Quem sou eu?

                                                             

Na Biblia -  Exodus 3:14 - Deus diz a Moisés: “Eu Sou o que Sou... diga aos israelitas que Eu Sou te mandou a vocês”.

 

Esta expressão denota a natureza eterna, auto existente, infinita e sem identidade, de Deus. Até mesmo o pronome - “Eu” - e o verbo na primeira pessoa – “Sou” - apenas aparecem porque a linguagem humana não consegue expressar tal nível de abstração.

 

Como seres humanos, somos portadores da centelha divina - gotas de um mesmo oceano. Então, do ponto de vista do espírito que habita em nós, podemos responder à pergunta: “Quem sou?” da forma como Deus respondeu a Moisés: “Eu Sou!”

 

No entanto, no nível da personalidade – corpo e alma (sensações, emoções, sentimentos e pensamentos) - cada um tem uma identidade, e um tempo limitado de existência. Não me refiro aqui ao seu, RG, CPF e à sua idade cronológica, pois isto apenas se aplica à sua identidade social.

 

Me refiro sim à sua identidade como um ser existindo na multiplicidade, diferenciado em tantos aspectos de seus semelhantes. E, quanto à sua existência - enquanto alma - ela vai além da morte física, mesmo não sendo eterna. O espírito, este sim, é eterno.

 

Suponha que nunca lhe tivesse sido atribuído um nome, uma profissão, um estado civil, um endereço, uma nacionalidade...como você se identificaria? Talvez pelas suas características físicas únicas (DNA) e pelas suas sensações, emoções, sentimentos e pensamentos singulares impossíveis de compartilhar - a não ser na forma de um padrão socialmente aceito – por serem eles o último reduto de sua individualidade e de sua privacidade.

 

Independentemente da complexidade implicada, esta seria, sim, uma forma acurada de auto expressar a individualidade de cada um. Digo auto expressar porque os elementos nela evolvidos, em sua essência, somente são perceptíveis pelo indivíduo que os possui, embora em sua manifestação possam ser interpretados – e apenas interpretados -  pelos demais.

 

Nesta hipótese, a resposta à pergunta: “Quem sou eu(?) ” estaria na identificação das características físicas e na natureza dos aspectos emocionais e mentais da alma de cada um.

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Mas eu ainda creio que este não seria o cerne da identificação da personalidade. Quando vejo o ser humano como um vórtice em ascensão através do processo de evolução da consciência - a partir dos corpos mais densos até os mais sutis – eu enxergo sua identificação na frequência vibratória que prevalece na origem de suas motivações.

 

Assim, quando a frequência vibratória não consegue ultrapassar o nível da busca pelo prazer e fuga da dor, é neste limite que reside a base da identificação do indivíduo. O mesmo ocorre quando a mente racional é a fronteira da frequência vibratória na alma, ou quando o afeto e a adoração se impõem como bloqueio à vibração energética em frequências superiores.

 

Quando adquirimos consciência, nosso espectro de frequência vibratória aumenta, permitindo-nos vivenciar energias desde as de mais baixa frequência, até aquelas que o novo patamar de consciência permite. É o nosso livre arbítrio que expande seu alcance a uma amplitude cada vez maior.

 

Mas o ego - senhor do livre arbítrio - é atraído pelas motivações de maior frequência vibratória, às quais tende a aderir - como uma boia que se eleva a cada elevação do nível da água em que flutua. Uma boia pode transitar por vários níveis de profundidade do oceano – dependendo da pressão que se imponha – mas ela prefere a superfície da água.

 

Um ego consciente - como a boia - já fez suas escolhas essenciais.

 

O ser humano é a representação da mais alta frequência vibratória em que se manifesta seu instinto, sua força motriz, sua mais pungente motivação. E, o instinto, como força motriz, não se define como um impulso desorientado do ego. Apenas quando o instinto se ancora num ego inconsciente é que ele estará fora da orientação do espírito. Mas, quando o instinto reside no espirito, ele será a força inexorável, o impulso propulsor orientado pelo Amor pela Sabedoria e pelo Poder criador.

 

O desenvolvimento da consciência altera o status de nossa identificação (quem eu sou). A cada passo na caminhada da evolução espiritual, somos pessoas diferentes, mais conscientes, capazes de vibrar em frequências superiores.

 

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Ao nível do espírito, os seres humanos em sua essência trina - a Mente Universal (Manas, Sabedoria), o Amor Universal (Budhi) e a Totalidade do SER, o Poder Absoluto como Vontade Consciente Criativa (Atman) – não se diferenciam; Todos os seres humanos são da mesma natureza eterna de Deus, auto existente, infinita e sem identidade. São os Homens feitos à Sua imagem e semelhança. O espírito nos seres humanos só se diferencia quanto ao grau em que a consciência de cada um se aproxima dele.

 

Mas, nossos sentimentos, mesmo os mais sublimes e extáticos que guardam estreita conexão com o espírito, não devem ser confundidos com o espírito em si. Sentimentos, de qualquer frequência vibratória pertencem ao corpo emocional, à alma e, portanto, devem ser incluídos no cardápio dos atributos de nossa identificação na multiplicidade, no nível da personalidade:

 

“Entre tantas outras características que me definem, eu também sou a ressonância emocional da suprema frequência vibratória emanada do espírito, que ecoa como êxtase em minha alma”.

 

Mesmo quando sentimos o Amor sublime, ou quando refletimos profundamente e anunciamos a Sabedoria cósmica, ou ainda, quando exaltamos o Poder criativo - todos atributos do espírito - ainda assim, estamos manifestando sentimentos e pensamentos, a partir de nossa alma.

 

O êxtase que aflora como um sentimento transcendente nestes momentos é o reflexo no plano emocional – que reside na alma - de seu enlace com o espírito. O êxtase em si é apenas um sentimento; aliás ele pode ser causado por drogas e por manipulações emocionais mal-intencionadas.

 

Mas, mesmo que autêntico, este sentimento não tem a frequência vibratória do espírito ele mesmo. Esta é de tal magnitude que não poderia ser suportada pelo corpo emocional que, na matéria, se ancora no sistema nervoso humano - da mesma forma que, embora nos deleitemos com a luz e o calor do sol, sem os quais não poderíamos viver, isso ocorre a uma distância de 150 milhões de quilômetros.

 

 Sentir Amor – vibrar na alma - não é ser Amor – vibrar no espírito. O sentir Amor é um atributo da alma, que não suporta a vibração direta fulminante do espírito; o ser Amor é um atributo do espírito que se irradia, como o sol irradia sua luz. Quando formos os atributos do espírito seremos o próprio sol que iluminará e aquecerá o planeta. Neste ponto, a altíssima frequência vibratória do espírito será o nosso porto seguro, assim como a temperatura extrema do sol é seu habitat, é a sua própria natureza.

 

Isto nos faz refletir que o processo de evolução implica no desapego inclusive dos sentimentos - “eu sinto” – por mais sublimes e extáticos que sejam – para transmutá-los em: “Eu Sou”.

 

Desapegar-se dos sentimentos, no entanto, não significa reprimi-los ou rejeitá-los. Pelo contrário, eles devem ser bem-vindos e, principalmente, observados, quaisquer que sejam suas frequências vibratórias.

 

Os sentimentos são os canais que conectam a alma ao espírito, pois, nestes canais - quando desobstruídos – se estabelece um intercâmbio de energias. Os sentimentos de alta frequência, que ecoam na alma a partir do espírito, conseguem “ver” o espírito, mesmo que de muito longe, enamorando-se dele. É nesse impulso de entrega que o sentir se transmuta em ser, que a consciência, ancorada nos corpos inferiores - eu percebo, eu sinto, eu penso - assume sua forma essencial – Eu Sou!

 

Então, ser os atributos do espírito, não exclui senti-los. O campo emocional sempre irá ecoar - em suas mais elevadas frequências – o que formos no espírito. Desapegar-se dos sentimentos significa apenas reconhecer que eles não são o último degrau; não são um fim em si mesmos.

 

Assim é que para sermos Amor, Sabedoria e Poder Universais, como atributos cósmicos, precisamos elevar a sede de nossas motivações compulsivas mais profundas e autênticas – nossos instintos - ao nível do espírito.

 

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Quando, o impulso irrefreável de nos doar em serviço - a quem necessite compartilhar de nossas bênçãos - prevalecer sobre o instinto da busca do prazer e fuga da dor, seremos o Amor, mesmo que em nossas vidas o momento seja de tristeza e sofrimento;

 

Quando, o ímpeto convicto de atuar e nos expressar conforme nossas verdades e nossos valores mais profundos prevalecer sobre as decisões fáceis e palatáveis, seremos a Sabedoria, mesmo que representando apenas uma pequena fração da Sabedoria Cósmica;

 

Quando, a despeito da voz corrente, da crença vigente e da verdade instituída, rompermos com a tradição supérflua e arcaica para - como uma criança não reprimida - dar asas à livre criatividade, seremos o Poder Criativo, seremos cocriadores, parceiros do próprio Deus.

 

...No entanto, o instinto (anseio inexorável) atuando no nível do espírito somente será íntegro se avançar nas três frentes simultaneamente. A tríade: Amor, Sabedoria e Poder Criativo - como motivação transcendente - se desvanece na ausência de qualquer um de seus elementos:

Não há “Eu Sou” sem Amor, ou sem Sabedoria, ou sem o Poder de manifestá-los...