Sobrevivente de guerra

Entre névoas obscuras,

Andava as escuras.

Apenas o frio do vento rasante,

Tudo era breu e distante.

Sentindo no corpo a alma rasgada,

Queria o não ter

Desejava o não ser,

Suspirava pela essência acabada.

Adentrar a cova e sumir,

Resto de frações de memórias a sucumbir.

Exausto de dor, sem ar,

Tudo era o dissabor, sobre o ser a pairar.

Não havia mais nada

Nem dentro, nem fora.

Tudo era denso,

Turvo e excêntrico.

Massa orgânica solta sem vínculo,

Estado inanimado, amargo ósculo.

De repente explosões laterais,

O sobrevivente balbucia - Puderam ter sido frontais,

Quem se importa?

Terra arrasada está morta.

Fome, sede, assim dorme,

O ser já sem medo da morte.

Encontrar o fim é alívio,

Mar recebendo o rio.

Respira e pulsa, respira e pulsa, respira e pulsa........

Olhos cerrados, cortina mental,

A alma quer fugir do corpo animal.

Respira e pulsa, respira e pulsa, respira e pulsa........

Os sons vão fugindo aos que tombam,

Ações, e vontades já não contam.

Mas quem domina o módulo da existência,

Determina quem segue e quem finda,

O leve sentido de movimento,

Principia a força do ressurgimento.

Neurônios se realocam e acendem iguais velas,

Oxigênio insufla o sangue por entre veias,

Pensamentos suaves surgem em rotas de fuga,

Respira e pulsa, respira e pulsa, respira e pulsa........

Respira e pulsa, respira e pulsa, respira e pulsa........

Respira e pulsa, respira e pulsa, respira e pulsa........

E numa manhã silenciosa já longe do embate,

Em suave leito as pálpebras entreabertas em lágrimas visualizam,

A iluminada face angélica.......um toque suave, um sorriso terno .....que a dor amenizam,

Outra chance dada pela vida; enfim salvo pelo resgate.