DO GÓLGOTA AOS GÂNGSTERS
Parte semifinal do texto: O Diabo no psiquiatra por crise de identidade!
*Por Antônio F. Bispo
Depois de algumas horas de diálogo no divã celestial tendo o Criador como seu psicólogo, o Maligno já tinha dito quase tudo que o incomodava.
O motivo inicial dele ter ido ali, fora os atos de vandalismos ocorridos no dia 8 de Janeiro na Capital Federal brasileira, praticados pelos autointitulados patriotas, guardiões da justiça e da verdadeira moralidade cristã.
Sua confusão mental e o medo de perder o trono do sub mundo para essa gente o fizera procurar o Criador para uma diálogo pessoal depois de mais de 5 mil anos, desde Jó, o justo.
Ainda que sob suspeitas, de certa forma ele percebeu que seu título de chefe das hostes infernais ainda não lhe fora tomado e dado ao “povo santo”, mesmo tendo estes cometido ou confabulado delitos que nem ele mesmo como pai da maldade tivera tanta criatividade.
O Diabo se deu conta de que o “povo remido” estava mais pra seus auxiliares do que para seus concorrentes, pois mesmo tendo astúcia e cara de pau ao extremo para negarem ou terceirarem os próprio feitos, eles eram burros e atabalhoados de fazer dó. Jamais poderiam competir com um ser tão antigo e “esperto” como ele.
Apesar de tanta altivez, estes outros estavam mais para comediantes pastelão de baixo orçamento. As badernas e confusões causadas por eles naquele dia histórico, mais atrapalharam do que ajudaram o retorno do Jair.
Do fechamentos de estradas vicinais logo após a derrota nas urnas até a tomada do planalto por alguns míseros instantes, era uma asneira atrás da outra que essa gente fazia em nome de DEUS, da PÁTRIA e da FAMÍLIA.
Não demorou muito para que alguns patriotas percebessem que no quesito família, o mito se referia apenas a sua própria, não às dos outros.
Enquanto isso, aqui na terra quase 70 dias já havia se passado desde o momento em que tivera início a conversa entre os dois soberanos que dominam e povoam a mente de mais de mais de 2 terços da população cristã ao redor do mundo.
Lá nos céus (onde tudo é mágico e o tempo passa de forma diferente), apenas duas centenas de minutos havia se passado.
Nesse ínterim, entre um desabafo e outro, cenas eram exibidas na tela da TV celestial, corroborando com a dor e confusão mental que do Tinhoso, que sentia ao ver o seu trabalho sendo executado pelo “cidadãos de bem” sem sua supervisão ou liderança.
Cenas dantescas e crimes bárbaros cometidos contra pessoas, a natureza, a ordem fiscal e pública eram mostrado aos montões.
Os canais de TVs humanos de forma tendenciosa ou não, faziam questão de focar nos crimes e delitos cometidos pelo ex-gestor nacional e sua trupe.
O Diabo sentia-se lesado nessas horas. Era como se sua autoridade estivesse sendo minada por eles, as “pessoas de bem”.
Como forma de vingança, ele passou a narrar a Deus outra vez (como se Ele não soubesse), o modo como o seu Unigênito era tratado aqui na terra. Citou como ele estava sendo usado, abusado e humilhado, justamente por aqueles que diziam ser representante da Tríade Cristã.
O diabo fez questão de romper o devaneio de ambos mediante às cenas que se desenrolavam no ecrã celestial, dizendo:
-Então Deus, não me dissestes se tens ciência de tudo aquilo que os líderes religiosos tem feito com o seu filho. Seja sincero, tu és conivente com estas coisas?
Uma onda de furor percorreu o semblante de Deus. Logo em seguida um misto de piedade e angustia inundaram sua face ao lembrar-se do seu filho na cruz.
Sem querer, enquanto revivia a cena, como em um sussurro Ele deixou escapar:
-Eli, Eli, Lama Sabactâni!
Aquelas eram palavras impactante até mesmo para o Tinhoso, o ser desprovido de misericórdia, segundo a tradição cristã. Ele sabia muito bem a dor que aquela frase exprimia.
Naquele instante Ele parecia sentir dó da angústia do criador, que enquanto citava aquela frase em aramaico, olhava para a terra e estendia uma de suas mãos, como se estivesse em transe, tentando alcançar outra pessoa em desespero aqui embaixo.
Num gesto involuntário e inconsciente Ele tentava tirar seu filho daquele abismo de sofrimento, revivendo a mesma cena da crucificação de dois milênios atrás.
No calvário, Jesus não pudera retribuir o gesto e tocar o seu pai, pois estava com ambas as mãos e pés cravados em uma cruz. Apenas balbuciou em um grito lancinante as palavras mais dolorosas que um pai poderia ouvir:
-DEUS MEU, DEUS MEU: POR QUE ME DESAMPARASTES?
Esta era a tradução literal daquela icônica citação, dita no idioma local da época e lugar em que os fatos supostamente aconteceu.
Esta tinha sido as últimas palavras em vida de seu amado filho, que na cruz, após ser julgado como um malfeitor, também fora cuspido, esbofeteado, pregado num madeiro e por fim tendo sido o seu corpo atravessado pela lança de um soldado romano, expirou!
Ao lembrar-se daquela cena e sentir outra vez a dor Gólgota, a psique de deus foi abalada e suas emoções angustiosas causaram tremores aqui na terra, de modo semelhante àquela fatídica tarde de Sexta-Feira do ano 33 da Era Comum lá no monte das caveiras.
Cismos de alta intensidade e enchentes de grandes proporções foram sentidas em algumas partes do globo nesse instante em que a reprise do calvário forçou uma outra onda de angústia.
As emoções do Divino abalaram as estruturas do nossos planeta. Rememorar a imagem de seu filho naquela situação fazia abalar até mesmo o inamovível Deus.
Mesmo sendo o seu filho uma versão de si mesmo, ver a si próprio morrer na cruz enquanto pedia ajuda a sua própria pessoa enquanto morria, era demais até pra ele, o Todo Poderoso.
Sendo vítima ou não de um roteiro tosco, plagiado de outros deuses, povos e épocas diferentes, Ele (Deus) estava somente seguindo o papel imposto pelos “cineastas da fé”.
Seus sentimentos também estavam preso a este constructo e por isso ele sentiu o que sentiu quando vira a penitência de seu filho (outra vez, in memoriam).
Bem verdade é que na ocasião do martírio passado, o seu filho se ofereceu, dando a Si mesmo em favor de muitos, no intuito (esperança) de redimir toda a humanidade.
Ele queria salvar os humanos da ira de Deus e como oferta expiatória se deixou crucificar, mesmo tendo poder de acabar com tudo aquilo num estalar de dedos caso quisesse mas, tudo era parte do seu plano redentor.
Mesmo assim, Deus o Pai, sofrera bastante com toda esta encenação (já que o Cristo tinha planos de ressurgir ao terceiro dia).
Ainda assim, Jesus (na condição de Deus encarnado), pedira ajuda a Si mesmo (na condição de Deus incorpóreo), como se quisesse vingança pelos feitos humanos cometidos contra Si, ao mesmo tempo em que desejava aos humanos a piedade do pai, por considerar insano os atos de sua própria criação.
Dizem que para um bom entendedor meia palavra basta. Esse porém não é um contexto simples de absorver. Nada nesse enredo parece fazer sentido. Apenas os arquétipos talvez, possam ser usados por alguns para propósitos específicos, sejam estes políticos ou não.
Para um crédulo porém (ou mau entendedor), nem um oceano de explicação serviria para explicar tais estória e propósitos sociais.
Para estes últimos, o que vale é crer, submeter-se cegamente às lideranças, fingir que entendeu tudo e seguir à risca às tradições do grupo religioso qual está (ou fora forçadamente) inserido. Nesse ritmo, chega-se a um ponto em que é difícil discernir a religião do religioso, pois ambos viraram uma só coisa!
Os religiosos...
Ahh...Sim! Foram justamente os religiosos e líderes políticos daquele tempo os responsáveis pela morte de seu filho, o Cristo (lembrou-se Deus). Agora, outra vez, ambos, de igual modo estavam sendo os mentores da segunda penitencia do seu filho aqui no mundo dos homens, martírio esse que já durava mais de 2 mil anos...
Tudo se repetia ou nunca deixara de ser? Era um incógnita ou um evidencia? Só Deus o sabia...Mas jamais ele diria a ninguém!
Diferente de um religioso político (que pode fazer da política uma ferramenta útil à fim de liderar rebanhos e distribuir de forma justa os recursos sociais), o político religioso é a encarnação do próprio mal. Nem o diabo pode com estes! Era justamente por causa desse tipo gente que o Tinhoso estava ali, cheio de complexos e com a auto estima na lama.
No quesito malignidade, este último (o político religioso) não conhece limites quando o intento é conquistar o poder.
O uso da religião, do folclore, de ideologias baratas (ou passageiras), bem como outros símbolos abstratos do arcabouço cultural humano... tudo pode ser usado em favor deles.
Tudo isto é apenas um pedaço minúsculo daquilo que ele pode tomar como objeto particular para manipular fatos reais ou criar universos paralelos e inimigos imaginários, de modo que qualquer situação ou contexto possa ser usado ou distorcido em favor do seu progresso e ascensão ao trono.
Ao redor destes só costumam viver os asseclas, acéfalos, vassalos e súditos de todo segmento social. Os oportunistas, os cretinos e os hipócritas são seu melhores amigos. Já os pensadores lhes servem de pesadelo.
Quem não se encaixar no perfil de sectário desta medíocre besta (o político religioso), será duramente fritado até a secura e sua real essência sumirá com o tempo, restando apenas as cinzas, disponíveis à perversidade dos sectários deste suserano, que as pisarão com os próprios pés, profanando não somente os restos mortais mas também a memória daqueles que um dia foram aliados para lodo depois se tornaram inimigos apenas por se manter fiéis aos princípios e valores antes estabelecidos.
Os que fazem uso do poder público ou religioso como ferramenta de aflição e tortura contra o seu próprio povo é o pior tipo de ser humano que existe. Não há limites ou escrúpulos em suas ações. Se fosse real o inferno, o demônio teria de dividir o seu trono com essa gente por toda eternidade, pois até as hostes infernais seriam vítimas de suas manipulações.
Palavras como honra, dignidade, justiça, equilíbrio e igualdade não existem em seu vocabulário interior. No exterior eles vomitam santidade. Repetem tanto a própria mentira, que em suas débeis consciências se tornam seres iluminado só por isso. Ledo engano.
Infelizmente, era justamente no meio dessa gente que Jesus, o filho de Deus estava metido desde o século quarto de nossa era.
Criado e usado como mula pelos católicos primordiais por mais de mil anos à fim de dominar, extorquir e amedrontar os súditos império romano, a menos de dois séculos atrás Ele passou a fazer parte do mostruário das conquista dos evangélicos, que após sequestrá-lo e aprisioná-lo, exibe-O como um troféu, como cão de guarda ou como arma de destruição em massa.
Em outras ocasiões trata-O como um gênio de lâmpada mágica, bastando esfregar o recipiente que o contém (a bíblia), para que ele saia de lá realizando instantaneamente todos os tipos de desejo pessoal e espúrios dos que a possuem.
O diabo fez questão esfregar esses detalhes “na cara de Deus”.
Chamou-O então e abrindo os portais dimensionais aqui na terra, mostrou simultaneamente os locais onde o seu filho era exibido com frequência, de modo incessante, sem folga, sem trégua, como se fosse um objeto qualquer...
Disse o diabo em tom jocoso:
-Veja isto Deus!
Deus mirou na tela que mostrava o mundo dos homens e aquietou-se. Eram cenas horríveis de se ver!
Centenas, dezenas, milhares de igrejas no mundo inteiro... cheias de gente clamando o nome de seu filho, exigindo sua presença em todos os lugares simultaneamente!
Eles cobravam do Cristo milagres à curto e longo prazo. Requeriam de imediato a morte dos seus inimigos. Ordenava-Lhe que os matassem com um câncer brutal; que ficassem desempregados e que todo tipo de moléstias pairasse na vida ou na família (inteira) de outros cristãos, seus compatriotas de fé... Faziam isso sem remorso algum, até por uma minúscula divergência de opinião, inclusive acerca dos ritos litúrgicos ou outras bobagens.
Esse era o MARAVILHOSO MUNDO CRISTÃO.
Era para isso que o Cristo servia! Era assim que ele era usado. Pôr em práticas seus ensinamentos como o perdão, a tolerância, a reciprocidade e o altruísmo inteligente...Que nada. Isso era coisa de otário! Desde o início dos tempos que os deuses serviam para fins malignos mesmo. Era assumindo o divino, que o homem encarnava o próprio demônio. Sempre foi assim! Jesus foi um caso à parte, trouxe essa mensagem estranha de amor ao próximo e por isso fora morto (era isso que interiormente eles pensavam).
Na exibição, o diabo mostrou ainda o ambiente interno nas igrejas evangélicas: era crente brigando por cargos; crente doando valores absurdos de dízimos e ofertas à fim de ter um favor maior de Deus em relação aos outros fiéis; crente casada traindo o marido com o próprio pastor para depois do coito, ambos ajoelhando, orarem pedindo a Deus a morte dos seus conjugues “cornos” (marido da fiel e esposa do líder religioso) para que viúvos, pudessem casar-se, encobrindo assim o possível fruto daquela relação indecente, igualzinho como fez Davi ao possuir Bate Seba e mandar pra linha de frente Urias.
Além disso, incestos, estupros, extorsões, pedofilia, abuso moral, financeiro, de incapazes, desrespeito às Leis Universais dos Direitos Humanos...
Eram tantas transgressões, mas tanta vulgaridade, tanta libertinagem em nome de Cristo, que de modo consciente ou nãos, os fiéis fechavam os olhos entregando tudo nas mãos de deus, fingindo não ver tudo aquilo. Quando não, punham a culpa no Diabo como sempre fizeram.
Ao ver a citação indevida do seu nome nas lascivas exibições cristãs, o diabo quase pula da do divã e de modo explosivo disse:
-Obra minha não! isso é coisa dos seus filhos, dos seus servos, dos seus ungidos e dos “santos” que ao redor destes são coniventes com tudo isso!
Deus rio daquele sobressalto e achou estranho tal guinada, já que eles os “santos” faziam isso desde sempre e não havia nada de novo naquele ato.
Acontece que o flagrante deixara Lúcifer desconfortável!
Ele abrira aquelas telas para de certa forma incomodar a Deus e não contrário...
Ele persistiu nas exibições, mesmo correndo o risco de ser outra vez cutucado pelos “santos”.
Agora dessa vez, ele pusera um cena bem constrangedora para ver o que deus diria.
Exibição era a seguinte: num baile funk brasileiro, uma cantora adulta com trejeitos infantis, cantando músicas cujo repertórios não passavam de cinco palavras e batidas e dois acordes, ela enchia os ouvido dos presentes com palavrões e indecências nunca vistas antes.
No ritmo das batidas, a lascívia, luxuria e obscenidade enalteciam ainda mais o coro, levando o público orgasmos psíquicos. Além disso, dançarinos davam fortes estocadas nas nádegas desta jovem “atriz”. Lambidas em sua própria genitália por outras pessoas também eram permitidas. O público delirava.
Deus e o diabo ficaram constrangidos com a cena, atônitos, sem saber onde aquilo poderia parar.
Ao final da baderna a cantora estava sendo aclamada pelo público como “rainha da putaria”!
O Diabo O “cutucou dizendo”:
-Veja agora o que ela vai dizer. É sobre Ti!
No mesmo instante, a “deusa” que estava sendo ovacionada no baile, ajoelhou-se e como exaurida após travar uma grande batalha ou vencido uma guerra já quase perdida, ela se derretia em lágrimas e em soluço dizia:
-É DEUS! ISSO É DEUS! TUDO ISSO É OBRA DE DEUS...Eu devo a ele tudo isso!
Que constrangedor...
Diferente das outras vezes em que besteiras foram ditas ele levara a culpa, desta vez Maligno deixou os créditos daquela “conquista” todos na conta de Deus!
De forma risonha, tirando metafórica mente o próprio chapéu, o Maligno disse:
-Senhor, como ela mesma disse, o mérito é todo seu. É pra isto que eles usam a ti e ao teu filho. Meus cumprimentos!
Deus irou-se momentaneamente coma insubordinação do capeta.
Teve vontade de acabar aquela conversa e num estalar de dedos enviar seu inimigo de volta ao reino infernal. Porém era preciso que o seu rival sentisse que parte do “povo santo” não era uma ameaça ao seu reino e sim um aliados deste.
O povo de Deus, sempre dera mais lucro ao submundo que ao reino dos céus.
Em nome de Deus, a depender da região do planeta, a prática era de 99 atos de maldades e injustiças contra apenas um de bondade e amor por parte dos crédulos. A própria igreja usou Deus, sua imagem e o seu filho como máquina de guerra, ódio e tortura em mais de 90% das vezes que julgou as ações dos homens ou interferiu na política.
O diabo tinha 90 vezes mais aliados do que pensava.
Deus não podia dizer-lhe isso claramente. Ele tinha de entender por si mesmo, ainda que fosse do modo “doloroso”.
CONTINUA...
Texto escrito em 18/03/23
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.
Obs.: Esta é a sexta parte do texto. Na próxima semana finalizaremos. As demais partes poderá ser encontrada aqui, nesta mesma página ou em meu perfil pessoal. Caso não as encontrem, me chamem no PV que as envio. Grato pela companhia!