MORO NUM PAÍS TROPICAL
“(...) Deixa a tristeza pra lá, vem comer, me jantar
Sarapatel, caruru, tucupi, tacacá/ Vê se me usa,
Me abusa, lambuza/ Que a tua cafuza/ Não pode esperar. (...)”
Estas composições musicais a primeira de Jorge Benjor (1969), a segunda de Chico Buarque & Ruy Guerra,” Não Existe Pecado ao Sul do Equador” (1973) e mais Levy Strauss em “Tristes Trópicos” (1955) buscam por nossa “Identidade Nacional”. Oscilando entre “o país tropical abençoado por Deus” e o “complexo de vira-lata”, resta para os pobres (negros, brancos, indígenas) o constante estado de fraqueza, a vulnerabilidade denunciada em “Tristes Trópicos”. Afinal de contas, quem é o “povo brasileiro” subjugado aos “valores” do passado colonial, escravista, monárquico e o constante desprezo das elites dominantes? É provável que nunca decifrem este enigma, mas vamos optar pelo enfoque histórico de momentos significativos do país.
Período do Nacional Desenvolvimentismo no Brasil -De 1955 a 1959 o Ministro da Guerra era o Marechal Henrique Teixeira Lott, época da proposta trabalhista na defesa da legalidade, democracia e nacionalismo. Liderou em 1955 o contragolpe para garantir JK no poder. Em 1960 foi candidato à Presidente da República e João Goulart à vice. Esta chapa PSD/PTB aglutinou as esquerdas militares e civis. Na disputa ganhou a Direita udenista com Jânio Quadros, presidente e vice o trabalhista João Goulart. O presidente renunciou em 20 de agosto de 1961. As forças conservadoras apelam para uma tentativa golpista apoiada pelos Ministros Militares. O golpe só não ocorreu pela mobilização civil e militar liderada pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, com a Campanha pela Legalidade, em defesa da Constituição de 1946.As massas fizeram recuar os golpistas, mas a posse de Goulart foi alterada pelo Parlamentarismo. Somente em 1963, continuando as pressões populares, um plebiscito, fez voltar o Presidencialismo. Em 1962 promulgou a Lei De Remessa de Lucros, e o projeto de Política Externa Independente sob a batuta de San Tiago Dantas. Após, 1963, o Plano Trienal de Celso Furtado, Ministro do Planejamento. E, as famosas “Reformas de Base”: a Agrária (abaixo o latifúndio improdutivo), a Tributária (progressividade fiscal), a Eleitoral (voto do analfabeto), a Bancária, a Urbana, a Educacional. Ele se notabilizou por seus comícios memoráveis no Automóvel Clube e na Central do Brasil. Os governos trabalhistas tiveram a adesão de intelectuais de vanguarda todos empenhados em dar força ao “nacional-desenvolvimentismo” que permitiria o rompimento da dependência estrutural. Entre os já citados temos Milton Santos, Muniz Bandeira, Nelson Werneck Sodré, Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Hélio Silva e tantos outros progressistas e marxistas. As contradições aumentaram por conta do governo que assumiu os interesses das classes populares e de um Brasil Soberano. Veio o Golpe Militar de 1964.
Período do Neoliberalismo – Após a Ditadura Militar (1964- 1985) vários governos civis se sucederam, mas nosso foco é comparar o período que descrevemos com os Anos 20 do século XXI tempo de crise e transição do neoliberalismo à extrema direita. O Brasil sempre funcionou de forma “reflexa”, típica de países dependentes que se sujeitam às determinações externas. Desse modo, lutar pela soberania do país é um “anátema” seja com ditadura ou com democracia. A década de 20 (séc.XXI) modifica a polarização dos “anos dourados”, pois agora é a extrema direita mundial que defende a soberania dos seus países, enquanto a esquerda perde o rumo e se curva aos grupos que lideram o ocidente com o “totalitarismo neoliberal”. É um processo que poucos viveram de involução capitalista.
Bolsonaro (1919-1922) provocou em seu governo uma permanente reviravolta com a revogação de projetos, instituições e empresas que marcaram o processo de modernização do país, com um discurso falacioso antissistema e de combate à corrupção. Um estilo original de “extrema direita tupiniquim” que com suas bizarrices galvanizava toda a sociedade – das elites sem consciência crítica, à classe média sedenta por alpinismo social e setores do povão que viam em suas atitudes um “novo salvador da pátria”. As massas cansadas de ter fé na melhoria de vida prometida pelos políticos, bateu palmas para a “malandragem”, sinal de inteligência do brasileiro, como os seguidores diziam, “é gente como a gente”. A classe média em ascensão e os novos-ricos viram a concretização de um Brasil com um Presidente/Mito. O bolsonarismo é uma variação do “culto à personalidade” e do fanatismo político.
Seu sucessor Lula da Silva, em seu terceiro mandato (2023-2026) reafirma o seu papel costumeiro de “presidente assistencialista”, e sua posse recente não garante avaliações apressadas. Entre desavenças com o Congresso no toma lá dá cá e mudanças no Ministério apresentou o “Arcabouço Fiscal” (Haddad) e o “Pacote da Democracia” (Flávio Dino) muito bem recebidos pelo neoliberalismo. Entretanto, mantém o discurso em prol do nacional/desenvolvimentismo. Sem projeto definido e lutando para manter a maioria no Congresso, vamos dar tempo ao tempo, ao estilo de São Tomé.
Nas “lives” de Pepe Escobar (2023) expert em geopolítica, até hoje, os símbolos de uma resistência global aos USA foram Cuba, Afeganistão e agora Rússia (esqueceu do Vietnã).O Brasil que se projeta ao sul do Equador, pode encontrar barreiras em suas iniciativas de política externa independente, por conta dos bloqueios imperiais. A Europa pressionada com a Guerra na Ucrânia, já é um território ocupado. Como Fênix, vamos ressurgir das cinzas, ou corremos o risco acelerado de continuar o retrocesso ao modelo colonial? O mundo diante da disputa entre o velho Império e a nova Eurásia sofre turbulências que nos levam a um futuro incerto.