O ESTRANHO UNIVERSO DA MENTE

 

O ponto de equilíbrio

 

Talvez, num ponto qualquer do universo, alguém esteja observando o nosso sol e o vê como uma estrela morta. Aos seus olhos ele já morreu ha milhões de anos e esse observador só agora está recebendo a luz que ele emite. Diante dessa possibilidade, perfeitamente exequível no desenho do universo, o fenômeno da existência passa a ser uma coisa tão relativa quanto a nossa capacidade de visão. A existência só existe para quem está em relação com ela. É uma especulação extravagante, mas podemos constatar que para nós, vivendo neste mundo, tudo nasce; mas para aquele observador do início deste texto, tudo já morreu. Nós estamos vivos, mas para ele nós já morremos. Tudo isso dentro do mesmo espaço dimensional. Então, se é possível ver os mortos de algum ponto do universo, então é porque vida e morte são fenômenos que coexistem no mesmo espaço.  

Se aceitarmos esse pressuposto não poderemos mais aceitar como delírios metafísicos as proposições do espiritismo kardecista, nem desconfiar das visões dos taumaturgos que estão na origem de toda a filosofia oculta.

A ótica positivista ainda usa os conceitos do espaço euclidiano para explicar a visão que ela tem da realidade. Com isso reduz a natureza a padrões geométricos puros. Mas sabe-se hoje que que essa pureza não existe na natureza. Ela não apresenta uma perfeição geométrica de formas, mas sim uma tendência para buscar um equilíbrio entre seus diversos componentes.

Se essa é uma tendência provável entre as formas físicas do mundo real, também acontece o mesmo com as formas ideais. Nossos conceitos de justiça, bondade, felicidade, divindade, verdade, que Platão chamava de arquétipos gerados pelo pensamento dos deuses, são tão mutáveis quanto as paisagens da natureza. E assim acontece justamente porque eles, como todas as formas que o universo produz em suas interações energéticas, buscam sempre um ponto de equilíbrio em face da própria realidade que ela cria.

É nesse sentido que podemos entender o bem e o mal. Se a energia que formata o universo se divide em duas fases distintas que precisam encontrar um ponto de equilíbrio na natureza para gerar as massas que preenchem o vazio cósmico, no nosso cérebro, um simulacro desse processo também ocorre para gerar os pensamentos e os sentimentos que informam as ações que realizamos no mundo. 

Hitler, Stalin, Mao Tse Tung, Jim Jones, Pol Pot, o ditador cambojano responsável por mais de um milhão de mortes, e todos os genocidas e assassinos seriais do mundo foram pessoas aparentemente normais. Mas cometeram, a nosso ver, atrocidades indescritíveis. Não sentiam culpa? Certamente não, pois se sentissem não teriam feito o que fizeram. A psicologia explica esse fato como sendo um caso de “pensamento dicotômico”, ou seja, um fenômeno que ocorre com algumas pessoas, cujo cérebro tem o poder de dissociar o positivo e o negativo em seus comportamentos, fazendo com que os dois conceitos tenham uma única valoração. Bem e mal assumem um único rosto. Na moderna psicologia esse é o comportamento de um psicopata. Mas sabemos que a psicopatia é uma doença extremamente difícil de diagnosticar. E se ela não se hospeda no inconsciente de todos nós, esperando somente uma âncora neurológica para ser acionada.

 

O Princípio da Incerteza.

 

O nosso “eu” é semelhante a uma entidade quântica. Por isso o comportamento do ser humano é tão imprevisível quanto uma partícula de energia observada no écram de um acelerador de partículas. Se os “quantas” de energia se comportassem de acordo com leis específicas, como prevê a física clássica- a chamada mecânica newtoniana- nós também, como resultados das interações energéticas que formatam a massa e a vida do universo também obedeceríamos à essas leis e não haveria tantos desencontros de personalidades no mundo.

O experimento do Gato de Schroedinger , que mostra que ele pode estar cinquenta por cento vivo e cinquenta por cento morto é um claro exemplo de que, no mundo quântico, um ser pode estar vivo e morto ao mesmo tempo.[1]

Esse é uma particularidade do nosso cérebro, que funciona como um acelerador de partículas num laboratório de física quântica. Ele é como um moderníssimo computador que combina possibilidades a uma velocidade extraordinária. Mas até que ele faça uma escolha, todas as possibilidades estão abertas. Feita a escolha desaparece a aleatoriedade. Essa é a grande dicotomia a que o ser humano está exposto. Antes de fazer uma escolha o sim e o não convivem na mesma resposta.

A diferença é que um cérebro eletrônico só pode trabalhar com o conteúdo que nós colocamos nele. Ele pode ampliar esse conteúdo combinando informações que constam da programação que lhe foi instalada. Mas ele não tem “mente”. As derivações que ele pode fazer não são produtos mentais, mas sim tratamento de informações. Ele pode até fazer deduções, mas não tem “insights” nem pode fazer induções que não tenham uma base de dados consolidadas.[2]

O problema com o nosso cérebro fica por conta dos meios que ele tem para expressar o conteúdo da nossa mente. Esses meios são a nossa linguagem. A linguagem escrita e falada, como já referido neste estudo, é um “mapa” muito impreciso do nosso “território” mental. Já se disse que a nossa mente está conectada com o universo. Ela é o próprio universo. O problema é que a nossa consciência, que depende da linguagem para ser manifestada, só consegue descrever cinco por cento desse território (segundo a psicologia oficial) ou só um por cento, segundo a ótica cabalista exposta por Berg.[3]

Mas os cientistas da física quântica, através de experiências feitas em laboratórios, têm motivos para acreditar na existência de múltiplos universos. E quando se prova que a mente humana interfere no comportamento das partículas energéticas que constituem o universo, a imaginação vai mais longe, pois ela permite supor que ela, a mente, está em estreita combinação com a consciência cósmica. Mente humana e o universo vivem um romance cósmico.

 

A consciência cósmica

 

A consciência cósmica existe? E se existe, de que forma estaremos ligados à ela? Se podemos destruir um planeta, também não podemos construir um? De onde vem o pensamento? Do cérebro? Será o cérebro o centro do pensamento ou ele é apenas um instrumento que o processa? Mente e cérebro são a mesma coisa? Pode-se dizer que o cérebro é hard e a mente é software?

A teoria que fundamenta as técnicas desenvolvidas pela PNL sustenta que sim. Que o nosso cérebro é programado como se fosse um computador. E a linguagem usada para essa programação são as formas pelas quais os nossos sentidos comunicam ao nosso cérebro o conteúdo de uma mensagem recebida do ambiente em que vivemos. Essas formas compreendem uma linguagem falada e escrita, mas principalmente uma linguagem corporal. Esta última é mais eficiente até, para “implantar” em nosso sistema neurológico crenças, valores e critérios de julgamento, que são os elementos que informam os nossos “programas de comportamento”. Exemplo: o chefe chama o seu subordinado para “elogiar” o seu trabalho. Mas enquanto fala, seus lábios sorriem sorrateiramente com desdém, seus olhos refletem sarcasmo, sua voz soa com ironia. No que a mente do subordinado acreditará? Nas palavras elogiosas do chefe ou nas mensagens da sua linguagem não verbal?   

 Certamente as mensagens do corpo falarão mais alto na “programação” que o cérebro do funcionário desenvolverá a respeito da apreciação do chefe pelo seu trabalho. Mas isso acontece porque o cérebro funciona não só como um receptor de informações, mas dentro dele há uma função que interpreta as informações que recebe. Essa função está hoje bem compreendida e delineada pelas pesquisas realizadas por neurocientistas e profissionais da psicologia e da medicina psicossomática.

Antônio Damásio, um dos mais respeitados neurocientistas da atualidade faz uma interessante incursão nesse tema e nos brinda com algumas informações bem interessantes. Uma delas é uma crítica à crença comum, induzida pelo pensamento cartesiano, de que o conhecimento e a construção de hipóteses seguras no pensamento filosófico têm que, obrigatoriamente, ser baseados na razão, pois somente ela garantiria a verdade dos postulados construídos. Isso quer dizer que a verdade de um postulado deve excluir as emoções, as crenças, a história de vida, os sentimentos, as sensações de fundo subjetivo e o interesse pessoal do articulador. Através do estudo de um caso real, de um dos seus pacientes, Damásio verificou que a razão e a emoção são inseparáveis no sistema neurológico humano e que há não razão pura no pensamento do homem. [4]

Prova disso é o fato de que a mente de um psicopata não identifica conceitos como bem e mal. Ambos são a mesma coisa na sua cabeça. Ele pode afagar uma criança com ternura, após ter assassinado a família dela com requintes de crueldade.

Ninguém pode dizer ainda, com certeza, como os neurônios se conectam para produzir pensamentos e formar as palavras que dão sentido comunicativo a eles. No entanto, o nosso sistema neurológico funciona como uma rede de comunicação onde o pensamento, a fala e o movimento se coordenam automaticamente numa configuração específica para produzir a ação. Não há aleatoriedade na sua configuração. O rosto de uma pessoa querida, quando a memória elicia a sua imagem, vem à tela do nosso cinema interior com toda a sua totalidade conjuntiva. É a imagem completa de um rosto, e não como um rol separado de coisas, tal como uma boca, um nariz, um par de olhos, orelhas, lábios etc, que precisam ser juntados para formar um conjunto. Mas junto com a imagem vem também um sentimento associado que não pode ser isolado do corpo completo dada informação.

O cérebro humano funciona holisticamente, produzindo informação, como se fosse um computador extremamente sofisticado, mas este último, o computador, termina o seu trabalho na projeção da imagem, sem transmitir a emoção que a acompanha. Nesse diferencial está a grande diferença entre a produção da natureza e o artefato construído pela tecnologia desenvolvida pelo homem para imitá-la.

 

        Por seu lado, a doutrina da Cabalá nos diz que o homem foi criado segundo o modelo que Deus projetou para o próprio universo. Ou seja: um recipiente de capacidade infinita para que ele pudesse recepcionar a Luz. “Deus criou o corpo do homem conforme o modelo do Mundo Superior. Força e vigor irradiam do centro do corpo, onde está o coração, que nutre todos os membros. E o coração se une ao cérebro, que está na parte superior do corpo. O mundo, que é também um corpo. Foi formado da mesma maneira. Quando Deus criou o mundo, ele pôs as águas do oceano ao redor da terra.”[5]

Nessa visão está inserta a ideia de que o homem e o universo estão em estreita relação simbiótica, de maneira que o “corpo” do universo seria uma construção arquetípica semelhante ao corpo do homem. Essa intuição, como vimos, também andou frequentando a imaginação do grande artista da Renascença, Leonardo da Vinci, quando elaborou o desenho do Homem Vitruviano como modelo do homem universal, que, segundo ele, reproduziria, em suas medidas, as mesmas proporções daquelas que constroem o universo físico.

Não é demais supor, portanto, que o cérebro do homem hospede uma mente capaz de ir muito além da pequena circunscrição territorial que a psicologia estipula em cinco por cento da realidade e alguns mestres cabalistas, como Yahuda Berg, em apenas um por cento.

O que ocorre, na verdade, como diz a PNL, não é uma incapacidade do nosso cérebro para ir além dessas fronteiras que as barreiras da matéria colocam aos nossos olhos. Não é o cérebro que tem essas limitações, mas a nossa capacidade de representação do que a nossa própria imaginação consegue acessar. Pawels e Bergier, pioneiros na organização de textos sobre o que chamam de Realismo Fantástico, dizem, no prefácio do seu hirsuto tratado “O Despertar dos Mágicos”, que é por falta de imaginação que os literatos e os artistas em geral vão procurar o fantástico fora da realidade, entre as nuvens. Pois o fantástico está nas entranhas da terra mesmo, e ele é tão real quanto a matéria mais preciosa que dela se extrai. Isso porque, segundo esses autores, o fantástico não é uma violação das leis naturais, uma aparição que rompe os limites da realidade acessível aos nossos sentidos, ou mera projeção de uma mente desconectada do mundo real. Segundo esses autores o fantástico é uma visão mais ampla da realidade, contemplada diretamente por uma mente desperta, cujos sentidos não estão limitados por valores preconcebidos, hábitos e conformismos outros que a nossa cultura nos impõe. A realidade, vista com os olhos do espírito, se apresenta diferente daquela que as imagens visuais do mundo físico nos mostram. Nestas, as cores, as dimensões, os movimentos, sons e cinestesias assumem características outras que os sentidos, em sua atividade normal, filtrada pelos véus da racionalidade, não conseguem exprimir. E dessa forma revela o grande problema do homem moderno, que é o reducionismo, ou seja, a necessidade de tudo conformar a um sistema, ou de uma explicação racional dos fatos, tornando-o aceitável para uma mente que se diz normal.[6]

 

Mas, como diz Teilhard de Chardin, na escala do imenso do universo e no ínfimo da própria matéria, só o fantástico tem proba-

bilidade de ser verdadeiro.[7]  E as pesquisas sobre a intimidade da matéria, realizadas pelos cientistas da física quântica estão mostrando a verdade dessa assertiva com fartura de provas. Uma dessas provas está no estado de entrelaçamento que existe entre um par de partículas de energia que interagem entre si, de modo que o estado quântico de cada uma não pode ser descrito separadamente. Quer dizer, elas formam uma espécie de casal inseparável, que embora tenham suas propriedades individuais, mas quando se unem tornam-se um sistema insuscetível de separação.  

 

         Uma nova visão da realidade

 

 Para qualquer teoria do conhecimento, o axioma deduzido por Alfred Korzybski, de que o mapa não é o território, é valido. Tudo que entra nos nossos sentidos (e por consequência, em nossa mente e coração) é uma parte insignificante do que existe no universo. Nossa sabedoria, nesse sentido, é quase nula e a parcela do real existente que é objeto do nosso conhecimento é tão pequena que somente a nossa imensa vaidade não nos deixa ter consciência disso.

Por isso a nossa dificuldade em perceber o que existe para além do mundo real. Para a nossa mente positivista, essa realidade é duvidosa porque não podemos detectá-la com os nossos sentidos, embira tenhamos o pressentimento de que ela existe porque projeta efeitos no mundo real.

A prova da existência de uma realidade além da que conhecemos em nossa dimensão está sendo encontrada nos laboratórios da física moderna, com os experimentos da chamada física quântica. O conceito da “não existência”, tão íntimo para os estudiosos da Cabalá, é agora uma realidade observável e detectável pelos estudiosos da física atômica, que veem no fenômeno por eles chamado de “não localização espacial”, um paralelo daquilo que os cabalistas definem como a “existência negativa”, ou, num outro paralelo, aquilo que os cultores do espiritismo chamam de “mundo espiritual”.

Como diz o iminente cabalista Rabi Kook, “qualquer definição da realidade divina leva à apostasia”. Isso porque, toda definição de algo que não pode ser medido nem detectado pelos nossos sentidos, ou por qualquer aparelho criado para esse fim, seria restritiva, unilateral e conformadora. E o nosso cérebro foi dotado pelo Criador de uma qualidade que o faz dinâmico e desenvolvimentista. Isso é assim para que possamos entender amanhã o que não logramos compreender hoje. E como sabemos, o universo não é estático. Ele está em franco desenvolvimento. Ele aspira à infinitude. E toda existência busca atingir um estado de conhecimento cujo objetivo é o que ela desconhece.

Mas o que é conhecimento? O que os nossos sentidos captam no mundo da realidade objetiva tem de fato, uma existência real? Schopenhauer dizia que não. Sua ideia era a de que o mundo em que vivemos é resultado do nosso desejo e da representação mental que fazemos dele. É, de uma outra forma, a mesma coisa que Korzybsky disse: que o mapa que fazemos do mundo não corresponde ao território real. Em outras palavras, para Schopenhauer, o mundo é uma ilusão dos nossos sentidos e para Korzybsky há muito mais coisas na realidade que os nossos sentidos não captam, do que na pequena porção que eles trazem ao nosso conhecimento.

 

A física clássica e a física quântica

 

Novas experiência com o mundo atômico está dando provas fáticas dessa realidade. Há uma diferença essencial entre as descrições que a física clássica faz de um corpo material e o que a física quântica faz da composição da matéria. Na física clássica, os corpos são descritos pelas suas propriedades físicas, tais como peso, volume, temperatura, dimensão, textura etc. Na física quântica essas propriedades são secundárias. Aqui, o que importa são as informações do seu estado e o seu comportamento sistemático.

A física clássica vê o mundo como uma coleção de corpos materiais. Esses corpos são compostos por partículas e o cosmo inteiro é constituído por elas. Na física quântica corpos materiais e sistemas são parte de uma diferente realidade. Nela ocorrem fenômenos que contradizem o senso comum. Um deles é o da não localização espacial. Para a física clássica, um corpo que não pode ser localizado no tempo e no espaço não existe. Assim, nada pode ser feito, nem pode ser considerado real se não for detectada a sua presença física. Isso quer dizer que não podemos mover um objeto sem tocar nele. Isso significa também que um objeto não pode influenciar outro à distância, pois a influência que um poderia ter sobre outro que está separado dele, distante, precisaria de um “meio” através do qual a comunicação deve ocorrer.

Essa experiência permeia toda a nossa vida diária. Para provocarmos qualquer movimento em um objeto é preciso tocar nele. Se ele está distante de nós temos que usar um “meio” para atingi-lo. Dessa forma, na mecânica clássica, um objeto só pode influenciar outro (ou seja, só pode haver comunicação entre um objeto e outro), quando eles ocupam um lugar na realidade espaço-temporal. Ou seja, a mecânica clássica, newtoniana, só pode operar na presença da localização.

Já para a física quântica a necessidade de uma presença física no espaço-tempo não é necessária. Os estudiosos dessa estranha propriedade da energia descobriram que uma partícula pode influenciar outra independente de ter uma localização no espaço-tempo observável. Quer dizer, uma partícula não precisa ter uma “existência real” para afetar outra cuja presença física pode ser detectada. Ou seja, que elas podem se comunicar sem um meio físico intermediário para fazer "ponte" entre elas. Não importa a distância que exista entre elas (até porque essa distância não pode ser medida), a comunicação ocorre porque elas são vistas como um sistema único. Quando uma mudança ocorre em uma partícula, a outra imediatamente “sente” a mudança. Esse fenômeno é chamado de EPR, derivado dos nomes dos cientistas que descobriram a sua ocorrência:(Einstein, Podolsky e Rozen).

A ocorrência dessa propriedade das partículas em estado quântico foi observada também por cientistas franceses no fim do século vinte, contradizendo um dos fundamentos mais sensíveis da física clássica, o de que só podemos admitir realidade objetiva na presença da localização espaço-temporal.

 

O entrelaçamento quântico

 

Esse fenômeno é hoje chamado de entrelaçamento quântico. Isso ocorre quando um par de partículas são geradas ou interagem de modo que o estado quântico de cada uma não pode ser descrito separadamente mesmo que uma esteja muito distante da outra. Esse estado só pode ser descrito como um sistema. Num estado de entrelaçamento não se pode seccionar o sistema para estudar as partes separadamente. Sistemas entrelaçados são inseparáveis. O entrelaçamento ocorre onde há reciprocidade entre seus componentes, isto é, um transmite energia para o outro e vice-versa. (É, por analogia, o que os pitagóricos entendem por egrégora).

Pode-se dizer que o entrelaçamento quântico é algo sobrenatural. Mas ele existe porque suas influências na realidade observável podem ser detectadas e medidas. Mas ao mesmo tempo não existe porque a sua “presença” física na realidade objetiva não pode ser medida nem detectada. É o que os praticantes do espiritismo chamam de "fluído espiritual". Ou como o poder da prece, ou dos rituais, ou outros simbolismos que visam captar energias que as tradições religiosas ocidentais chamam de espirituais e os orientais de prânica.

Em outras palavras, é possível conhecer as consequências, mas não a causa desses fenômenos. Isso porque, no mundo quântico, cada partícula não carrega informação. Ela tem informação, ou seja, ela é a própria informação. Ela é uma forma de energia que não precisa necessariamente da dimensão do espaço-tempo para manifestar as suas propriedades. Por isso, a informação quântica não pode ser medida de forma independente, mas apenas pode ser detectada e quantificada no interior de um sistema.

Foi verificado também que o valor de um sistema de informação, no mundo quântico, pode mudar à medida que seu estado muda de acordo com as interações que faz com outra partícula localizada no mundo real. Dessa forma, ele é igual a qualquer corpo que sofre mutações de acordo com as mudanças ambientais. Isso tem sido usado pelos novos teóricos da física quântica e sua aplicação no mundo espiritual como prova da possível interação entre espíritos encarnados e desencarnados, e da possível influência que uns poderiam exercer sobre outros.  

É nesse sentido também que os estudiosos da física quântica veem no comportamento das partículas atômicas um claro exemplo das intuições cabalistas, que afirmam a “Existência Negativa” de Deus como causa da existência do universo real, pois que, segundo a Cabalá, o universo físico é resultado das manifestações de Deus no mundo da realidade objetiva. Dessa forma o universo real seria uma consequência da Vontade Divina em gerar um “resultado” da sua Potência manifestada. Seria, grosso modo, uma adequação conceitual da teoria deduzida por Einstein na sua teoria da relatividade, expressa na fórmula E=mc².

Destarte, haveria um entrelaçamento quântico entre Deus e a sua criação, ou seja, Entre Ele e todas as realidades universais, particularmente com a humanidade. Esta, aliás, com mais ênfase, por que ela realiza a parte mais sutil desse entrelaçamento, já que é no ser humano que repercute, em maior escala, a sua influência no mundo real.

Á luz desse princípio, Deus não pode ser entendido no contexto das religiões oficiais, que O veem como uma Entidade que administra um processo do qual somente Ele sabe a finalidade e o resultado. No entanto, Deus, o universo material, a vida e a humanidade, enfim, a totalidade dos atributos do cosmo, visíveis e invisíveis, como um todo, formam um sistema, cujo entrelaçamento é indispensável. E ele só pode ser entendido como um sistema. Por isso, a doutrina da Cabalá nega a possibilidade de qualquer apocalipse, qualquer final catastrófico, porque a finalidade de todos os sistemas, como prova a física quântica, é buscar um estado perfeito de equilíbrio, onde toda a entropia que causa a desagregação desaparece.

 

A harmonia do universo

 

É só nesse sentido que podemos entender o ensinamento da Cabalá quando fala da unidade entre a alma do homem e Alma Mater do Universo, que é Deus. “Aquele que eleva sua alma a Deus é capaz de alcançar a fonte mais alta. Todas as almas não formam senão uma unidade com a Alma Divina. Aquele que perde sua alma destrói a Harmonia Divina. [8]

Destruir não, porque a Harmonia Divina é sustentada pela própria energia do Criador. E por mais que ela seja violentada pelas más escolhas feitas por nós, ela se recomporá, porque a tendência de todo sistema é buscar um ponto de equilíbrio. Mas o prejuízo, em termos de maus resultados, catástrofes e sofrimento para a própria Criação é visível e indubitável. Estamos vendo essas consequências todos os dias em nossas vidas normais.

Por outro lado, se nossa alma é feita de energia, um fragmento de Luz expulsa de um Centro Único, então ela jamais se perderá, porque energia não se perde, nem se cria, apenas se transforma, como já expresso no famoso teorema do cientista francês Antoine Laurent Lavoisier.[9]

Até porque, sendo nossas almas centelhas da Energia de Deus, elas nunca se perderiam, porque é inconcebível que Ele permitisse esse desfalque na sua própria Potência.

E como diz o Zhoar, “todos os mundos superiores e inferiores estão compreendidos na Imagem de Deus. Tudo foi e tudo será. Nunca mudou e nunca mudará. É o centro de toda perfeição. Encerra todas as imagens de cada coisa de que estamos conscientes com todos os nossos sentidos e em todas as nossas formas. Mas só a vemos como uma reprodução, pois ninguém pode vê-la em sua verdadeira forma. Tudo que sabemos é que o homem traz a maior semelhança com o original. E sabei que essas coisas só são reveladas a quem cultiva o campo.”[10]

Quer dizer: O universo, em todas as suas formas pode ser esquadrinhado pela mente humana. E um dia, a grande maioria do que hoje são tidos como segredos serão revelados. Essas revelações só acontecem de forma gradual porque isso é parte do processo. O universo é feito de relações e relações entre relações. Se tudo fosse revelado de uma só vez, como no curioso conto de Jorge Luis Borges, o Aleph, a mente humana, por não ter meios de expressar tanta maravilha, simplesmente desligaria. A propósito, é assim mesmo que a própria vida na terra se desenvolve: aos poucos, de evolução em evolução.

E também o cérebro humano, cujo desenvolvimento se dá por oposição de camadas neurais.

 


[1] O gato de Schroedinger ou paradoxo de Schroedinger é uma experiência proposta por Erwin Rudolf Josef Alexander Schroedinger, físico austríaco, com o objetivo de mostrar como vigora, no mundo quântico, o Princípio da Incerteza. O experimento consiste em colocar um gato dentro de uma caixa e fechá-lo lá dentro. Junto a esse gato, dentro da caixa, coloca-se um frasco contendo um gás venenoso, um elemento radioativo emissor de partículas alfa e um dispositivo composto de um martelo e um detector de radiação. Se o detector registrar a presença de pelo menos uma partícula alfa, o martelo é acionado e quebra o frasco, liberando o gás venenoso, matando o gato. Mas a fonte radioativa pode liberar partículas alfa dentro de um intervalo de tempo determinado, e também pode não liberar essas partículas nesse tempo. Existe 50% de chance de que o elemento libere a partícula e 50% de chance de que ele não libere. Se ele não libera a partícula, o gato vive, mas se liberar o gato morre. Podemos dizer que temos 50% de gato vivo e 50¢ de gato morto. Se não abrirmos a caixa para olhar dentro, não teremos certeza se o gato está vivo ou não. A única forma de saber é abrir a caixa. Mas nesse caso o gato poderá estar vivo e morto ao mesmo tempo! Ele pode estar nos dois estados! Como?! Essa constatação vem do chamado Princípio da Incerteza de Heinsenberg, que estabelece que no mundo quântico não é possível fazer uma medida sem interferir nos resultados dela. Assim, se abrirmos a caixa para olhar o estado do gato dentro dela, estaremos interferindo no sistema e alterando seus resultados. Essa é a diferença fundamental entre a mecânica quântica e a mecânica clássica. Na clássica podemos abrir a caixa e conferir o que aconteceu com o gatinho. Na quântica isso não é possível!

[2]  A dedução é um processo de raciocínio lógico que parte de uma certeza para a interpretação de dados ou fatos (da causa para os efeitos). Já a indução é o processo inverso, parte-se de dados ou fatos semelhantes para a definição de uma certeza comum (dos efeitos para as causas).

[3] O Poder da Kabbalah op citado.

[4] Antonio Damásio- O Erro de Descartes, Ed. Pan Macmillan, 1995,

[5] Zhoar- op citado, pg 112

[6] Louis Pawels e Jacques Bergier- O Despertar dos Mágicos- Ed.Planeta, 1986

[7] O Fenômeno Humano, op. citado

[8] Zhoar, op. Citado, pg. 79

[9] Segundo Lavoisier "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Ele estava se referindo à massa dos elementos químicos, que quando se misturavam numa reação, nada perdiam de suas propriedades, mas se transformavam em outros elementos, com uma soma energética igual aos de seus componentes. Corroborando a descoberta de Lavoisier, Albert Einstein mostra, em sua equação E=mc², que energia e massa são dois lados de uma mesma moeda – ou seja, a massa de um elemento nunca é "perdida", mas sim transformada em energia.

[10] Zhoar, citado, pg. 79