A ESSENCIAL URGÊNCIA DO CRIAR POÉTICO

O grande desafio é sentir, pressentir, flagrar, apresar, tudo num único e indeterminado momento do mundo das realidades e saber como colocar véus sobre fatos, atos e/ou situações, através do uso de símbolos, imagens e palavras.

O poema (com Poesia) é um corpo a ser criado, portanto é necessário conceder-lhe materialidade, dar-lhe voz para recriar o entorno de vida e palavra. No entanto, por natureza, o poético não se destina a ter tal ou qual finalidade específica, urgência de ação consequencial, ato ou fato à revelia do controle humano.

É uma peça intelecto-racional que vem ao mundo para viver no semelhante, portanto, em alteridade. A criatura humana é a destinatária, que fará do poema o que lhe aprouver.

As mais das vezes, as palavras criadas no cadinho da arte poética nada têm a ver com o mundo dos fatos. É pura criação, lavratura para alimentar o polo ávido de novidades que a consome. Enfim, o poema bordeja o real e a irrealidade.

Tudo é linguagem que não diz, apenas sugere. Quem vai dar vida ao que o autor quis dizer é o poeta-leitor. E é este também aquele que vai digerir suas inconstâncias e precariedades.

É urgente dar foco a significantes e significados identificadores do poético, objetivando formar conteúdo com o alargamento ou aprofundamento do sentido e teor das palavras, por meio da utilização de linguagem figurada, no texto. Portanto, prepondera a presença das metáforas na linguagem que vai plasmar-se em sentido conotativo, forma ou modelagem tradicionais ou até no extremo minimalista, afinal, cada ser tem a sua própria materialidade.

Para o poeta-autor, ter olhos e ouvidos para tudo isso, vale dizer, aperceber-se do que está posto frente aos seus olhos, ouvidos e demais sentidos, nada tem de fácil, porque o pensar é sempre gerador de complexidades . Muito pelo contrário, é tarefa que exige talento, inventiva e um bom conhecimento da esgrima que ocorre entre todos os elementos circunstantes.

O registro feito pelo exercício do sentir, num primeiro momento de inspiração. e, concomitantemente de imediato, ou a posteriori, até em prazo a perder de vista, o desafio da “transpiração”, ou seja, aperfeiçoar a peça poética buscando uma boa apresentação estética em que o andamento rítmico seja peça fundamental.

É difícil estabelecer parâmetros para aquilo que não existe, mesmo que depois do nascimento. O poema passa a viver somente depois do primeiro respirar, do gemido ou choro.

Ali está a criança sem a presença do pai, o autor. Este lhe propiciou genuínas sementes: códigos e símbolos.

A mãe-palavra gerou a imagética, mas quem permite o primeiro balbuciar pleno de lucidez enternecida é o receptor. É este quem beija, baba ou desaprova as primeiras falácias do mundo. E sai dizendo se as sementes são boas ou precárias.

É similar ao fato de correr uma maratona de costas, e, em vez de rasgar a fita de chegada, retornar ao ponto de partida, a ponto de ser saudado pela mídia como vencedor.

No entanto, sempre haverá alguém que não reconhecerá a vitória da proposta. Não basta o trajeto feito, há que se constatar evoluções e requebros como se houvesse um inusitado, magistral e envolvente bailado ou dança em praça pública.

E, a partir daí se restabelecerá o processo do contraditório, tão ao gosto da des/umanidade do seu hospedeiro: o homo sapiens.

Talvez em busca da verdade, que nunca emergirá do rés-do-chão, por ter em sua raiz os frutos da invenção, cujos protagonistas são a falácia, a farsa, a fantasia e o sonho, porém satisfará os interessados durante algum tempo. Aqueloutros permanecerão em estado de choque.

MONCKS, Joaquim. O CAOS MORDE A PALAVRA. Obra inédita em livro solo, 2023.

https://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/publicacoes/preview.php?idt=7776919