Um Planeta Chamado Terra - Parte 2...

 

Algum tempo depois, encontram-se novamente. Eufrásio ainda curioso com a última conversa, indaga:

Como será que está a situação naquele planeta que mencionastes em nosso último colóquio? Melhorou por certo?

Quem dera. Por certo não está um sabendo da última, pois vou lhe contar. Fiquei sabendo que houve por lá uma pandemia. E não é a primeira. Ainda pior é o fato de usarem de pleonasmo ao se referirem a ela. Entre conversas amiúdes e mesmo alguns que se dizem formadores de opiniões, referem-se a ela como sendo uma pandemia mundial. Ora, sendo pandemia, só pode ser mundial, do contrária seria endemia. Se daria em alguns países, ainda que em continentes diferentes. Mas o que os habitantes não entenderam é que isso tudo tem um bom propósito.

Como assim, algo tão ruim pode ter um propósito bom?

É como se apregoa, há males que vem para o bem. Ao invés de reavaliarem suas atitudes e comportamentos, ao contrário, com poucas exceções, a maioria entrou ruim e saíram piores. Ficou claro, embora todos estejam usando máscaras, que a máscara caiu.

Como pode ser isso?

Quando esses habitantes iam, por exemplo, num mercado, mesmo o mercadinho, lugar comum de todos num determinado bairro, mesmo a contragosto, se cumprimentavam, ainda que com cara de paisagem, mas saia um bom dia, como vai, olá; algo como um ligeiro aceno de cabeça ou levantar de sobrancelhas.

Se refere àquela cordialidade da boa vizinhança?

Sim, essas mesmas, agora com o uso da máscara, aproveitam para serem descorteses, arrogantes, escolhem a quem cumprimentar ou o que é pior, escolhem a quem reconhecer.

Absurdo. Mesmo numa situação que demanda a solidariedade, a consideração, agem com total empáfia?

E tem coisa pior.

O que pode ser ainda pior?

Há os que usam a situação para se promoverem, ganharem dinheiro com o sofrimento alheio. Inventam artifícios com o propósito de fingindo-se incomodados e demostrando falsa abnegação, pedem recursos para atender no tratamento à pandemia e usam como caixa dois.

Caixa dois, quantas caixa há para cada um?

De verdade, o certo é que haja apenas um caixa. E que seja bem utilizado. Mas a ganância e o abuso, levando-se em conta que a fiscalização, embora exista e seja rígida, perde força quando os espertos, aqueles a quem me referi que não sendo inteligentes usam da esperteza, mudam leis e criam decretos que facilita o desvio do dinheiro.

Mesmo tratando-se de doença, saúde pública ainda assim existem aproveitadores?

Sempre, os há. E tem mais uma agravante. Quem deveria por ética levar informação de qualidade e orientar a população, são veículos de mídia que monopolizam as informações e passam a fazer conluio com quem paga mais.

Por que não pedem uma pesquisa para orientarem-se a esse respeito?

Pesquisa? Meu caro Eufrásio, os institutos de pesquisas são os mais manipuladores. É daí que saem as manchetes mais avassaladoras, populistas, descabidas. Embora haja em algum momento pesquisas coerentes, a grande maioria, sobretudo as que tratam de política, seja ela partidária ou econômica, são todas manipuladas. Infelizmente o sistema é corrompido. São poucos, a humanidade é boa, confiável, porém, o poder está nas mãos de quem não tem pudor, caráter e consideração com quem lhes dá poder.

Opa, agora fiquei confuso, quem dá o poder é o mais prejudicado?

Pois então, existe uma condição para que um determinado grupo possa escolher o que fazer com os recursos angariados do povo. Acontece que os que escolhem, além de escolherem mau, não cobram pela escolha. Os escolhidos por sua vez, nem todos, fazem o que bem entendem, inclusive descumprirem o regimento que eles próprios criaram.

Que situação essa, chega a ser cômico, se não fosse trágico.

Para se ter uma ideia, até medicamentos são superfaturados, e pior, falsificados, isso para não dizer que a tal mídia, atendendo interesses outros que não o de informar corretamente, divulgam notícias de que esse ou aquele medicamento não tem comprovação cientifica, e todos sabem que o remédio é usado há anos em regiões onde existem doenças tropicais, como a malária. Isso sem nunca haver tido relato de que houvesse efeitos colaterais qualquer. Veja, estou dizendo que nunca houve relato, no entanto, agora aparecem especialistas de todas as áreas dizendo o contrário.

É, pelo jeito tem alguém lucrando com isso.

De uma coisa estou certo, o que não se corrige pelo amor, corrige-se pela dor.

Ah! Certamente, como diz a lei, haverá ranger de dentes.

A conta há de chegar para esses tais, o castigo vem à galope, e os cavalos da providência superior troteará por sobre os iníquos.

Que coisa essa tal de Terra, hein?

Pois então. Agora preciso ir, tenho alguns afazeres, até breve.

 

 

Foto: Tilt