Pensamento ou realidade, qual surge primeiro - Breve ensaio

É próprio do pensamento debruçar-se sobre o que é ideal, o que habita a imaginação, ao abstrato, posto que, ao estar no espaço do ideal, do objeto só conhece a forma, e com muito esforço, sua funcionalidade e nada mais. A materialidade, ao contrário, é a busca da concretude do objeto. No entanto, não há materialidade, isto é, seu conhecimento empírico, sem que, antes se tenha a idéia do que seja o objeto. Assim, grosso modo, pode -se dizer, que existe um conhecimento a priori que se confirma com a experiência empírica. Então, resumidamente, e sem embargos de outra interpretação, O Conhecimento, só se cristaliza quando ocorre a junção do idealismo, próprio do pensamento, com a materialidade, resultado da experiência empírica. Tomemos como exemplo duas maneiras de vermos o mesmo objeto, com olhares e sensações diferentes: uma flor, simples planta e de várias cores e texturas. A beleza de uma flor pode ser reverenciada na poesia. Nessa modalidade de literatura, a poesia, a flor pode impulsionar sentimentos e sensações tantas, que, ao atingir nossas emoções, a mera conjunção e conjugação das palavras, podem , até, provocar soluços. Desde a imagem de uma pétala solta, caindo ao relento, ou, até, solitária num vaso (podendo nos levar a refletir sobre a própria vida) ou num jardim (podendo levar nossas reflexões acerca o que significa a vida em coletividade), não se nega que, atravéz, da poesia, a flor nos leva a ativar nossa mente, nossos pensamentos. E ainda, num aspecto mais imediato, trazer às nossas lembranças imagens bucólicas de um domingo no parque.

E a flor na sua existência material, orgânica? A flor, o objeto concreto, dotado de existência material, para existir precisa de terra, adubo e água, do contrário, sem mágica, e sem qualquer coisa sobrenatural, não há jeito de a flor existir. Ao contrário da poesia ou da pintura, que fazem a flor existir no pensamento, provocando sensações, no vaso ou no jardim, ambos reais, a flor, para existir, e não há outra maneira, depende de elementos que garantem sua existência. E nesse existir, a pétala, exala um perfume que chega às nossas narinas e despertam sensações e sentimentos de aproximação ou repulsa, qualquer que seja, porém, como resultado do existir da flor na sua materialidade. Há ainda, a possibilidade de sentir sua textura e seus espinhos, aconchego ou aversão, enfim, se a maciez da pétala pode trazer certa sensação de aconchego, pela maciez das pétalas, os espinhos, considerada a possibilidade de ferimentos, podem provocar repulsa, afastamento, noutras palavras, os espinhos, se para a flor serve como uma proteção, na pele, causa ferimentos. Todavia, o mesmo espinho, numa poesia ou pintura, podem denotar, amor ferido ou perfeição, respectivamente.

Pensamento ou realidade? Pensar é possibilitar conhecer por imagem, é animar o espírito para que o objeto chegue a nosso cérebro e lá, conectado e conectando -se, cheguemos ao conhecimento, mesmo sútil do objeto. Tomado de existência material, isto é, existente em sua materialidade concreta, o objeto, nos atinge em toda sua extensão e significado. E nesse contato direto, sem intermediário, sem construções mentais ou imagéticas, o objeto se realiza.

Por fim, é próprio do pensamento o predomínio da subjetividade, da prevalência da opinião pessoal e das experiências e vivências de quem observa o objeto analisado. É nesse instante que o indivíduo se realiza em toda sua opulência e majestade. No tempo e espaço da realidade exercida na experiência concreta do objeto analisado, em oposição à subjetividade do indivíduo, o que se tem no campo empírico é a prevalência da objetividade como elemento fundante do conhecimento. Nesse terreno, não é a opinião do indivíduo, mas, a "fala" do objeto que passa a "ditar" as formas e os meios, pelos quais se manifesta; na experiência empírica, em oposição ao pensamento, à pintura, à poesia, a construção do objeto acontece por mecanismos mentais, sensoriais e tácteis, amparados ou associados, mas não guiados, pelo o que acontece no pensamento.