Escritora principiante revisando o texto

— Oiee, Ísea! Hora de dormir, não dá para seguir madrugada adentro lendo e relendo, trocando vírgulas de lugar! Vai dormir, porque preciso descansar. Afinal não é você que tem de acordar cedo, para ir trabalhar! É este “corpitcho” aqui, que te carrega...

— Só mais um minutinho, só mais um parágrafo, só mais um capítulo — Ísea sussurra dentro de mim, fazendo força para que eu mantenha as nossas mãos (minha e dela ao mesmo tempo) sobre o teclado.

— Mas aonde você quer chegar, criatura? — Já estou meio irritada, com sono e o corpo dolorido.

— Aonde quero chegar? Ainda não sei...

— Mais um motivo para ir dormir, assim você acorda inspirada amanhã! — Eu retruco.

— Sei do que não faço questão: não tenho ambição de me tornar conhecida, de escrever uma grande obra; nem mesmo de mudar o mundo com as minhas ideias. Apenas acho divertido escrever. Na verdade, amo escrever! Se os meus personagens me encantam, quero que também encantem a quem se debruçar sobre eles... Então, terei percorrido o meu caminho de escritora quando um único leitor, na primeira página do meu livro, tiver vontade de passar para a próxima página; depois ler a outra e mais outra.

Ísea me enterneceu. Deixei que continuasse trocando palavras, invertendo frases, corrigindo e corrigindo a aventura na qual andara mergulhada.

Esses dias de revisão até que são bem tranquilos, pois ela está centrada apenas na harmonia das frases, na coesão dos parágrafos. É bem mais agitado nos dias que está criando a sua história — nessas horas, ela corre enlouquecida atrás das falas dos seus personagens; eles aparecem no meio da madrugada e a Ísea me obriga a levantar e registrar pequenos trechos que a encantaram e que precisam ser colocados no papel. Aí é difícil!

Ísea termina a revisão de mais um capítulo.

Vou dormir tranquila, relaxada. Não será por hoje que os seus personagens atravessarão os meus sonhos.