Platão x Kant - um ensaio quase filosófico

O que significa o ser-em si-e-para si se não um convite à reflexão. Ora, ora, essa premissa, originalmente, colocada por Platão, mais do que um bem articulado jogo de palavras, expressa, imprime e exprime, uma compreensão do que possa ter sido a equação do conhecimento a priori, proposta por Kant, séculos depois. Será?

O ser em si e para si, me parece algo oposto a proposta de Kant. Todavia, não posso, sob risco de parecer intelectualmente leviano, afirmar o que só vejo à superfície. Desta maneira e, repito, para não parecer intelectualmente leviano, me limitarei em dizer que o que segue (e nisso deposito toda minha disposição em ser contrariado), que não não me assusta opiniões contrárias. Bem o contrário, ao se me apresentar uma nova interpretação, já antecipo, serei eu o agraciado, pois, ao se me deparar com novas proposições, terei eu o privilégio de aprender e apreender outros elementos que eu não os havia notado.

Pensar o ser em si e para si, ao contrário do conhecimento a priori, me leva a pensar o objeto em sua extensão, em generalidade, não como algo isento de particularidades (e que poderiam lhe dar outro significado), mas, como um meio de se atingir, através da generalidade, a essência desse objeto. É como se, para uma conceituação mais precisa, e, portanto, menos sujeita às influências que somente os detalhes podem exercer.

Sustentar essa premissa da generalidade como coluna vertebral do conhecimento possível de um objeto em sua essência, não nos impede de reconhecer, e sempre haverá, que certas particularidades, mesmo não consideradas na avaliação da premissa, detém, ainda que insipiente, sua participação no todo essencial do objeto. Nesse aspecto, negar os particulares aspectos do objeto, me parecem tão fundamentais se se ter em mente a busca por uma generalidade que servirá de sustentação para o conceito do próprio objeto.

Dito de modo menos generalista. Se o ser em si indica algo de vazio, isto é, sem relação com nada que lhe dê significado, porque, sendo vazio, nada lhe compõe, nada lhe dá "substância" , há que se considerar que enquanto ser em si, e nada mais, pressupõe algo que lhe será componente, daí, teremos o e para si. É nesse instante que o ser em si (que era vazio) para a ter consciência (para si) e o vazio, antes característica fundamental da coisa sem substância, sem significado, passa ser e dar à própria coisa uma consciência de si que antes não tinha. Noutras palavras, o que antes era o Vazio, deixa de sê-lo no instante que toma consciência de si. Essa transformação dá existência ao objeto antes ignorado. Por esse processo, o objeto, a coisa, adquire e se relaciona numa disputa, senão compartilha, uma interação dialógica, em constante embate. Ao contrário do ser em si que é porque é, uma posição de inércia, vazia. Em si mesma, porque, ausente de outras relações. E, enquanto vazia, sem significado e sem substância, nada mais é que algo a espera de consciência para que adquira relevância.

Em Kant, penso que o conhecimento a priori, difere de ser em si, porque àquele, há algo que, ainda que no nível da idéia, já exista. Há, no nível da idéia, uma Ideia primeira do objeto, isto é, ainda que possam existir vários tipos de cadeira, por exemplo, há uma Ideia, digamos, universal de Cadeira. É como se existisse uma Cadeira e as demais fossem apenas substratos dessa cadeira Modelo de todas as outras.

Então, o que há de comum no ser em si e para si(Platão) e o conhecimento a priori, de kant?

Ambas propostas trazem, e isso as une, a busca pelo conhecimento, fazem um convite à reflexão, isso basta.