Banco central e o governo são como água e óleo
O presidente Lula, em discurso na posse do economista Aluízio Mercadante para presidência do BNDES, tocou em um ponto muito interessante sobre as altas taxas de juros praticadas pelo Banco Central (13,75%).
Lula, com razão, disse aos empresários que estavam na cerimônia, que eles, durante o período em que o PT governou o país, viviam a reclamar das taxas de juros praticadas pelo Banco Central e, no bojo, o governo também era criticado, pois, naquela época, o Banco Central nem sonhava em ser independente, pelo menos no papel.
Para lembrar ao caro leitor, no ano de 2010, último ano do governo do Presidente Luiz Inácio, a taxa Selic estava em 9,8%, ou seja, quase 4% menor que a taxa hoje praticada pelo Banco Central. No entanto, esses mesmos empresários, que hoje estão do lado de Roberto Campos Neto, estavam contra o governo porque, em última instância, seria ele o responsável direto, olha só que coisa, amigo leitor.
Jogando a verdade na cara.
“Por que vocês não reclamam também da mesma forma que reclamavam comigo na década passada?”, perguntou Lula aos presentes. Fico a imaginar possíveis resposta que veio à mente daqueles nobres empreendedores. Talvez, uma minoria tenha dito: “ É verdade; não tem lógica a gente achar que o Banco Central está certo hoje e errado naquela época.” Mas é possível, e não é mera especulação, que muitos ali tenham dito a si mesmos: criticávamos porque nunca gostamos e jamais gostaremos de você.”
Senhores, está na cara que não existe uma razão genuína; grande parte da elite brasileira não suporta – não apenas o Lula -, mas qualquer Presidente que se atreva a governar, pensando na classe trabalhadora. Este sim é o verdadeiro motivo pelo qual muitos empresários escolheram o lado errado para defender.
"Mas, articulista: O banco central é independente em vários países.” A princípio, tem alguma razão quem faz essa afirmativa. Contudo, esquece um detalhe muito importante, que faz uma grande diferença. Refiro-me ao pragmatismo político da maioria daqueles que ocupam o cargo de Chairman do Bacen nesses outros países. Dito de outro modo, seus dirigentes não levam muito a sério os dogmas teóricos propalados pelas doutrinas econômicas, tais como: o Estado é ineficiente por princípio, o mercado está sempre certo, enfim.
Por seu turno, aqui em nossa Pindorama, o Presidente do Banco Central é uma caricatura do ultraliberalismo, e sua religiosidade econômica não lhe permite procurar um entendimento dialético com o atual governo. Ora, um monetarista de carteirinha jamais agirá em consonância com um governo que possui aspirações desenvolvimentistas; é como água e óleo ou como Água Para Chocolate” (um bom filme; recomendo).
Espero que o Bob Neto, deixe sua religiosidade de lado e contribua para o desenvolvimento do país, que significará, certamente, a diminuição do desemprego e a eliminação da pobreza extrema em nosso país.
Assim como nossa pátria tupiniquim é laica, quando o assunto é religião, é preciso estender esse laicismo às doutrinas dogmáticas dos pensadores econômicos, pois estes acham que são profetas, mesmo sendo apenas meros mortais que fazem previsões que - Graças a Deus, na maioria das vezes -, não se concretizam.