A VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS
A violência tem aumentado na sociedade. Na Idade Média e na Antiguidade, a coisa era pior. Fato inegável. No entanto, com o aumento do conforto e melhora nas relações sociais, ao menos no que diz respeito às inovações tecnológicas, era de se supor, que o ser humano seria menos violento. No entanto, temos visto um aumento da violência, sobretudo, entre jovens, fato, com certeza, surpreendente. O que explica isso? Às vezes, vejo que alguns cientistas estão mais preocupados em propor soluções, sem entender as causas. Este ensaio tecerá críticas às formas de solução propostas, sobretudo pela Psicologia.
Primeiro. Campanhas. Tem havido uma crescente onda de preocupação com campanhas em favor da melhoria das relações humanas. Setembro Amarelo, Dia Nacional contra o Bullying, etc. Estas campanhas servem para conscientizar as pessoas de que devemos olhar para dentro e tratar melhor o próximo. São eficientes? No meu ponto de vista, acho pouco prováveis. Motivo: as campanhas - subjetivistas - que exaltam a melhora do ser, caminham na onda da valorização do ser, do self, da autenticidade, etc, mas não querem enxergar as questões sociais. Ou seja: estas campanhas estão dentro da lógica do pensamento pós-moderno, que enxerga o indivíduo descolado da sociedade. Valorizam a subjetividade, mas esquecem a objetividade. Valorizam o interno, mas não enxergam o externo.
Segundo. Manual para tudo. Existe, na contemporaneidade, uma ideia de que os manuais salvarão a humanidade. Os psicólogos de hoje, são comunicadores de dicas. Existem dicas para tudo. Dicas de como se comportar numa entrevista de emprego, dicas de como educar, dicas de como se relacionar socialmente. As dicas são muitas, a eficiência parece pouco provável. Pelo menos, na sociedade, isso não é verificado empiricamente. Ou seja: parece que a teoria não está atestando verdadeiramente a realidade.
Terceiro. Vamos agradar todo mundo. O politicamente correto adentrou na sociedade. As pessoas brigam, mas depois se abraçam. As mães se juntam, numa corrente de solidariedade, para amenizar o sofrimento de todos. Divulga-se em público, como se viu recentemente no Programa Fantástico, a dor de cada mãe. No final, elas se abraçam. A dor foi "superada" pelo abraço. O afeto, agora compartilhado em público, serviu para regenerar as feridas de cada mãe.
As três características acima são comuns e erradas. Por que erradas? Porque o quer dar errado não é certo, ou não é eficiente.
É possível prever tudo?
Pensando numa eficiência, considerando-se que isso seja possível, falar de aspectos da mente humana não é algo previsível como se supõe no positivismo. Pode-se prever com a matemática quanto peso uma ponte suporta, mas será que é possível prevê quando um indivíduo entrará numa escola e atirará em seus colegas? Parece que não. O Barão de Munchaussen está de volta. Ele encarna em suas mentiras, a" verdade", uma verdade que é sempre disfarçada e que não convence. Michael Lowy apontou isso, quando comparou o Barão de Munchaussen ao Positivismo. Estamos vivendo a mesma onda. Um positivismo que acredita que resolve tudo e não tem resolvido nada.
Ou seja: estamos sendo enganados com esta ideia de que poderão prever quando uma pessoa irá matar outras. Não conseguimos. Reconheçamos! Não há teste psicológico no mundo que consiga fazer tal afirmação. E, se há profissionais afirmando isso, estes estão imitando o Munchaussen. São historietas contadas como verdade.
Agradar os Outros.
De onde surgiu esta ideia de que devemos agradar a todos? Por que a Psicologia está se alicerçando nesta lógica do abraço? O que é "gratidão" para os Psicólogos? Às vezes, acho que a gratidão, dita por alguns psicólogos não vem de dentro, como um sentimento genuíno, mas de fora, de forma boba e infantil. É um tal sentimento de empatia, mas que não tem empatia. É um agrado ao outro, que soa como falso. É uma "máscara" social, disfarçada de verdade. É um sentimentalismo confundido com amor. Não sinto verdade neste tom de "amar o outro". Sinto um moralismo, quase como uma culpa, que reforça a máscara social e não tem nada a ver com a sombra humana. Jung, embora eu tenha várias discordâncias, usou dois conceitos que podem aqui ser aproveitados. A máscara reforça o moralismo, a sombra está para a lógica daquilo que é verdadeiramente humano. A Psicologia que promete campanhas contra o Bullying, está do lado da máscara e não da sombra. Ou seja: a psicologia está indo contra seus próprios autores clássicos. Esta Psicologia da gratidão, não tem base em Freud, Jung, Reich, Pearls, Moreno, Lowen e Skinner. Talvez em Pearls, se possa fazer alguma relação, mas mesmo assim, de uma forma muito superficial, se lermos o autor clássico da Gestalt-Terapia.
Afinal, de onde vem esta Psicologia? É uma pergunta que precisa ecoar nos ouvidos dos psicólogos, pois a impressão que passa é que a maioria está caminhando numa maré, em que ninguém critica nada e apenas reiteram o discurso ideológico da "gratidão".
Afinal, o que está faltando na Psicologia contemporânea?
Há, certamente, muitos aspectos a serem considerados. Um, de início eu já adianto. A Psicologia sempre se mostrou alienada da sociedade. É comum no discurso dos psicólogos e é frequente entre os próprios estudantes de Psicologia. A psicologia não entende a sociedade. Ela isola o indivíduo da sociedade, faz um "psicologismo" e não consegue conversar com a sociedade, por isso, sua explicação sobre o mundo fica apartada da realidade.
E isso acontece porque a Psicologia desconsidera elementos da classe social. Além disso, a Psicologia é refém do Positivismo, ela não critica a forma como o Estado tem controlado as famílias. Ela, a Psicologia, entra no discurso falso da sociedade consumista e não consegue enxergar o mal que o capitalismo tem feito. Não enxerga que o aumento das redes sociais tem produzido sujeitos mais individualizados. Não enxerga que a ausência das festas populares tem produzido sujeitos mais isolados. Ela, não enxerga, que o aumento de jogos de celular e computador, tem produzido mais fantasia que realidade. A Psicologia aceita a escola de tempo integral, ao invés de fazer sua crítica. Ela aceita a creche para crianças de 02 anos e não faz nada. Ela aceita a terceirização do afeto - convertido em compra de cuidados maternais - e não faz crítica alguma. Ela aceita que a ausência de carnaval numa cidade de mais de 1 milhão de pessoas é algo normal. Ela não enxerga que o carnaval apazigua os conflitos individuais. Ela aceita que o narcisismo seja levado ao extremo, como temos visto na atualidade, e não faz crítica alguma. A psicologia aceita e reforça a superproteção, que ela confunde com amor. A maioria dos psicólogos da atualidade, acredita mais no carinho que no amor. Ou seja: ela é falsa, como é sua máscara que não enxerga a sombra. Ela aceita e reforça a retirada da autoridade dos pais, ao invés de defendê-la. Ela, a psicologia insiste numa fórmula simplista e equivocada: "dê dicas aos pais". Ela trata os pais como ignorantes, porque ela, a Psicologia é a "ciência que sabe tudo". Ela retira o discurso da multidão, "a voz do povo é a voz de Deus", porque ela se supõe melhor.
Está aí o resultado. Uma psicologia, que flerta com o positivismo, ou no seu contrário, no discurso pós-moderno. De um lado tem os que defendem as dicas e fórmulas de como educar. Do outro, tem os que defendem a gratidão. Ambos, estão numa esteira de superficialidade da mente humana.
Como resolver este dilema?
Aqui entra a Psicanálise de Freud.
Governar é impossível. Freud, afirmara.
Esquecer as relações sociais, em detrimento do individualismo, gerará indiferença social. Isso é óbvio. Tem gente que não ver. Acha que com uma campanha social vai restaurar o afeto humano. O afeto não é resgatado em palestra de Youtube, afeto é resgatado no contato social.
Vários são os pontos que podem ser discutidos a partir de Freud. Primeiro. A Psicologia confunde amor com super-proteção. A Psicologia trata o humano, desconsiderando seu "id", isto é, sua agressividade. Ela quer produzir um "robô" humano: sem raiva, sem problema, sem conflito. Ela acredita falsamente nas dicas e gratidão, ou seja: está alicerçada num modo moralista de vivência. Ela acredita que o subjetivismo vai enfrentar a objetividade social. Não vai. Sem a objetividade, não há relação humana que se sustente. Humano precisa de humano. Humano não pode viver em whatsapp e substituir suas relações reais por virtuais.