Aprendendo a perdoar
Quando me vi magoada, pedi que ele me pegasse no colo.
E, porque a minha mágoa não passava, perguntei-lhe:
— Mas, afinal, por que isso dói tanto? O que tenho de fazer para me livrar dessa agonia?
— Faze aquilo que me pedes todas as noites.
— Hã?
— Não queres que te desculpe sempre? A todas as tuas feiuras, a todas as tuas faltas?
— Ah! Mas dessa vez está muito difícil de perdoar. Sei que me comprometi contigo..., mas isso é diferente.
— Diferente por quê? Por acaso achas que tuas faltas doem menos em mim?
Calei-me. Fim de assunto. Eu não tinha mais argumentos.
Ele escutou o meu pensamento mais íntimo — se eu não conseguia fazer o que me havia disposto, melhor seria que não me comprometesse mais.
Não precisas mais rezar, se não quiseres... Pelo menos, não daquele jeito, pois bem sei que és mais comunicativa assim, quando apenas conversas comigo. E, como falas o tempo todo, já que sabes que o tempo todo te escuto, é oração mais que suficiente.
— Ainda assim, o meu coração segue apertado.
— Mas não vai desapertar se não fizeres o que te disse. Perdoar, a gente não faz para que os outros se sintam bem. Pois, pode ser que o teu perdão não signifique nada para o outro. Terá sentido somente para ti.
Esforcei-me bastante. E me senti melhor depois de perdoar. Ele tinha razão; como sempre.
— Estou me sentido bem melhor agora! Então, me livrei desse incômodo para sempre?
Ele sorriu complacente.
— Ainda vai doer outras vezes.
— Como assim? Afinal, já perdoei...
— Perdoaste, mas não esqueceste. E mais para frente, é bem provável que te esqueças do teu perdão. Daí, volta a doer como antes.
— E o que fazemos, então?
— Te pego no colo novamente. E te ajudo a perdoar novamente.
— Até quando faremos isto?
— Até que aprendas! Depois, passaremos para outro desafio.
— Ok, fica bom pra mim desse jeito. — Suspirei aliviada.