Da importância da Arte nas nossas vidas - Breve ensaio
A Arte se revela arte quando destinada às instâncias superiores da consciência, quando se supera, quando sai de si, isto é, quando já fora do espaço próprio (o fazer-se fazendo) pertence àquele que realiza a obra. E, como ao alpinista no esforço de alcançar o topo da montanha, a Arte, nessa mesma toada, " escala" o espírito para chegar à consciência. Nesse sentido, a Arte não acontece na sua elaboração, mas, - independente do sentido dado pelo observador - no instante mesmo que atinge a consciência, acionada pelo espírito, como o resultado final da função desempenhada que o espírito exerce. Como se o espírito funcionasse tal qual o condutor das sensações à consciência. Noutras palavras, e numa imagem simbólica, como o pavio que ao ser acionado, detonarå a explosão. Se a explosão é o resultado concreto que o pavio proporciona; ao chegar à consciência, a arte, já terá percorrido o espírito. É na consciência que a Arte adquire esse status. Antes, a obra (aqui entediada como o resultado de tudo que o homem produz , voltada para o espírito ) nada mais será que apenas o resultado do trabalho de alguém. Só deixará de ser apenas de objeto, e nada mais, no instante que atingir alguém e provocar sensações que, como se um abalo sísmico, mesmo que imperceptível, tivesse alcançado os mais sutis e recônditos sentidos do seu ser. A Arte é o resultado da explosão criadora, é o momento sublime de todo àquele que, imbuído de algum sentimento superior de compartilhamento, ou, talvez, o mais recorrente, de efusão do criador para com o mundo que habita, é o Big Bang, o êxtase, que se apodera do criador que, como o Demiurgo dá "vida" a seres e imagens condenados ao ignorado. Nesse aspecto, pode-se dizer, que o ato criador é, por si, e só por si, a manifestação solitária do criador. E desse momento, único e exclusivo do criador, entregue a si, com todos os percalços, os involuntários acontecimentos que a vida nos traz, é que, como um instante divino, porque único , e que nunca mais será igual, surge a obra que se tornará Arte, tão logo, atinja o espírito do observador.Ninguém fica impune frente a uma obra de arte. Não há silêncio absoluto quando se se depara com uma obra de Arte. A impossibilidade da inércia, da intocabilidade, da inviolabilidade do "não me toque" são impedidos quando se está em comunhão com uma obra, cuja ação no espírito, impossibilidade qualquer sentimento de indiferença. Gostar ou não gostar do que viu, ouviu , leu (poesia) não é essa a questão. Por estar no campo da subjetividade, essas são situações que não competem ao criador. Não é do escopo do ato criativo a preocupação do agradar determinado público. O objetivo da Arte é, antes de tudo, proporcionar a possibilidade da reflexão, do debate, do diálogo como meios de possibilidades comunicacionais entre os indivíduos. É da Arte a possibilidade de aberturas, de romper barreiras, derrubar muros para o aprimoramento do ser. Não há Arte na escuridão, não há afeto, quando o que se tem é a solitária vivência, não como um modo de vida, mesmo que reclusa, que assim se permite, mas que, não ignora o mundo. A vivência solitária como uma escolha pautada pela aversão da existência do ser, é tão perniciosa que faz desse ser um ser animalizado. Não há, nada mais animalesco do que negar a importância do ser humano. E a Arte, em toda sua dimensão simbólica, cognitiva, mental, sociativa, impulsiona canais que nos impedem de nos perdemos no labirinto do desconhecido. A Arte é a salvação de nós mesmos, incapazes de encaramos nossas mais duras e monstruosas verdades.