O novo drama da Netflix Atlântico
O novo drama de época da Netflix, Transatlântico, mergulha na história do jornalista Varian Fry (interpretado por Cory Michael Smith) e da herdeira americana expatriada Mary Jayne Gold (interpretada por Gillian Jacobs), que fundaram o Comitê de Resgate de Emergência (ERC) que ajudou mais de 2.000 pessoas a fugirem dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, sem apoio do governo.
Tanto na série da Netflix quanto na vida real, Gold e Fry ajudaram figuras europeias proeminentes como a filósofa política Hannah Arendt, o pintor Max Ernst e o romancista alemão Heinrich Mann a escapar para os Estados Unidos, longe dos nazistas que perseguiam judeus em toda a Europa.
Winger ainda comenta sobre como queria diferenciar Transatlântico de outros filmes e séries: “Nós nos inclinamos para o estilo dos filmes feitos na época, que estavam sendo feitos simultaneamente ao que estava acontecendo na Segunda Guerra Mundial. Eles estavam processando seu trauma com humor e achei isso incrível”.
Winger também acrescentou que tinha uma conexão pessoal com a história, já que seus pais, que eram professores, eram colegas do economista Albert Hirschman (interpretado por Lucas Englander) e de Lisa Fittko (interpretada por Deleila Piasko), a quem Varian Fry ajudou. Ambos estão na série da Netflix. A conexão de Winger se tornou ainda mais comovente quando, na segunda semana de produção, a guerra começou na Ucrânia, o que ela sente deu uma “urgência renovada ao projeto e um forte senso de propósito”.
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Transatlântico capta a desesperança de Fry e daqueles envolvidos no ERC para salvar refugiados no sul da França, mas omite detalhes sobre como Fry se envolveu e como uma boa parte do trabalho começou antes mesmo dele chegar à França.
Após a invasão da Alemanha à França, Fry visitou Berlim como correspondente estrangeiro e ficou tão horrorizado com o tratamento das pessoas sob o regime de Hitler que, ao retornar aos Estados Unidos, reuniu mais de 200 americanos notáveis para fundar o Emergency Rescue Committee.
Transatlântico foca em como Fry e aqueles envolvidos no ERC não tinham apoio suficiente do governo, mas não menciona que o ERC foi apoiado em certa medida pela primeira-dama Eleanor Roosevelt. Poucos dias após a fundação do comitê, a primeira-dama obteve vistos de emergência para vários intelectuais. Isso levou o comitê a perceber que precisavam de alguém na França para ajudar seus esforços de resgate, para o qual Fry se voluntariou. Fry deveria ficar na França por apenas três semanas, mas acabou ficando um ano, inicialmente encontrando-se com refugiados em seu quarto no Hotel Splendide, em Marselha. Marselha é retratada em toda sua beleza e grandiosidade pelas câmaras. Marselha, bom lembrar, foi também o berço da Revolução francesa
Em tempo de guerra é realmente uma minissérie que vale muito a pena ser vista. Para que não nos esqueçamos jamais dos horrores do nazismo e do facismo na Europa. E também para que valorizemos os jovens anônimos que deixaram os estados unidos para resgatar judeus, artistas, ciganos e lgbts na lendária Marselha protegida por Nossa Senhora da Guarda. Uma minisérie que nos tira certamente da “ zona de conforto”.
Gustavo Mameluque. Jornalista. Crítico de Arte. Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.