TRANSFIGURAÇÃO - E O EXERCÍCIO DE ASCESE

CONVITE À ORAÇÃO 6 - Hoje foi dia de Evangelho no Lar em minha residência. Todas as terças-feiras, nós nos presenteamos! Como de costume, estávamos, minhas filhas, meu neto e eu. Escolhemos o texto Mateus 17,1-8 para meditarmos - texto que o Papa Francisco elegeu como mote para tecer sua Mensagem para a Quaresma de 2023. Evidentemente, li a mensagem do Papa para me preparar para a coordenação do estudo da tarde de hoje. Foi maravilhoso! Ler Papa Francisco é bálsamo para alma! Como se pode verificar, no corpo da mensagem papal, o evangelho da transfiguração é uma convite a sair da “zona de conforto”, a deixar o “lugar comum”, a desbravar “as sendas sinuosas”, ainda que a nossa vida ordinária, nosso compromissos nos estimulem a permanecer nos “lugares” habituais.

Segundo o Papa Francisco, Jesus vem nos convidar para uma experiência de ascese, empenho animado pela Graça, a superar a falta de fé e as resistências em seguir Jesus. Então, entendemos que o retiro no Monte Tabor representa um chamado ao exercício de esforço e renúncia no sentido de adquirir “musculatura espiritual” e dessa forma conseguir mais desenvoltura nos caminhos do bem.

O evangelho em questão se inicia da seguinte forma: MT 17,1 - Seis dias depois, toma Jesus consigo a Pedro e aos irmãos Tiago e João, e os leva, em particular, a um alto monte. O texto começa com o sintagma “seis dias depois”. A relevância do episódio anterior está evidenciada no sintagma que a ele remete. Então, o que ocorrera antes? Vamos verificar?! O acontecido está em MT 16, 21-23, quando Jesus predizendo Sua morte e Ressurreição encontra em Pedro reprovação, à que Jesus responde veementemente: MT 16,23: “Arreda! Satanás; tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e, sim, das dos homens.”

É nesse contexto que Jesus chama os três discípulos para a incursão ao Tabor. Que sentimentos podemos perceber entre os discípulos? É preciso recordar que Pedro representava uma liderança entre seus irmãos, que a opinião dele significava muito.

Sabemos: para muitos não é a primeira vez - nem será a última - que se depara com esse trecho do Evangelho de Mateus; também, que não é o primeiro estudo que se propõe a fazer do texto. Aliás, nós várias vezes estivemos frente a esse texto, entretanto, agora muito mais feliz é o reencontro, pois temos a nosso favor este gigante, o Papa Francisco, para nos guiar nessa caminhada. Ainda, o Espírito da graça acode sempre aquele que busca a Sua paz, e lendo pela enésima vez dito texto, ocorreu-nos um outro, de Epiteto, um filósofo estoico, que aqui transcrevemos para melhor ilustrar nossa fala.

“De todas as coisas que existem, algumas são boas, outras são más e outras ainda, indiferentes. As boas são virtudes e tudo que delas participam; as más são os vícios e todos que se entregam a eles; a indiferente situa-se entre virtude e vício, inclui riqueza, saúde, vida, morte, prazer e dor.” Epiteto, in Discursos.

Quando estávamos revendo MT 16, 21-23, lembramo-nos da supracitada citação de Epicteto; imediatamente pudemos compreender a relação de Jesus com tudo que se refere às coisas passageiras deste mundo, “o mundo das coisas”, “o mundo dos homens”. Muito e muito, quisemos poder vislumbrar como seria observar, sentir através da sapiência de Jesus, como seria existir, SER na adequada “envergadura espiritual” de um Cristo. Claro, riqueza, saúde, prazer, dor, vida, morte… esses itens de valiosíssimo desejo ou odiosa repulsa para a grande maioria de nós não significaria nada e, a busca das coisas do céu seria o único e irremediável fim.

Bem, vejamos, Mateus segue contando que ao chegarem ao cimo do monte, Jesus se “transfigura” frente a seus discípulos: MT 17,2 e 3 “E foi transfigurado diante deles; o seu rosto resplandecia como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com Ele.”

O Papa Francisco em sua mensagem fala de ascese, de esforço pessoal rumo a uma maior desenvoltura nos caminhos do bem, fala de renúncia de hábitos antigos não favoráveis a uma vida de fé, fala de sacrifício de si mesmo em prol do bem maior numa Igreja sinodal. Ele lembra a presença de Moisés e Elias no monte junto a Jesus e faz analogia com a Lei e os Profetas. Então, entendemos a tradição como farol a guiar, como porto seguro a nos oferecer sustentação para trilhar novos caminhos com a segurança de quem sabe de onde partiu e aonde quer chegar. Entendemos que MT 17,2 remete à nossa natureza espiritual, a natureza espiritual de todo ser humano, não obstante, o discurso mais comum sobre o tema trate quase unicamente da manifestação da Glória de Jesus, esquecendo de explicar em que se traduz essa “glória”. Todavia, Papa Francisco em sua mensagem diz que o caminho ascético tem como meta a “transfiguração pessoal e eclesial”, que encontra em Jesus o seu modelo e realiza-se pela Graça de Seu mistério Pascal. Ele recomenda dois caminhos a serem seguidos para a realização dessa “transfiguração”. A primeira é relativa à voz que aos discípulos se dirigiu durante a transfiguração de Jesus: “Este é meu filho amado, em quem me comprazo: a Ele ouvi”. Assim a primeira recomendação é: escutar Jesus; pois, “Antes de mais nada a Palavra de Deus. (...) Além da sagrada Escritura, o Senhor fala-nos nos irmãos, sobretudo nos rostos e vicissitudes daqueles que precisam de ajuda. (...) na escuta dos irmão e irmãs da Igreja …”. A segunda recomendação remete à figura dos discípulos “caídos por terra” temerosos por conta da grandiosa voz que se referira a Jesus: “Levantai-vos e não tenhais medo.” Assim, não refugiar-se numa “religião de eventos extraordinários” de misticismo, de “sugestivas experiências” elaboradas pelo temor de se abordar a realidade, enfrentar os desafios da vida, as contradições do mundo.

Então, nossa transfiguração seria como o resplendor de nossa luz interior. Poderíamos, ao subir o monte com Jesus, ou seja , seguindo seus passos, num exercício de ascese pessoal, “recarregar as baterias” e chegando ao cume, fazer brilhar nossa própria luz esplendorosamente!

As recomendações do Papa Francisco, lembraram-nos outro autor, Marco Aurélio - imperador romano, estoico - que em uma de suas obras, Meditações, escreveu: “Observa com bastante atenção o princípio orientador das pessoas, especialmente dos sábios, tanto do que eles fogem quanto o que eles buscam.” Sim, observemos Jesus, ouçamo-lo, sigamo-lo, vivamos conforme sua doutrina e tenhamos sempre em mente suas palavras: "Levantai-vos e não tenhais medo!”, afinal, nós não estamos sós.

 

 

 

 

TEXTO - MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA A QUARESMA 2023.

Link (https://pt.aleteia.org/2023/02/22/2-recomendacoes-do-papa-francisco-para-esta-quaresma/)