O INTELECTUAL DETRÁS DA MOITA!
“O Senhor da Gramática”!
*Por Antônio F. Bispo
Detrás de um arbusto virtual está o “Antipaticus ChatonilduS Tediosus”.
É um predador preguiçoso, porém sagaz.
Covardemente e na obscuridade do tráfego de dados, ele espreita suas vítimas por meio de uma tela de cristal líquido.
Idosos, crianças, homens e mulheres de todos os níveis e classes sociais estão em sua mira.
Pessoas com ou sem um alto nível de escolaridade também são alvos de sua tara.
Professores, apresentadores, jornalistas ou pessoas comuns: ninguém escapa aos olhos ou aos dedos demoníacos deste predador, que os usa vorazmente para destroçar suas presas por meio de mensagens de áudio ou de textos grossos, com uma verborragia carregada de puro ódio.
Ele cura o próprio tédio agredindo aleatoriamente gente desconhecida, enquanto alimenta-se da culpa desnecessária do ofendido, quando este se deixa cair e calado se retira de sua presença como se tivesse cometido algum crime grave.
Quando o importunado se faz de rogado, seu veneno volta contra si mesmo e em um surto quase catatônico este se vê perdido, lamentando pelo ódio derramado sem proveito algum.
Nestas horas, vale lançar contra a parede o que estar em mãos ou chutar o que estiver ao alcance, inclusive animais e pessoas para compensar a perca do seu alvo.
Notebooks, celulares, tabletes e outros aparatos tecnológicos fazem parte do uso recorrente deste espécime.
Sempre às espreitas, sempre atrás da moita, sempre observando os “crimes gramaticais” que os outros irão cometer.
Ao mísero deslize ele aparece do nada e com veemência se lança contra o “iletrado” ali presente. Por conta disso, ele tentar denegrir não apenas o fato ocorrido, como também macular a honra, a imagem e até a árvore genealógica do “meliante”.
Sua fúria é implacável e este é o único meio de ser notado, de sentir importante na vida.
Quanto maior for as visualizações de uma postagem ou a importância social de quem a postou, maior será sua ofensiva.
Ele costuma agir (sempre) sem que sua presença ou serviços sejam solicitados. Adora atuar em locais em que sua fala já causou extremo desconforto em ocasiões anteriores.
Bisbilhoteiro, ardiloso e medíocre: é assim que os outros o enxergam.
Ele pressupõe que todos ao seu redor sejam burros ou não tão espertos quanto ele no quesito língua e gramática.
Julga (erroneamente) que nenhuma outra pessoa no mundo todo seja tão boa quanto.
As redes sociais é o seu campo principal de atuação nos dias atuais. No passado ele agia cara-a-cara mesmo. Isso lhe causo vários problemas e inúmera dores de cabeça aos seus pais.
Aqui na rede, escondido atrás de uma tela, ele sente-se mais à vontade para ser quem é e destilar seu ódio e fúria de forma voluntária. Assim ele fica livre de levar um soco na cara ou trazer vergonha direta para sua família pela milésima vez. Seu “heroísmo” babaca já custou caro para seus familiares em outras ocasiões.
No grupo da família ninguém mais o suporta. Foi excluído de todos!
No grupo do condomínio ninguém mais o quer. Foi eternamente banido!
No da associação de moradores nem se fala...Por unanimidade, nem presencial ou à distância as pessoas querem manter relações com ele.
É um sujeito solitário, marcado pela antipatia e pela falta de sensibilidade no ato de se comunicar.
É um anti-herói.
Causador de conflitos e intimidações grotescas.
Um INTELECTUAL DETRÁS DA MOITA, cujo saber não tem serventia alguma, a não ser para ferir, humilhar e menosprezar os outros. Sente-se grande ao minimizar os demais.
Um criatura que de fato tem uma aguçada destreza para aferir e compreender as complexidades do idioma falado e escrito e que faz disto um cetro mágico para governar súditos dos quais ele nunca teve, mas julga-os ter, ainda que todos reneguem o senhorio do seu arrogante intelecto.
Nunca conseguiu se entrosar com ninguém por mais de alguns minutos.
Ao se dirigir a eles, as pessoas procuram falar pouco, reduzindo-se os diálogos às saudações simples ou termos monossilábicos à fim de não despertar nele a fúria de um titã adormecido, cujo tacape está pronto para dar na cabeça de quem faz uma entonação errada numa exclamação ou usa de forma duvidosa uma pausa (vírgula) durante uma frase.
Ai, ai...Nem ele mesmo se suporta (ele chegou a afirmar certa vez!).
Aos 23 anos de idade teve o seu primeiro e único emprego em toda sua vida. Neste só duro 28 dias. Na verdade, tirando os Sábados e Domingos foram apenas 20 dias úteis. Quatro semanas portanto!
Fora contratado como caixa de um supermercado no bairro em que morava e foi demitido por insultar os clientes que se expressavam mal ou diziam os nomes das mercadorias de forma incomum. Nem mesmo os importados escapam deste vitupério.
Os moradores do campo literalmente sofreram em suas mãos nas poucas vezes que por ele fora atendido.
Era melhor estar em silencio total diante dele e responder suas perguntas com acenos de cabeça ou gestos de mãos para não ser ofendido.
Nem o gerente do supermercado escapou de sua tolice.
Mas quando chegou a vez do patrão...Sua próxima treta foi no RH da empresa e depois desta nunca mais foi visto naquele recinto!
Ele dizia que isso era um dom dado por Deus. Uma virtude particular mal compreendida e invejada por todos ao seu redor (segundo ele).
Alguns diziam que ele tinha sérios transtornos psiquiátricos, porém ele nunca foi em uma consulta sequer. Nem à contragosto.
Na primeira vez que o fizeram, ele se pôs em silêncio durante toda a seção e por quase uma hora inteira (pela primeira vez na vida) ele se manteve calado diante de alguém.
Não fez nenhum insulto ou correção gramatical mesmo quando o profissional ali presente, cometia erros propositais à fim de puxar assunto ou ativar seu “gene do mal adormecido”.
Todos ficaram espantados e passaram a usar aquilo como gatilho quando queriam pôr fim às suas birras infantis.
Alguns diziam em forma de chacota:
-Será que vou ter de encarnar o psiquiatra pra ver se você para de falar besteira?
Ele olhava profundamente nos olhos do “ofensor” e se retirava bufando, exalando um sentimento de revanche, como se fosse um grande predador ferido em seu habitat natural.
Hoje, aos 39 anos, sem emprego, sem filhos (quase sem amigos) e sem um futuro certo, ele vive com seus pais idosos e destes obtém tudo o que precisa para sobreviver (e importunar os outros).
Não chegou a concluir o ensino superior por conta de tantas discursões desnecessárias que arranjava todos os dias, inclusive com os professores, principalmente com o professor de língua portuguesa.
-São todos burros! Todos vocês são burros! Não deveriam estar aqui!
Essas eram falas que ele dizia para qualquer pessoa, em qualquer lugar, à qualquer hora, independente das circunstâncias!
Desde criança não media esforços para esconder a ira que efervescia de si ao ver um til fora do lugar ou um verbo conjugado erroneamente.
Um furor sem igual tomava conta dele e de imediato ele partia para cima do “Infrator” com todos os tipos de xingamentos e ofensas pessoais possíveis.
A pior situação ocorreu quando ele tinha 25. Uma viagem em família quase se tornou em desastre com direito a exibição televisa e tudo mais.
Seus pais que planejaram durante um ano inteiro uma viagem sossegada ao exterior, tiveram que conviver com a infâmia de ver seus rostos sendo exibidos num noticiário local por conta de um chilique do seu “filhote de imperador”.
Acontece que por pouco ele não foi preso por um policial federal na fila de um aeroporto. Uma equipe de TV que estava dando cobertura a um caso suspeito aproveitou para gravar o insulto involuntário daquele espécime intrometido.
Naquele instante, no calor do momento e no exercício de sua profissão, enquanto abordava os suspeitos (após uma denúncia anónima), o oficial da lei descuidou-se trocou um verbo por sujeito...Foi o bastante!
Do nada, o “Senhor da Gramática” que assistia do outro lado da fila, irrompeu em ira e corrigiu em alto e bom som o policial ali presente.
O câmera-man que focava o rosto do suposto contraventor, mirou de imediato nas faces furiosas daquela figura berrante e depois o nos rostos aturdidos do seu pai e o de sua mãe, que pela aflição no olhar e linguagem corporal defensiva, denunciaram sem querer, ser os pais daquele ser espalhafatoso.
Seu velho teve de fazer uma dezenas de ligações para velhos amigos que lhes deviam favores à fim livrar a pele do próprio filho que quase fora preso por desacato voluntário a um policial em serviço.
Era uma impulsividade doentia daquele rapaz. Toda frustação acumulada sobre si mesmo e sobre tudo o que dava errado ao seu redor (por conta de sua personalidade), era convertida em “aulas gratuitas de língua portuguesa”. Sempre em forma de massacre, de avalanche, de Tsunami de puritanismo linguístico....
Ele poderia estar dando aulas em cursos e concurso públicos e particulares.
Poderia escrever e vender sua própria gramática e faturar “horrores” pelo modo como articulava bem suas ideias.
Poderia ganhar dinheiro com palestras ou em plataformas digitais compartilhando tudo o que sabia.
Já que dizia “não ser capitalistas”, poderia ocasionalmente fazer e publicar textos livres, espontâneos, comentando previamente e de forma didática os erros mais comuns na escrita e na fala dos que usam a nossa língua.
Poderia trabalhar numa redação de jornal, TV, cinema ou de casa publicadoras...
Poderia expor e corrigir o que quer fosse sem precisar expor e humilhar os que usam publicamente o que sabem, como sabem, da forma que aprenderam ou à medida que sua cultura e memória permitem...
Ele poderia mostrar o milagre sem precisar mostrar o santo ou aniquilar a maldade sem expor o “malfeitor”.
Poderia ser admirado e amado por todos!
Mas não! De livre espontânea vontade ele estava ali, dia-após-dia, com toda assiduidade do mundo, apenas, única e exclusivamente para humilhar e expor pessoas, por mais simples e incultas que estas fossem.
Expunham seus erros gramaticais como se fossem crimes hediondos a exemplos de estupros de vulneráveis e genocídios cruéis.
Julgava que os aspectos de sua personalidade fossem virtudes.
Dava-se a entender que no seu modo de pensar, todas pessoas mereciam ser “crucificadas e mortas” quando cometessem erros linguísticos, ainda quem por descuido.
Era incapaz de enxergar a si mesmo como um crápula. Via-se como um salvador.
Algo parecido com deuses de algumas culturas antigas que ao invés de serem presentes, didáticos e compassivos, falavam de modo secreto ou enigmático, sem comprovação de pares, nunca de forma inteligível, sempre favorecendo a uma pessoa ou grupo especifico.
Sentia-se na condição do ser prepotente, que no ato de sua “sabedoria” preferia matar uma criatura “defeituosa” que ensiná-la a forma correta de ser e agir.
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Assim como os seres metafísicos do passado, esse tipo de “divindade” do presente alimenta-se apenas do nosso medo e rubor.
Eles não entendem que o respeito e simpatia de alguém por quem quer que seja é resultado de um esforço (merecimento, convívio, reciprocidade) e não de um decreto imperial.
A tirania do perverso é quase sempre por conta da subserviência cega, cultural ou estrutural de certos conceitos enraizados em cada um de nós. Precisamos analisar tais situações.
Estou nem aí; fêda-se; ou tome conta de sua vida, podem ser a bala de prata para deter esse tipo de “Antipaticus ChatonilduS Tediosus”.
Detrás da moita, sob campana, nem num conhecimento é útil!
Pensem sobre isso. Revejam os Seus Conceitos!
Texto escrito em 9/4/23.
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.