Aventuras de colher lenhas

Muitos de nossos amigos dos “velhos tempos” de nossa querida cidade natal, nos subúrbios da Capital Paulista, sobretudo lá pelos idos dos anos 50, especialmente aqueles que integravam as muitas famílias mais humildes residentes nos novos bairros que surgiam aos arredores do centro, certamente, haverão de ter nas lembranças as condições que viviam e que, no geral, dependiam de lenhas ou, no mínimo, de carvões para que os alimentos fossem cozinhados, já que poucos eram as famílias que dispunham de outros tipos de fogões.

Na nossa humilde casa, também, não era diferente. Pois, além do fogão a lenha - que se constituía na peça principal de nossa cozinha, de chão batido -, um grande forno de tijolos e barro, construído pelo meu própria pai, no vasto quintal ao redor da casa, para assar pães, principalmente, e, também, leitões ou frangos, vez ou outra e, sobretudo, nas ocasiões especiais, como no Natal, dependia das lenhas colhidas nas imediações, geralmente, pela minha mãe, uma vez que era comum as senhoras que moravam próximas colherem gravetos e pequenos troncos de eucaliptos nos matagais que existiam na região próxima.

Lembro-me, com saudade, das manhãs ensolaradas nas quais minha mãe, geralmente em companhia de algumas vizinhas, com lenço na cabeça e longa saia, coberta por um grosso avental, se dirigia para aquela região de grande matagal, que só tinha pés de eucaliptos e, também, algumas árvores de castanhas, para a nossa alegria, já que era comum, em determinada época do ano, nós – os meninos e meninas que acompanhavam suas mães – recolhermos as castanhas que caiam no chão, mesmo a “duras penas” de ferirmos as mãos com seus espinhos. Mas, vale lembrar, que para nós – simples crianças da época – tudo não passava de uma agradável brincadeira, embora vez ou outra levássemos grandes sustos com a presença de alguma cobra que, também, aproveitava o calor do sol da manhã para se aquecer, sobretudo no período do inverno. Geralmente, valíamos das experiências das mulheres que estavam sempre atentas, já que as cobras se misturavam com as folhas secas, que lhes serviam de ótimas camuflagens. Lembro-me que algumas das cobras, certamente ao se sentirem ameaçadas, se denunciavam com seus guizos e, assim, chamavam mais facilmente a atenção das mulheres.

Na época, era comum presenciamos as mulheres gritarem umas para outras, alertando sobre a presença de alguma cobra que, no geral, acabava destroçada pelo bastão de uma das catadoras de lenhas. Em verdade, não tínhamos como não assustarmos, pois afinal muito cedo aprendíamos sobre os perigos que nos cercavam enquanto crescíamos.

Creio, ainda vale lembrar, que catar lenhas nos calipais naquela época era, realmente, uma aventura, já que era muito comum a presença de cobras na região. Felizmente, não tenho na memória nenhum registro de algum incidente fatal.

 

SJC – José Paulo Ferrari –

23 de abril de 2023 – Inverno chegando

 

Jose Paulo Ferrari
Enviado por Jose Paulo Ferrari em 25/05/2023
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