Da análise e intenções do discurso - Breve ensaio
É de enunciados falados, escritos ou outra forma de comunicação , e gestos, que se dá o discurso. O discurso, então, é tudo que anuncia uma intenção. Ao indicar uma intenção, parte de um emissor a um receptor, ou seja, não há discuso sem, ao menos, a interação, ou participação, de duas pessoas. De um lado, o emissor cumprindo o papel de autor ou emissário de uma mensagem, cuja intenção, e não outra, como medida primeira do desejo de fazer chegar a mensagem, de outro lado, e, como característica inaugural de sua existência, a pré disposição, de ser o receptor da mensagem. Noutras palavras, de um lado, e numa imagem meramente metafórica, a flecha, do outro, o alvo.
Considerado, então, que é prerrogativa do discurso a transmissão de enunciados e suas intenções, tendo como mira, e pré disposição, a existência, de um receptor, todavia, não se poderá dizer que ao receptor não será possível nada mais que aceitar o que lhe chegou. Não. Não há essa automática posição. O receptor não está obrigado a receber a mensagem passivamente. Pensar nessa possibilidade, sem compreender que discurso, enquanto mecanismo comunicacional, e por envolver, ao menos duas partes, é negar o "confronto" de ideias como algo que inaugura o momento Sapiens, Pensar o contrário, mais que temeroso, é um retrocesso civilizatório. Dissociar a previsibilidade como possibilidade de discordância é impedir,
sob risco de dotar o discurso de uma certa áurea que não pode ser questionado; é vestir de uma quase messiânica maneira de se anunciar. Querer coroar o discurso sem considerar um "contra -discurso" é se associar às posições discursivas defensoras do discurso único, autoritário. O contra-discurso, seguido de aspas, porque um contra -discurso também é um discurso, fundamenta duas posições: 1. que não há discuso neutro, que toda relação discursiva pressupõe outra posição como medida necessária para que a força não se estruture como coluna mestre numa sociedade amiga do processo civilizatório. 2. que sem contra-discurso o que vem é a truculência, a perseguição, não se pode desconsiderar o quanto o contra-discurso garante o saudável convívio dos contrários.
Reconhecida a importância da garantia do contra - discurso, se reconhece, sem possibilidade de ser de outro modo, que são os opostos, de certa maneira, que legitimam a própria razão de ser do discurso. O discurso se legitima, se solidifica como modus vivendi, atravéz da oposição de ideias.
Discurso unânime, além de incitar a falta de debate, de impedir que venha à luz outras possibilidades de dizer, a unanimidade, como um revés sem força contrária, sugere o primado da tirania.
Outra característica do discurso, ou seja, outra, além da presença de duas partes em posições de emissoras e receptoras da mensagem, é saber que não há neutralidade no discurso. Nem poderia, na medida que se entende o discurso como o enunciado de uma intenção, de um desejo, é de se esperar que não haverá intenções ou desejos iguais. Na medida que se aceita a possibilidade de oposição de ideias, de imediato, se entende que cada qual defenderá seu ponto de vista, logo, a disputa se configura como registro da não neutralidade. Por não ser possuído de neutralidade, todo discurso é ideológico. Dito de maneira diferente, todo discurso busca busca se fundamentar, e se instituir, como fala, ou postura, dominante. Nada é neutro, nada é desinteressado.
Mesmo a maneira de se pintar dessa ou daquela maneira determinada cena, além de buscar uma maneira específica, própria, de mostrar a pintura, uma outra estética. Também, numa análise do discurso se pode vislumbrar determinada intenção de querer dizer algo através da maneira da escolha daquele ângulo. A análise do discurso permite, como uma espécie de trabalho de arqueologia, tirar as camadas que não aparecem no discurso propriamente. Num primeiro momento, só temos acesso ao que aparece na superfície , sua análise, permite que se chegue ao que está na profundidade.
Enunciados, eis a matriz da análise do discurso e a razão de sua fundamentação.