O que acontece na trinca?

AS coisas mais interessantes não acontecem assim, de uma forma que todas as pessoas possam ver com olhos desnudos. São como eclipses solares. Assim, se tentarmos olhar sem ver, o máximo que conseguiremos será um clarão com vestes de areia a incomodar nossas retinas.

Para olhar as coisas lindas da vida, primeiro, é necessário entender que o entender de nada adianta - é que o saber, neste nível de sensibilidade, não pode muita coisa. O saber, a mente, ou qualquer outra forma de captura de nossas intensidades não podem junto com o acesso a esta área da qual falo - a trinca.

É ali que tudo acontece e os detalhes são esparramados feito líquido a escorrer de um vaso rachado. É na trinca que encontramos o esplendor da aurora a manhã de nós mesmos e o qual, sem estarmos neste não-lugar, pensamos ser inexistente. A razão não ajuda, nem mesmo os olhos da face, pois, no momento do encontro com o que vem, já não podem mais enxergar. Para entrar na trinca, é preciso rastejar-se, encontrar meios de contorcer todo o corpo para, de alguma forma, esgueirar-se para dentro - é somente assim, como um cão que vai cavando uma rota de fuga por debaixo da cerca que limita, que conseguimos acessar a trinca.

E o que encontramos lá?

Ora, como vou dizer isso com palavras escritas se a escrita jamais conseguirá capturar o que é, de todas as formas, indescritível ?

Somente ao entrar (sem olhos e com corpo e sem mente e entregue ao acontecimento) torna-se possível responder através de um sentir isso tudo que invade.