Ondas

Após caminhar alguns minutos, sentei-me no muro de pedra e fiquei a observar a praia. O branco da espuma aproximava-se da areia de um modo agressivo na noite escura e fria de janeiro. A cidade e a lua em quarto crescente refletiam-se no mar e um casal de braços enrolados sorria enquanto olhavam o mar e o céu.

Um cargueiro ao longe apitava, o barulho do apito perdia-se ao longe como uma alma perdida que chorava. Outro cargueiro encontrava-se a sair do porto, possivelmente por isso que andavam a apitar. Se calhar eram amigos que se encontravam esporadicamente na serenidade da noite numa cidade ao acaso do mundo e cumprimentavam-se. Consigo imaginar o capitão a sorrir e a pensar no quão pequeno é o mundo.

De repente, um jovem passou por mim a correr. Enquanto acertava no seu relógio a contagem de quilómetros, segui-o com o olhar. Ao longe, consegui ver um velho estático na areia enquanto via as ondas; consigo compreender a sua quietude. O mar também me transmite isso, acabando por servir de consolo para as noites mais complicadas. Brutalmente passa um miúdo de skate; a sua arrogância e o seu egocentrismo de adolescente deixaram-me nostálgico em relação à minha própria adolescência.

Voltei a olhar para o velho que agora estava acompanhado de um cão e de uma mulher. Será que se dão bem? Será que são um casal? Será que eles realmente se amam ou simplesmente estão a deixar ir? Cá para mim o cão acabou por ser mais um desafio para compensar a relação muito monótona.

O miúdo de skate já estava a regressar e, desta vez, cumprimentou-me. Acenei-lhe com a cabeça e olhei para o mar; estava tão escuro que parecia um enorme buraco que engolia a areia da praia.

Levantei-me, descalcei-me e desci as escadas de madeira que ligavam a praia ao paredão. Comecei a caminhar na areia fria e fofa, a cada passo ficava mais escuro e frio e, aos poucos, entrei no negrume da noite.