Todo trabalho é digno?

Semana passada ouvi mais uma vez o dito popular “todo trabalho é digno”. Veio-me a mente a dúvida sobre o que realmente é ou deve ser considerado trabalho? Descobri que há muitos significados, como atividades realizadas com alguma finalidade que podem ser remuneradas ou não. Sendo assim, existem trabalhos voluntários e aqueles em que ocorre alguma relação de troca, quase sempre algo por dinheiro, tal como o tempo, a força braçal, o talento e etc.

Mas quando alguém é forçado a realizar uma atividade com algo ou não em troca se diz que isso é um trabalho forçado, certo? Então, podemos ir mais além? Por exemplo, quando algum tipo de punição é atribuída tem-se um trabalho escravo, e trabalhar por muitas horas e receber pouco também não é?

Supondo que o brasileiro ganhe mil reais por vinte dias trabalhados, cada dia corresponderia ao recebimento de cinquenta reais; considerando oito horas de trabalho diário, tem-se uma remuneração por hora de seis reais e vinte cinco centavos. Quanto está custando os pães da padaria e os remédios da farmácia? Será que dá para manter a manutenção da máquina e ainda ter troco para o lazer do final de semana? Embora ganhe mais que a nossa simulação, é o suficiente? Pois caso seja, não me parece haver uma relação direta entre a remuneração e a dignidade do trabalho.

Bem, “todo trabalho é digno”, continuo pensando desde aquele dia até hoje, questionei-me os significados desse ditado. Nada obstante, todo trabalho é digno ou é digna toda pessoa que possui um trabalho? E se o trabalho for forçado ou escravo, continua sendo digno? Não, porque a dignidade do trabalhador está sendo ferida nesse caso. Ah! Quer dizer que nem todo trabalho é digno? Exato, e nem toda pessoa que possui um trabalho é digna?

Se um indivíduo anuncia subtrair a vida de outra pessoa em troca do que seja, é um trabalho? Ouvi dizer que sim. Nesse caso é o trabalho, o trabalhador ou ambos que não são dignos? Ambos porque ferem a lei e a moral. Certo, ferir o outro não é legal e moralmente aceito como um trabalho, mas e se um indivíduo adulto e consciente de seus atos anuncia ceder o próprio corpo em troca do que seja? Neste caso é legalmente permitido e moralmente repudiado por muitos.

Então, para que um trabalho seja digno, precisa obedecer a lei e a moral? A lei sim, mas a moral torna-se relativa, como no exemplo de uma troca consentida do corpo por dinheiro. Foi nisto que pensei antes de chegar ao meu destino: Acho que nem todo trabalho é digno. Dizem que é só a forma de falar, mas é só na forma de falar (dizer por dizer sem pensar) que as más interpretações vão ganhando espaço no nosso subconsciente e quando nos damos conta já dissemos também que “todo trabalho é digno”.