HOMO HOMINI LUPUS

O Lobo é o símbolo da natureza selvagem, inescrupulosa, sem qualquer conexão com a ideia de criação onde o mundo é concebido para servir o Homem.

O Lobo é o amálgama do terror que inspirado pelas feras oprime o coração e mente humanas. É o perigo sempre rondando à espreita, furtivo e malicioso, com olhos amarelados refletindo o opaco luar, o predador feroz que nunca se sacia e que ao provar carne humana vicia-se nela e passa a salivar e rosnar faminto e insano caçando sua presa para provar uma vez mais o seu sabor profano.

O raptor de bebês, o carrasco dos idosos, sempre preseguindo os mais fracos, oportunista maligno esperando qualquer brecha ou distração para atacar. Basta um erro e terá que se carregar para sempre a consequência de ter baixado a guarda.

Uma chance é tudo o que o Lobo precisa para dilacerar famílias, destruir casais, acabar com linhagens e eliminar a sabedoria ancestral.

Uma ameaça constante à tribo e ao rebanho, o lado indomável do melhor companheiro do Homem, o cão. Ele é um saqueador que tem prazer em tirar a vida do seu primo traidor que guarda a morada dos seus senhores humanos rasgando-lhes a garganta e banhando-se no sangue do mastim ou pastor. Não há misericórdia para os que aceitam a submissão e subserviência. Se os cães auxiliam os homens na caça, o Lobo mata os cachorros por esporte.

Fiel somente à sua matilha e aos seus instintos de caçador, senhor das florestas e inimigo declarado da humanidade e tudo que ela representao Lobo é a personificação do mal, o demônio encarnado que deseja a aniquilação da humanidade para tomar a Terra para si. A barbárie contra a civilização. A negação da ordem, o caos absoluto.

Suscetível às fases da lua, amante das trevas que em coro aterroriza a noite e conclama a seus irmãos para celebrar a magia primordial dos recantos perdidos dos ermos. Sua irmandade os torna guerreiros implacáveis que reinam sobre as demais criaturas. Seu reino é o mundo.

Mesmo os predadores maiores temem confrontar a matilha, sua tática em grupo, feroz e irascível os torna inimigos imparáveis que contrapõem em números mesmo os maiores e mais fortes opositores. Até um leão contra os Lobos sorridentes da África não tem chance. Um urso pode derrubar vários Lobos, mas não consegue salvar seu filhote das garras e presas da matilha.

Os Lobos são pais protetores, nenhum filhote fica para trás. O ataque à cria é um ataque a toda a matilha e demanda retribuição em forma de vingança. Não há crime maior para um Lobo do que derramar o sangue e abater um filhote seu.

Cada filhote é a promessa da continuidade do Lobo no mundo. Do frio congelante ao bosque úmido às planícies escaldantes o Lobo é o herdeiro direto do mundo e o maior ressentido dos homens, suas tribos, clãs e cidades. Um Lobo pode abater um cordeiro aqui e ali de vez em quando, mas os homens os chacinam às centenas.

Esquece-se que o Lobo mata por fome, o Homem cria uma nova geração para garantir a aniquilação perpétua da espécie.

Não há muros para o Lobo, não há fronteiras para seus domínios. E ao conviver com o Homem o Homem acabou por algum momento, ao deixar carcaças para trás, chamando a anteção do Lobo que o seguiu até o momento que uma parcela destes animais acabaram por serem convencidos da comida fácil e deixou-se domesticar.

Por outro lado o Lobo enfureceu o Homem. Nós ensinamos obediência, disciplina e submissão ao animal e aprendemos com ele descontrole, loucura e crueldade. Assim nos tornamos o nosso próprio Lobo. Civilizamos o animal e perdemos a nossa humanidade no processo. Nos tornamos animalescos.

O Homem é o Lobo do Homem.

O Homem é o Lobo do Lobo.

O Homem é o Lobo de tudo que vive.

E de tanto lutar e derramar o sangue um do outro acabamos nos fundindo em uma maldição de ódio mútuo. Ao sabor do luar somos convidados a dançar e cantar na madrugada nas clareiras como os nossos inimigos jurados. Porém somos mais sórdidos que os selvagens predadores pois destruímos a natureza, o Lobo e a nós mesmos. Matamos nossos filhotes, nossas fêmeas, nossos anciões.

A loucura nos envenenou e não sabemos mais quando parar.

Ao provar a nossa própria carne e sangue nos viciamos tal qual as feras que tememos.

Aprendemos a domesticar o semblante em sorrisos, entretanto rosnamos e mostramos os dentes por dentro, ensandecidos, na alma.

Sonhamos em aniquilar os que nos oprimem e oprimimos os demais para nos sentirmos mais fortes.

Nos traímos.

A corrupção nos fez perder a essência natural e nos tornamos ferais.

Famintos insaciáveis.

Se os animais tivessem religião o Homem seria o Diabo.

Porque se Jesus é o Cordeiro de Deus...

...o Homem é o Lobo de Deus.

José Rodolfo Klimek Depetris Machado
Enviado por José Rodolfo Klimek Depetris Machado em 10/07/2023
Código do texto: T7833849
Classificação de conteúdo: seguro