O POEMA E O ATO DE LEITURA

(Aos leitores do Facebook

e do Recanto das Letras)

Fico feliz porque no mais recôndito de mim, percebo que o poema com Poesia (sim, porque há versos, poemas e outros formatos escriturais que de Poética nada contém, mesmo que o autor creia piamente que está publicando versos com Poesia) é sempre um acicate, um especialíssimo convite ao pensar. É esta subjacência de bom gosto estético, agradável aos ouvidos e gostosa de ser pensada, lida, verbalizada, colecionada, que garantirá a sua fixação e permanência na memória do leitor.

É ali, no âmbito da peça poética, naquele sorvedouro de signos em que prepondera a codificação, que se estabelece o Novo e fornece à linguagem a conotação. E a palavra adquire o sentido conotativo, que é bem diferenciado do sentido original ou genuíno da palavra ou conjunto delas, adquirindo significantes e significados diversos.

No poeta-autor, para que este polo chegue a um estado anímico-circunstancial favorável ao nascimento do poema, cria-se e, por instantes, a uma primeira visão externa, nota-se um processo de discussão intimista emergente de relações ou situações caóticas, visto que prevalecente o estado emocional, às vezes confuso no plano de perfeita identificação e/ou tradução das ideias em torvelinho.

Por vezes, o poema exsurge inteligível e esteticamente pronto para o consumo do seu eventual destinatário, mesmo que aflorado num jato de inspiração. Sim, casual, fortuito ou eventual, porque o autor, em regra, nunca sabe quem será o receptor da peça escritural recém-aflorada, a não ser que esta tenha nascido por encomenda.

Contudo, para a também necessária decodificação da peça, a ocorrer na cabeça do poeta-leitor, terá de acontecer, por certo, a participação do mecanismo intelectivo, portanto, assentado no universo racional.

E todos esses estados de pessoalidade, consequentes dos momentos de uso do mecanismo da razão, funcionam a partir da reflexão sobre a temática em pauta, sua estética peculiar e a axiologia que dela decorre.

É desse cadinho ardente que o poema vem ao mundo dos signos e, por vezes, como agente cultural e social, provoca mudanças no mundo dos fatos, mesmo que saibamos que a literatura não se destina a interferir diretamente no mundo das realidades.

Desta sorte, entendo que, de todas as vertentes literárias, a Poética é a que melhor funciona para conduzir autor e leitor à "condenação ao pensar” e ao usufruto de seus possíveis efeitos. Daí decorre, em mim, a plausível sensação de que o poeta é o ante visor, o profeta, o vaticinador, o arauto do Mistério.

Acresça-se que nem tudo que é proveniente dessa vertente – que é traduzível pela linguagem poética – pode ser, num primeiro momento, plenamente entendível pelo receptor. Depende do entendimento e/ou compreensão assentados no preparo pessoal do poeta-leitor em relação à temática contida (e/ou liberada) na peça poética objeto de leitura.

E para que se bem registre: aplico ao plano da realidade todas as possíveis concepções e ações para fazer válido e denso o meu, o nosso ofício, na arena dialética da interlocução entre os semelhantes.

Enfim, o gládio protetor da Felicidade tem de estar à mão do contendor, no patíbulo público em que litigam o Amor e a Liberdade, em nome da Justiça Social como instrumento de Paz e Harmonia entre os povos.

A Poesia é sempre mudancista. Sugerir, propor mudanças é da natureza da palavra poética. Salve, salve, hosanas, saudemos a Lucidez Enternecida!

MONCKS, Joaquim. O CAOS MORDE A PALAVRA. Obra inédita em livro solo, 2023.

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