RECOMEÇO
A todo instante estamos diante de um novo começo. Ou melhor, estamos diante de momentos com infinitas possibilidades. É como estar com uma “folha em branco”.
O exemplo mais palpável a todo indivíduo está no amanhecer, um dia novo após a despedida do anoitecer, tendo sido a noite o intervalo entre um dia e outro. É nesse momento, na aurora, que se dá o recomeço, é quando se apresenta a “página em branco” e nela a as infinitas possibilidades.
Pode ser assustador para uns, aqueles que ficam estáticos na zona de conforto estabelecida e agem na mesmice, enquanto, para outros, arrojados, dão o primeiro passo e seguem.
Uma das leis do universo, “O Eterno Retorno”, dá-nos o entendimento sobre o repetir dos ciclos.
Já na antiguidade, esse fenômeno é conhecido e ensinado. Vejamos o que está na Bíblia Cristã, no Velho Testamento, em Eclesiastes 1:2 :
“o que foi voltará a ser, o que aconteceu, ocorrerá de novo, o que foi feito se fará outra
vez. Não existe nada de novo debaixo do sol.”
Transcorreram-se os séculos e esse entendimento seguiu como místico, como enigma. Mas, no século XIX, o filósofo Nietzsche (1844 – 1900) trouxe essa teoria enigmática para o campo, digamos, tátil. No seu livro “A Gaia Ciência”, no fragmento de número 341-O PESO MAIS PESADO, temos essa maravilha que nos traz à possibilidade de reflexão sobre a nossa existência:
E se um dia, ou uma noite, um demônio te seguisse em tua suprema solidão e te dissesse:
Esta vida, tal como a vives atualmente, tal como a viveste, vai ser necessário que a revivas mais uma vez e inumeráveis vezes; e não haverá nela nada de novo, pelo contrário!
A menor dor e o menor prazer, o menor pensamento e o menor suspiro, o que há de infinitamente grande e de infinitamente pequeno em tua vida retornará e tudo retornará na mesma ordem – essa aranha também e esse luar entre as árvores e esse instante e eu
mesmo.
A eterna ampulheta da vida será invertida sem cessar – e tu com ela, poeira das poeiras!
– Não te jogarias no chão, rangendo os dentes e amaldiçoando esse demônio que assim
falasse?
Mas há uma outra hipótese que se encontra logo a seguir, dizendo Nietzsche:
“se a sua vida fosse satisfatória e lúcida, você não pensaria que essa seria a voz de um
Deus, e não de um demônio?"
Por fim, nos resta, a cada um de nós, absorvendo essa teoria do “Eterno Retorno”, observar cuidadosamente as nossas escolhas, os nossos sonhos. Pois diante desse conhecimento é possível nos perguntarmos se é o que desejamos que venha acontecer repetidamente.
Então, a cada amanhecer, diante da “página em branco”, e ao darmos o primeiro passo diante do novo, que a possibilidade escolhida seja para uma vida “satisfatória e lúcida”.