ERA SÓ O QUE FALTAVA!
Parte 3 do texto: O Diabo no psiquiatra!
*Por Antônio F. Bispo
Naquele momento de nostalgia, remoendo tudo o que vivera antes de ser chamado de Príncipe das Trevas, o Diabo lembrou-se de que oficialmente tudo começara 4 séculos depois da Era Comum.
O imperador Constantino, convocara os sábios, teólogos e pastores influentes entre os povos para instituir o cristianismo como crença oficial do império à partir de um senso comum.
Foi ali no Concílio de Nicéia que Deus, Jesus e o Diabo passaram a ter um “um formato oficial” para os cristãos primitivos. Até então havia vários modos (assim como hoje) de ver, sentir, interpretar e determinar o deus daquela seita recém criada.
Desde aquele dia em que o “padrão de Deus” foi criado à fim de se obter uma conquista pessoal muitos recorrem a essa mesma técnica para alcançar objetivos próprios.
Sempre que se faz necessário implantar um novo sistema político ou monetário, conter uma convulsão social, bem como extorquir dinheiro dos trouxas, criar-se-á um novo acessório para Deus (ou seu suposto filho). Assim ele “vive” e se “fortalece” ano após anos.
Penduricalhos infinitos, títulos ilimitados, modos diferentes de orar e fazer oferendas...sem falar nos semideuses criado para auxiliá-los, a exemplo da Virgem imaculada, dos apóstolos, profetas e doutores da igreja primitiva. São tantos...
Estes últimos (pais fundadores) são ressuscitados sempre que um “sábio” precisa fazer calar um ateu cintando paráfrases desconexas que foram oportunas para silenciar a mentalidade dos ignorantes e amedrontados daquela época, como se fosse ainda um elixir para povos de todas as eras e locais.
Sempre que lembravam dessas coisas, ambos (Deus e o Diabo) sentiam vontade de rir, pensando no fato de que o seres humanos perdem quase 50% do seu tempo útil de vida, atormentados pela ideia dos céus e infernos, de recompensas e condenações eternas.
Eles são capazes de destruir os outros ou destruírem a si mesmos, baseados numa falsa promessa de um reconhecimento de fé pública diante de um ser que só existe em suas cabeças.
Eles tornam suas relações (físicas, reais, carnais) em objetos hostis, pecaminosos e doentios enquanto ainda vivos, achando que depois de mortos irão se relacionar eternamente com um ser de Ego elevado.
Pensam que terão holofotes no paraíso sendo que o próprio dono do recinto afirma não dividir sua glória com ninguém. Por conta disso, ele não pensou duas vezes em destronar seu mais fiel escudeiro. Mesmo assim, fica o “seu povo” roubando o tempo precioso e a paz uns dos outros, para provar diante Dele quem merece maior destaque no seu futuro reino.
Que viagem! Se tudo isso fosse verdade, a recompensa de Lúcifer seria também a recompensa de todos eles!
...
Enquanto conversavam entre si como se fossem médico e paciente, no mundo dos homens as coisas ocorriam normalmente.
Como o motivo de sua visita àquele “consultório” era justamente os fatos ocorridos no Brasil no início deste ano, o Maligno com estado emotivo fragilizado, estava quase se recompondo de sua CRISE DE INDENTIDADE depois de quase duas horas de conversa com o Ser Supremo.
Como tudo nos céus é mágico, a passagem do tempo também o é.
Nessas duas horas de conversa no divã celestial, cerca de 10 dias já haviam se passado aqui na terra. O pau continuava quebrando no “reino dos conservadores”.
A mentira, o ódio desproporcional, a vigarice e os insultos às instituições de poder, eram as coisas que estes mais conservavam no momento.
O Maligno sentia-se leve depois daquela consulta com Criador.
Estava pronto para reaver seu lugar de direito.
Queria voltar a ser chamado de todos os nomes e títulos ruins que um vilão poderia desejar.
Ele também não queria dividir a sua glória com ninguém, muito menos com aquela gente amalucada que o envergonhava com planos tão burros, apesar de nefastos.
Havia ficado claro naquele diálogo de que os PATRIOTAS CONSEVADORES, eles que se auto intitulavam como povo escolhidos de Deus, honestos e de bons costumes, não passavam de usurpadores do trono do Tinhoso.
Estavam se tornando correntes de peso. Logo ele poderia perder o comando das hostes infernais para aquela gente. Todo bom líder sabe que em apenas um gesto de fraqueza diante da tropa, todos os seus súditos podem evadir-se.
Como dito antes, aquela era um cepa do mal que ganhara vida própria e que além de ameaçar o reino das trevas, estava fazendo ruir também os reinos celestiais, já que faziam sua maldades clamando o nome de Deus, enquanto que atribuam à escuridão os atos de bondade e justiça praticados pelos seus opositores políticos e ideológicos.
Para estes “amantes da justiça”, qualquer um gritasse MITO era tido como uma pessoa de alma pura, mesmo tendo um passado repugnante e presente lastimável.
Ao mesmo modo, para estes, qualquer criatura comum ou inteligente que ousasse criticar os absurdos do Messias do Planalto, ainda que sendo um aliado ferrenho, tornava-se automaticamente um objeto de escárnio entre os seguidores do mito.
Até nas igrejas evangélicas foram registradas tentativas de homicídios durante esse período negro da história, tudo isso por um “patriota conservador”, em seu estado natural de conservação da burrice e do ódio.
Era um povo doido de pedra que não era subordinado nem aos céus e nem aos infernos, apesar de se valer dos dois quando queriam fugir de suas responsabilidades civis.
Já que sua consulta estava terminada e o paciente quase curado, olhando para o alto e para Deus, o Maligno preparou-se para levantar-se do divã.
Disse ele então:
-Estou me sentido bem mlehor! Pude ver por conta própria que não fui substituído em minhas funções. Cheguei por inúmeras vezes a pensar que houvesse me trocado por aquele povo baderneiro vestido de verde-amarelo, já que suas maldades superavam as minhas.
Disse o criador em tom amistoso:
-Nem por isso! Nossa parceria permanece. Não sou nada sem você e nem você sem mim. Os crédulos, quando não estão com medo de mim, estão tentando me corromper por meio de bajulações baratas, dízimos, ofertas e outras baboseiras que só denotam o quão hipócritas são. Quando não, estão a vos temer, com receio de que tu as atormentem caso elas não me sirvam. Desse modo, elas são cativas de suas próprias ambições, ignorância e desejo de domínio sobre seus semelhantes. No fim, lucramos sempre! Que falem bem, que falem mal, só não podem nos esquecer, senão deixaremos de existir!
O Diabo completou:
-Mesmo louvando a ti ou perseguindo a mim, se eles usurparem nossos tronos, tomando nossos lugares e funções sem nos dar o devido crédito, nossa existência será igualmente comprometida.
Deus concordou:
-De fato! Esses patriotas estavam nos atingindo nas duas frentes: quando o mito deles recebia adoração em meu lugar sem me dar o devido crédito, eles estavam tomando o meu trono. Quando praticavam atos de maldade e vandalismos sem a sua autorização ou motivação, usurpavam o teu.
Enquanto falavam, foram interrompidos por uma imagem que surgiu do nada ali TV celestial.
A tela estava posicionada às costas de Deus, bem em frente ao Maligno.
Era um portal de onde se via qualquer lugar ou coisa no mundo inteiro do passado, do presente e dum possível futuro. Era algo mais que uma simples TV, já que não precisava de sinal algum de emissoras terrena.
Naquele instante, de forma proposital ou não, alguém havia apertado o controle do aparelho, bem no fim do expediente, quando Satanás já estava quase curado de seus traumas.
Imagens horrendas foram aparecendo bem diante dos seus olhos do Tinhoso naquele ecrã.
Estaria Deus torturando o seu inimigo (e parceiro de longas datas) com aquelas provocações?
O Diabo ficou sem fala.
Imagens de várias pessoas famintas estavam sendo exibidas naquela tela.
Crianças, idosos, homens, mulheres...todos em pele e osso. Sem forças para falar, movimentar-se ou até mesmo responder com lucidez as perguntas que lhes eram feitas.
Era gente de olhos puxado, baixa estatura e pele avermelhada parecendo barro. Lembrava o próprio Adão em seu estado original.
Eram povos primitivos. Habitantes daquelas terras mesmo antes do Cristo nascer.
Foram quase todos dizimados no passado justamente por aqueles que traziam Cristo e toda simbologia cristã em suas caravelas, em suas vestes, em seus ritos e em suas formas de culto.
Em nome de Deus eles quase foram dizimados.
Agora tudo se repetia...
O diabo começou a passar mal.
Começou a se torturar, lembrando das outras ocasiões em que humanos portando símbolos sagrados o havia passado para trás e Deus nada fizera para impedir ou pelo menos alertá-lo para que a glória desses créditos lhes fossem atribuídas.
Incas, astecas, Maias, africanos, indianos, australianos...foram tantos povos nômades dizimados por essa gente “cheia de Deus”, que lembrar de todos eles era muito difícil, mesmo para um príncipe, criado quase que à perfeição do próprio criador.
Era revoltante saber que toda vez que um novo povo era conquistado, Deus se fazia presente em seus estandartes. Sempre Deus...nunca um flâmula do Demônio nunca fora alçada nessas empreitadas. Sempre Deus levando a fama em tudo. Aquilo não estava certo...
Conquistar era o mesmo que destruir, extorquir, maltratar, torturar, estuprar, ludibriar, escravizar e matar...Deus, seus ungidos ou seus símbolos estavam presentes em todas essas “conquistas”.
Sendo ele o príncipe das trevas, sentia-se humilhado por todo esse ultraje. Nada podia fazer, pois do alto de sua glória, “Deus tinha o controle de tudo”.
Ele (o Diabo), se perguntava se de fato, alguma vez na vida fora realmente o Príncipe da Maldade, já que tudo era feito por Deus, em seu nome ou em seu propósito.
Assim como ocorrera 5 mil anos atrás na ocasião em que o Justo Jó fora usado como moeda de aposta pelo próprio Criador, parecia que Deus havia permitido aquela visita naquele dia justamente para humilhá-lo outra vez.
Outrora pelo menos ele tivera permissão para maltratar um homem justo e prova-lo de todas as formas no intuito de que ele negasse sua fidelidade ao criador. Ele fracassara de todas as formas.
Desta feita, era diferente, ele estava ali, traumatizado, se consultando com o próprio Deus por conta de gente desonesta, manipuladora e com ares de terroristas. Ele estava lidando com “gente de sua laia” e mesmo assim estava sendo lesado.
Ainda assim, Deus parecia levar vantagem em tudo.
Ao contrário de Jó, estes de agora eram avarentos, preguiçosos, manipuladores, adoradores de vários ídolos, egoístas e ao invés de se desviarem do mal, procuravam-no e faziam da maldade sua cama e covil.
Mesmo assim, Deus parecia se fortalecer em seu trono com todos esses feitos. Aquilo não era justo. Ele fora posto em um jogo sem aviso prévio e nem sequer foram ditas as regras. O “povo santo” poderia estar a um passo de tomar o seu lugar (ele pensou outra vez).
Em surto psicótico o Diabo berrou:
-Deeeeeeuuuuuuuuusssssss!!! Eu não acredito no que estou vendo! Quem poderia estar por traz de tamanha barbárie? Por que me torturais? Por que está me expondo à tanto terror? Nem eu, em todo meu estado de impurezas por ti estabelecido, seria capaz de tão monstruoso feitio...
Deus nada disse diante de tais cenas. Parecia gostar da visão.
Ver o seu arqui-inimigo sendo torturado por um mal superior a si mesmo, era deliciosamente prazeroso para ser degustado rapidamente. Se ele não poupara nem o seu próprio filho...quanto mais o seu opositor!
Como se não soubesse dos ocorridos e como sempre terceirizando sua responsabilidade, Deus falou em tomo irônico:
-Ninguém sabe de fato quem é o causador direto de tamanha crueldade! Estão atribuindo tudo isso àquela que dizia ser a defensora número 1 das crianças, das mulheres, dos oprimidos, dos famintos e de todos os injustiçados. A mulher que disse ter conversado comigo em cima de uma goiabeira está recebendo todos os créditos em seu lugar. Sua posição é realmente invejada por essa gente (falou em tom jocoso).
O Diabo desabou (apesar de já estar deitado).
Estava custando crer que, bem ali, diante de seus olhos, outra vez estava sendo passado para trás. Apesar de aqueles fatos estarem ocorrendo há alguns anos, somente agora estavam sendo revelados...
Um misto de fúria, pavor e sentimento de traição tomaram conta de seu ser. Novamente ele voltara a crer que havia sido destituído do trono, que Deus havia dado o seu reino ao “povo conservador”. Em tom de incredulidade, Satanás retrucou:
-Mas Deus...Não era esta mesma, a mulher que dizia lutar pela vida, que era contra o aborto, que fazia distinção de caráter até pela cor do tecido que as pessoas usavam? Não era ela que dias antes da eleição do mito, descrevia cenas eróticas dentro de uma igreja evangélica? Nem roteiristas de filmes pornôs foram tão precisos ao imaginar tais perversões...Não estava ela acima de quaisquer suspeita?
Deus concordava balançando a cabeça ao mesmo tempo que negava de forma verbal. Em seguida ele disse:
-Ela fazia apenas o papel qual lhe propuseram. Lembre-se que em todas as outras conquistas do “povo santo”, também estiveram inclusos militares, políticos, teólogos, empresários, artistas e gente capaz de influenciar a opinião pública. Um crime dessa estirpe é grande demais para ser cometido por uma só pessoa.
O diabo sentiu vontade de morrer naquele instante. Queria nunca ter existido. Nunca ter sido criado pela ignorância, avareza e bestialidade humana...
ERA SÓ O QUE FALTAVA... um Holodomor à brasileira, causado justamente por aqueles que queriam à todo custo entrar nas terras indígenas para levar “pão aos famintos” e “luz aos que estavam em escuridão...”
CONTINUA...
Texto escrito em 5/2/23
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.