CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(25) A compreensão da condição humana como base para a ética cristã
A ética cristã é o conjunto de princípios e valores que orientam a conduta dos seguidores de Cristo, tendo como fundamento a revelação divina contida nas Escrituras Sagradas. No entanto, a aplicação desses princípios e valores nem sempre é fácil ou evidente, pois a vida humana é complexa e cheia de dilemas. Como devemos agir diante das situações que nos desafiam? Como devemos julgar as ações dos outros? Como devemos lidar com os nossos erros e os dos outros?
Neste ensaio, defendemos a tese de que a ética cristã deve ter como base uma perspectiva compreensiva da condição humana, que reconheça as limitações, as intenções e as circunstâncias das pessoas envolvidas em cada situação. Essa perspectiva se opõe à visão rígida e condenatória que alguns crentes fanáticos apresentam, que ignora a complexidade da realidade e se baseia em preconceitos e dogmas. Acreditamos que uma perspectiva compreensiva é mais coerente com o ensino e o exemplo de Jesus Cristo, que demonstrou misericórdia e amor pelos pecadores, sem deixar de exortá-los à conversão e à santidade.
Para fundamentar a nossa tese, recorremos a alguns embasamentos teóricos, tanto bíblicos quanto filosóficos. No campo bíblico, citamos o episódio em que Jesus salva uma mulher adúltera da lapidação, dizendo aos seus acusadores: "Quem dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro a atirar pedra contra ela" (Jo 8:7). Com essa frase, Jesus mostra que ninguém tem o direito de julgar os outros com severidade, pois todos somos pecadores e carecemos da graça de Deus. Além disso, Jesus não condena a mulher, mas lhe diz: "Vai e não peques mais" (Jo 8:11). Com isso, Jesus mostra que é possível perdoar os erros dos outros, sem deixar de orientá-los para o caminho correto.
No campo filosófico, citamos o pensamento de Immanuel Kant, que defendeu que devemos julgar as ações pelas intenções que as motivam, e não pelos resultados que delas advêm. Segundo Kant, a intenção é o que determina o valor moral de uma ação, pois é o que revela a vontade do agente. Assim, uma ação é moralmente boa se for motivada pelo dever, isto é, pelo respeito à lei moral universal. Por outro lado, uma ação é moralmente má se for motivada por interesses egoístas ou contingentes. Portanto, para Kant, devemos avaliar as ações dos outros pela sua conformidade com a lei moral, mas também pela sua sinceridade com essa lei.
Outro pensador filosófico que citamos é Sócrates, que afirmou: "só sei que nada sei". Com essa frase, Sócrates expressou a sua consciência da própria ignorância, que o levou a buscar incessantemente o conhecimento da verdade. Sócrates reconhecia as suas limitações e as dos seus interlocutores, e por isso usava o método dialético para questionar as opiniões alheias e expor as suas contradições. Sócrates buscava a sabedoria com humildade e honestidade, sem se deixar levar pela vaidade ou pela arrogância.
Por fim, citamos Mahatma Gandhi, que disse: "o futuro depende daquilo que fazemos no presente". Com essa frase, Gandhi ressaltou a importância da responsabilidade individual e coletiva na construção de um mundo melhor. Gandhi defendia a não-violência como forma de resistir à opressão e promover a justiça. Gandhi acreditava que a mudança social começa pela mudança pessoal, e que devemos ser coerentes entre o que pensamos, dizemos e fazemos.
Em conclusão, propomos que a ética cristã deve ter como base uma perspectiva compreensiva da condição humana, que leve em conta as intenções, as circunstâncias e as limitações das pessoas envolvidas em cada situação. Essa perspectiva se baseia no ensino e no exemplo de Jesus Cristo, que demonstrou misericórdia e amor pelos pecadores, sem deixar de exortá-los à conversão e à santidade. Essa perspectiva também se apoia em alguns embasamentos teóricos, tanto bíblicos quanto filosóficos, que nos ajudam a entender melhor a realidade e a agir com sabedoria. Essa perspectiva nos convida a ser mais compreensivos e menos condenatórios, mais humildes e menos arrogantes, mais responsáveis e menos indiferentes. Essa perspectiva nos desafia a ser mais cristãos.