DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA E LIBERTINAGEM!
(Parte 2 do texto O DIABO NO PSIQUIATRA)
*Por Antônio F. Bispo
Com a declaração dada por Deus de que ele ainda era o maioral no comando das hostes infernais, o Tentador silenciou.
Parou de desconfiar de Deus, de achar que Ele o havia trocado por outro e passou a pensar em tudo o que havia ouvido falar nos últimos 5 anos a respeito desse povo, os PATRIOTAS CONSERVADORES.
A descrição mais fiel de que haviam Lhe dado sobre essa gente tinha sido a de que eram apenas pessoas amalucadas, extremistas políticos-religiosos, gente que disfarçavam suas intenções maldosas alegando intentos divinos e que por fim, estavam ali, usurpavam o reino do Tinhoso, já que agiam como se fossem orientados por ele mesmo não sendo.
O diabo viu seus domínios ameaçados e por isso viera rogar a Deus que não lhe tirasse o trono e desse aos tais. Um concorrente de peso poderia estar surgindo bem acima de sua cabeça e algo precisava ser feito, ou pelo menos esclarecido para sua depressão fosse embora.
Não era do intendo do Criador exonera-lo do cargo, mas precisava ouvi-lo para que a ordem social nas hierarquias do supra e do sub mundo não fossem quebradas.
Até para o criador essa gente era um problema, pois em certos casos fugiam aos padrões divinos e demoníacos definidos, adotando características próprias como se fosse a evolução de uma simbiose daquilo de mais podre há no ser humano. Havia um receio de estes viessem a ser uma entidade autônoma, pondo em risco os reinos infernais e celestiais simultaneamente.
O ataque ao congresso nacional no DF do último dia 8 de Janeiro 2023 fora o estopim, o gatilho que o fizera o “coisa ruim” buscar “ajuda psicológica” junto a Deus, o seu criador, ditador e amigo nas horas vagas.
Ele o Diabo, remoía mentalmente as cenas vistas em sua “TV infernal” daquele fatídico dia: via o ódio, a demência, a delinquência, a fúria incontrolável e a soberba daquele povo vestido de verde-amarelo, quebrando tudo, destruindo obras de arte e ainda por cima “cagando no banheiro do Xandão”, como se fosse isto algo glorioso de se fazer ou mostrar.
Aquelas imagens eram traumáticas até para o capeta...
Nem mesmo ele seria tão formidável em tal feitura. Não era coisa de amador.
Como aquela gente poderia ter sua maldade evoluído tanto e por conta própria em tão pouco tempo? Ele estava impressionado com tanta originalidade (se bem que copiaram dos Capitólio 2 anos antes).
De fato ele ficou com inveja, pois há milhares de anos era tido como o Nefasto Supremo e mesmo assim estava sendo passado para trás por aquela massa dantesca.
Tirando o fato da burrice dos baderneiros em filmarem a si próprios no quebra-quebra ou de fazerem declarações auto incriminatórias nas redes sociais como se fossem heróis...
Tirando essa vanglória burra, o Diabo ali presente, quase chegou a confessar a deus que ficara com ciúmes daqueles mestres do desastre.
Outro item que o deixou receoso era o fato de tais Patriotas estarem o tempo inteiro clamando o nome de Deus enquanto destruíam tudo. Isto o deixou totalmente aborrecido. Isso o levara crer, que Deus, o criador havia assumido seu antigo papel ao modo bíblico.
Deitado no divã celestial, olhando para o nada, o diabo resmungou quando remoeu esta cena em sua memória:
-Mas Deus...eles clamavam o seu nome e não o meu! Tu levastes toda glória neste atendado! O acordo era que Eu, o destruidor, seria louvado diante de atos de violências, crimes e vandalismos e não vós! Por que ficastes calado então? Por que não dissestes que tu não apoia tais coisas? Não era esse o nossos acordo?
Deus rio daquela pergunta.
Achou engraçado o fato do seu arqui-inimigo (e amigo de longas datas) soltasse uma pérola desse tipo. Era pergunta de desvairado. Atribuiu essa asneira ao fato de que o seu “paciente” ali presente estava desorientado por ter visto o “povo santo” em seu estado primitivo, COMO NOS VELHOS TEMPOS.
Sem querer ofender, deus retrucou em tom jocoso:
-Meu caro...Desde quando eu falo algo diretamente a quem quer que seja? Desde de quando eu dou uma ordem direta alguém? Quem porventura pode dizer e provar que já falou comigo de verdade ou me viu face a face? Quem teria tamanha altivez de espirito para dizer abertamente ser meu procurador?
Com esta fala, o diabo desviou o olhar da abobada do palácio celestial e olhou para Deus com ar de desconfiado, sem querer responder o óbvio. Julgou desnecessário.
Antes que Ele pensasse em dizer algo, O criador finalizou sua pergunta retórica:
-Somente os paranoicos, os pervertidos e os manipuladores afirmam ouvir com frequência a minha voz e reproduzir minha perfeita vontade. Apenas os tolos e os vigaristas da fé atestam conhecer “o profundo meu coração”! Não sabeis vós que minha especialidade é não dizer nada, não fazer nada e mesmo assim receber o crédito por quase tudo?
O diabo ironizou mentalmente, retraiu o canto da boca como se fosse formar um sorriso e falou baixinho:
-Não me diga...
Deus então prosseguiu:
-Onde houver ignorância, desespero, oportunismo e o desejo do homem em dominar (escravizar) seus semelhantes ao seu bel prazer, ali estará presente a minha voz em sua cabeça medíocre...Nenhuma pessoa decente, honesta, bem resolvida ou em perfeita sensatez “me usa”, usa o meu nome ou meus poderes para o que quer que seja! Tais pessoas vivem as suas vidas de modo à assumirem seus erros e acertos diante dos deuses e dos homens. Nenhuma destas esconde-se atrás de mitos ou coisas sacralizadas para justificas suas próprias maldades ou virtudes. Eu não as condeno por isso e se eu pudesse, as abençoariam por isso. Porém afirmo, que tais pessoas nem precisam de mim nem de minhas benesses. Em certos casos, tais pessoas sentem asco de mim quando as asneiras dos santos vêm à tona ou quando percebem a função principal dos seres mistificados no reinos dos homens. Nenhuma influência temos sobre estes. Em partes eles não nos será ameaça pois pouco ou nenhum espaço temos em suas mentes e falas, a não ser quando nossos servos viram manchetes dos jornais...
O maligno viu naquele instante Deus fazer confissões que há muito tempo não fazia.
Suas últimas lembranças de falas assim, fora as de quando os salmos de Davi e dos filhos de Cora estavam sendo escritos ou quando Josué, Gideão, Sansão e outros Heróis da Fé narravam suas próprias façanhas. Deus retratando a si mesmo de forma tão franca era novidade até pra o Menestrel da Maldade.
Em suas lembranças ele tinha plena consciência de que Deus sempre havia “usado” pessoas dentro das religiões, dos regimes militares e políticos para estimular parte de tudo o que não presta nos seres humanos, destes que vivem à beira dos umbrais, dos lugares mais imundos que possa haver em nossa obscura consciência.
No passado, na Velha Aliança, ser o centro do próprio caos e maldade era papel do próprio Deus.
Foi do criador o trabalho de afogar o mundo inteiro num dilúvio, só por que algumas coisas em sua “obra prima” não saíra como prevista. Ele preferiu resetar toda humanidade ao invés concertá-la.
Ele poderia também tirar de forma mágica o “pecado do mundo” ao invés de destrui-lo.
Submergir e sufocar a todos era bem mais “inteligente” que salvá-los de si mesmos, ele pensou.
Carnificinas, chacinas, estupros, invasões de propriedades, saques, destruição de colheitas, envenenamento de rios, do ar e caos proposital no clima e nas pragas...eram incontáveis o número de maldades cometidas pelo Senhor dos Exércitos ou consentidas por ele naqueles dias. Nessa época, ainda não havia Satanás para levar a culpa. Azazel ou outro bode expiatório serviam a esse papel quando preciso.
Nos contos bíblicos, ele (Deus) guiava o povo em todas essas batalhas e quem não o louvasse por seus feitos infames e recebesse a glória por tais atos, poderia (ou deveria) ser morto ou fulminado instantaneamente para que servisse de exemplo.
Ele queria ser reconhecido por seus feitos bárbaros e o seu nome deveria fazer tremer todas as nações ao redor do seu povo, segundo seus profetas.
Esse era o perfil de Dele, do ser divino ao modo antigo.
Era o retrato exato do que hoje as pessoas chamam de Demônio.
Uma inversão de papel ou um acordo de cavalheiros? Vai saber...
Quem está no ostracismo precisa aparecer de vez em quando e todo grande estrategista sabe muito bem que ficará obsoleto se não achar um grande inimigo enquanto reina. Se não tiver, se faz necessário inventá-los, nem que seja metafísicos, tudo vale.
Grandes inimigos requer (ou produzem) grandes Heróis...
Por isso o papel do Deus malvadão deveria ficar para trás.
Ele já não queria ser visto daquele modo e atribuiu o papel de “devorador de mundos” ao seu mais confiável, belo e temido guardião celestial: Lúcifer, o ser mais perfeito já criado (por ele mesmo)!
Ele perdia apenas para o próprio Deus, o seu criador (e parceiro de longas datas). Nele não havia pecado, mas de repente se viu em desgraça e foi rebaixado e banido para as regiões infernais.
Nunca saberemos de fato o cerne da história sobre essa inversão de papeis (até por que é um folclore dos povos antigos).
Quem sabe temendo ser destronado por sua própria criatura e chefe militar, num universo que se dizia viver eternamente em paz e perfeita ordem, Deus o destituiu.
Talvez tenha rolado um acordo de camaradas e Ele, o Maligno, tenha se oferecido à esse papel ridículo apenas para limpar um pouco a imagem do seu amo (mesmo numa época em que não havia impressa para difamar ou you tubers garimpando likes com as fofocas alheias para crescer na vida).
Quem sabe o tédio do céu tenha-Lhe causado aborrecimento o suficiente para fazer com que o mais perfeito entre os seres já criado se revoltasse contra o seu criador e por isso tentou destituí-lo do trono.
Imagine passar toda uma eternidade (milhares, milhões ou bilhões de anos) ajoelhado aos pés de Todo-Poderoso ou contemplando sua face e repetindo o dia inteiro os dizeres: “TU ÉS SANTO, SANTO, SANTO...”
Ahhhh...ninguém merece, né?
Tão patético quanto adorar um ser que não precisa de adoração para existir (já que se diz auto suficiente e dispensa bajulações baratas), é reafirmar incessantemente que este tal é PURO num ambiente em que todos não tinham sequer ideia do que seria a impureza do pecado, já que tudo ali era perfeito.
Me poupem (nos poupem e poupem a si mesmos) de tais infantilidades!
Que patético, que ridículo...!
Olhando sob essa perspectiva, quem sabe não haja um lugar mais enfadonho no universo inteiro quanto a descrição dos céus segundo o livro do apocalipse e outros pequenos trechos do Novo Testamento. Qualquer um que lê relatos sobre as mansões celestiais, poderá quem saber sentir uma revolta antecipada ao perceber a monotonia eterna que será obrigado a viver.
Quem sabe se os escritores do N.T fizessem uma descrição menos infantil e enfadonha do paraíso, as pessoas fossem mais justas entre si e se interessassem mais em morar nesse lugar, principalmente os padres, pastores, apóstolos, bispos e todos os que dizem ser um representante direto de deus na terra: estes são os que menos parecem se desejar atravessar os portões celestiais, já quem em maioria, suas ações são totalmente opostas às suas confissões de fé.
Veja que todos desejam ir para os céus, mas todos temem a morte, mesmo sabendo que este é o único caminho para se chegar lá. Será que desejam tanto assim?
Vai saber...De tanto comer alfafa mofada, o cavalo do fazendeiro decidiu se arriscar na grama verde do vizinho!
...
CONTINUA...
Texto escrito em 22/1/23
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.