Em que medida a ideia nos ajuda a acessar a obra de Arte? - Breve ensaio
Em que medida uma ideia, ela em si, algo abstrato, impalpável, pode contribuir para que nós, simples e limitados mortais, poçamos acessar uma obra de arte? Para facilitar o entendimento, vamos estabelecer o consenso de que obra de Arte será toda e qualquer manifestação advinda das mãos de outrem (uma pintura, um poema, uma música, só para citar esses três tipos de representação). Será isso como partida para um primeiro entendimento, todavia, vamos estabelecer que obra de arte será também aquilo que toca nosso mais íntimo sentimento. Será tudo, sem que consigamos explicar, que nos chega e nos toca, primeiro no pensamento e depois no coração, e faz com que fiquemos, por mínimo tempo que seja, absortos com o que estamos a apreciar. Assim consensuado, retornemos ao que falamos no início: em que medida a ideia nos ajuda a acessar uma obra de Arte?
Penso que uma resposta possível, e provavelmente não preencherá por todo a lacuna que a obra de Arte não é qualquer manifestação artística, bem o contrário, é seguida, na maioria das tentativas de explica-la, de muita falha, na medida em que trata -se de apenas, e nada mais, de uma simples conjectura. Normalmente, o que se tem são apenas impressões, sem qualquer plausibilidade acadêmica. Assim, penso que a ideia contribui para nosso acesso à uma obra de Arte, quando, - e claro, repito, são só conjecturas, fracas possibilidades de ser uma resposta precisa - quando nos deparamos com a ideia sem qualidades concretas, isto é, apenas esparsas formações mentais sobre um determinado objeto, o que temos são só fragmentos de algo ainda indefinido, ainda abstrato, algo ainda em formação em nossa mente.Somente quando, e não se pode precisar em que momento isso ocorre, a ideia do objeto, isto é, no instante em que se começa o processo mental de algo, que antes era ideia abstrata, somente quando esse fragmentos vão se unindo, se juntando, se amalgamando, é que vamos tendo, quer dizer, desenvolvendo, a junção do abstrato que se transforma num objeto concreto. Mas... como isso ocorre? Ocorre quando retiro da natureza algo que eu não havia concebido, mas que estava lá, numa parte escondida do meu cérebro, e eu acessei e, ao misturar com a ideia, ainda abstrata, pude conceber, ai sim, um objeto concreto a partir da retirada de algo que estava na natureza, que eu desconhecia, e que ao me apropriar e misturar com a ideia (etérea, digamos assim) ql eu pude, fragmentariamente, conceber, pude, ao fim e ao cabo, dar existência concreta ao objeto antes ignorado. Talvez, e só talvez, seja esse instante, digamos, imperial, que a ideia, já se associando a um objeto, somente nesse instante, é que a ideia começa a sair do campo do ideal, do imaginado, para se abrigar numa nova forma de existência.
Mas... quando a ideia contribui para acessarmos a obra de Arte? Quando ao se misturar com o objeto retirado da natureza e já nas mãos do artista, seja um quadro, um poema, enfim , quando alguém, dotado de um talento próprio de trazer à luz (e ao nosso coração) algo que estava num determinado espaço (mental ou mesmo depositado na natureza) e que só passou a ter significado de Arte na medida que tocou regiões mentais, e mesmo fisiológicas, que um certo rebuliço se deu em nosso modo de observar coisas que antes poderiam ser ignoradas, não fosse a destreza do artista e a disposição do observador em dedicar parte de seu tempo para apreciar o que chegou a seus olhos ou sentidos. É nesse instante, ou seja, no preciso momento quando se concebe, pela Idea, algo que ainda não temos clareza, mas temos a ideia em toda sua abstração e característica própria, porém, ao nos depararmos com essa primitiva constatação, primitiva porque ainda desconhecida pelo intelecto, é que poderemos conceber o objeto ainda disforme e ignorado pelo nosso campo cognitivo. Ou sega, nesse momento ainda somos meros mortais ignorantes das nossas capacidades de criar e reconhecer o fruto de nossa criação como uma obra de Arte. Essa nossa incapacidade decorre diretamente da nossa condição primeva de se relacionar com o mundo ao redor, todavia, tendo a noção clara de que nem tudo que reluz é ouro, como, nem tudo que parece Arte, o é, no sentido mais abrangente do terno. O resto? Apenas novas possibilidades de aprendizado.