HISTÓRIA DE VIDA E TESTEMUNHO

Nada melhor do que se dispor para contar a própria história e fazer com que ela sirva como um maravilhoso testemunho de vida, sabendo que ela de alguma forma constitui o que somos hoje e nos dota de joias de experiências para o que fazemos e criamos no presente, ainda que pretendamos negá-lá ou nos envergonhemos dela.

 

Hannah Arendt diz maravilhosamente que toda dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história. É por meio de um testemunho de vida que conseguimos ressignificar as lembranças angustiantes de um passado que nos trouxe tanto sofrimento, podendo inclusive mudar os rumos de nosso entendimento da vida no presente e, principalmente, no porvir.

 

 Discernindo que o sofrimento pode profundamente nos ensinar e nos transformar, podemos encarar a nossa história como um quadro incompleto que permite inúmeras interpretações de significados e insights de acréscimos, história essa cujos enredos futuros são passíveis de novos aprimoramentos e perspectivas.

 

 É pelos fatos de nossa história que aprendemos a nos conhecer e, muitas vezes, a não repetir os mesmos erros do passado. As nossas escolhas futuras também são embasadas, ainda que de forma mínima, em nossas vivências do pretérito, sendo portanto um componente de nossas motivações do agora. No entanto, a nossa história não é só feita de erros; ela é também um caminho percorrido de sonhos, projetos, amizades, amores e descobertas que sempre tem a nos ensinar.

 

 Cada memória existe o sentido de uma experiência, como por exemplo, de um cheiro, de um gosto, de uma conversa, de um música, de uma felicidade, etc. Então cabe a linguagem (a casa do ser como dizia Heidegger) ordenar tais fenômenos de uma maneira toda especial e com uma riqueza ontológica peculiar. Nós não somos apenas o que nos fizeram como já bem dizia Sartre; somos, outrossim, o resultado dos aprendizados que repercutem até nos dias mais atuais, e também muitos acontecimentos de nossa tenra idade pode gerar uma influência em nossas tonalidades afetivas.

 

E cada relação interpessoal que criamos, há um pouco de nossa essência, na qual pode ser importante para o desenvolvimento de outro ser. Mas o que é  também evidente, é que guardamos muitos resquícios gestuais e comportamentos de nossos semelhantes, repercutindo em nosso mundo mnemônico e até no campo da imaginação.

 

Fazer a nossa própria história é não só concretizar as nossas ações no tempo sem qualquer impedimento ou limites, mas dar um colorido especial também para os acontecimentos que foram inevitáveis em nossa existência, aqueles nos quais não tivemos uma participação mais ativa. O que fazemos desses acontecimentos é que faz toda diferença. E qualquer um que queira viver a liberdade da sabedoria de vida, tem ao seu alcance o palco de sua história para testificar os significados de suas idas e vindas, encontros e desencontros, em meios aos acontecimentos que enriquecem, marcam e singularizam a historicidade de cada ser humano.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 28/06/2023
Reeditado em 28/06/2023
Código do texto: T7824368
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