Muito além de mim

Muito além do que ser, é preciso fazer.

Amigos, comidas, bagunça, projetos, sexo... acima de tudo, é preciso fazer Diferença.

Sentir-se útil é fantástico. Quiçá a melhor sensação existente, depois de ser questionado e mandar aquela resposta certeira... Ah, como é bom aquele simples e ligeiro momento, que se constrói a partir do nervosismo e traz tanta recompensa e orgulho (ou não) de si próprio. Como é bom saber das coisas!

Como é gostoso acordar de madrugada, sentir aquela preguiça, olhar no relógio e ter a incrível certeza de que ainda faltam 2 horas pra você se levantar. Dá vontade de rolar na cama e deleitar-se novamente nos lençóis.

Como é bom sentir a brisa de verão (vale de primavera, outono e inverno também, o que importa é sentir). Tarde termina. Noite começa. Pouco tempo resta para o vicioso ciclo dos dias retornar ao ponto zero.

A vida passa. Os dias vão, olhares e pensamentos vãos. Sem que se possa pedir um tempo, uma trégua, um break que seja. Seus pais são cruéis e não te compreendem? Espere até arrumar um emprego. Se você conseguir, o que eu acho muito difícil. Prepare-se. As conseqüências são muitas: adeus descanso, adeus preguiça, adeus revistas... só o trabalho, recompensado com alguns míseros trocados, será sua prioridade de vida. Só a monotonia! Sim, aquela mesma a qual seus pais se referiam e pretendiam que você fugisse sendo médico, engenheiro, astronauta, ou simplesmente formado. A mesma droga de vida, com apenas uma diferença: você tem o canudo de papel nas mãos, que vale, para Eles, muito mais do que toda a sua essência... você tem um diploma.

Como fora bom acordar tarde no fim de semana. Ligar a TV e encontrar não mais os desenhos matinais, mas sim os noticiários esportivos no horário de almoço. Ah, como fora gostosa aquela época.

Os animais seguem instintos. Coisas dentro deles mesmos que indicam o que devem ou não fazer. Pena que o ser humano não é assim.

Somos um bando de animais que busca a satisfação própria a qualquer custo, o lucro, a vitória! Onde foram parar os princípios naturais? Por que não podemos buscar apenas o que nos é necessário, o que satisfaz simplesmente nossa existência, sem excessos ou pudores? Por quê?

Quem criou essa tal ''sociedade'', vulgo ''humanidade'', deve saber o porquê disso tudo...

A verdade custa caro nos dias de hoje. Eles acham que devemos fazer o que eles não fizeram, ou melhor, o que não tiveram a oportunidade de fazer enquanto jovens, dizendo que é melhor para nós, que são as chances de se crescer na vida, de se viver em paz e não sermos uma cria de trabalhadores que sofrem todos os dias com salários medíocres e absolutamente suados. E se nós quisermos essa vida? E se gostamos de ser esses trabalhadores que, apesar de não terem seu trabalho dignamente valorizado, aproveitam e realizam-se completamente executando seus papéis no mundo, transmitindo o que sabem e realmente querem fazer pra mudar alguma coisa por aí? Não. É demais pra cabeça deles.

Os filhos devem ser criados para a vida, para o mundo. Zelar é uma coisa, tentar controlar e manipular suas vidas e escolhas é outra bem diferente. A mentalidade paternal recobre os filhos desinteressados e torna-se utopia dos mais fracos. Ter medo já não significa gozação, mas sim sobrevivência.

''Em terra sem lei, quem tem olho é rei'', é assim que funciona a engrenagem da vida e da sociedade, mas soaria bem melhor se tivéssemos outro ditado: ''Em terra sem diploma, não existem filhos''.