O Pequeno repentista

Certa feita em uma festa de amigos cheia de música, churrasco intreverado com canha tava lá um poeta humildezito que conversava com todos mas não era daqueles trovadores e declamadores que ele mesmo admirava .

Pois aconteceu que caiu no ouvido de um gauchinho que tava lá, baixinho mesmo, metro e meio talvez, e pronto. Era esse mesmo que se chamava de repentista e trovador fazia versos de improviso e queria provocar alguém para digladiar com ele.

E vai dai que ele caiu no couro do poeta que explicou a ele não ter essas especialidades.

Mas o homem, baixinho daqueles que só presta para lustrar casco de cavalo ou peidar no truco, volta e meia voltava provocar o poeta.

Numa dessas ele se atreveu a fazer o seguinte verso:

Tu me fala que é poeta

Eu te digo que duvido

Ou tu prova que faz verso

Ou leva um tapa no ouvido.

Diante daquela falta de respeito que deixou todos incomodados, o poeta se levantou e respondeu meio atrapalhado.

--- Tu me dá tapa no ouvido

Já te digo não é face

Pois eu nunca ouvi falar

Que o tal de grilo falasse!

Daí que ele embrabeceu pois mexeu com a estatura dele, triscou o dedo na ferida.

O baixinho enfurecido repetiu:

- Até posso ser pequeno

Mas sou muito competente

Não é qualquer borrabotas

Que me ganha no repente.

O poeta viu que aquilo poderia se alongar e ele precisava matar no ninho, não tinha interesse na discussão versejada.

Ainda ecoava a última sílaba do homem minúsculo ele já soltou os dois pés no peito do provocador:

-Ganhar de ti no repente

Nunca tive essa intenção

Quero ficar no meu canto

Tomando meu chimarrão

Tu quer provar que é gente

Deixa de ser prepotente

E venha apertar minha mão!

Daí o baixinho viu que foi dezossado em público e reconheceu o valor do companheiro, que nem repentista era.

Presenciei isso durante uma daquelas noites de verão de “ dormir lá fora” de tão quente, durante um sonho que tive de madrugada.

Mas Bah!