegar-se e desapegar-se são expressões relativas à permanência e à mudança, fenômenos antagônicos e complementares responsáveis pela construção do universo, da natureza, da sociedade e das pessoas.