Justiça Acima da Lei

JUSTIÇA ACIMA DA LEI

CAPITULO I

SETEMBRO DE 1998

CHEGADA A PORTO VELHO

A tarde caia quando o Senhor Branda e esposa chegaram à pequena cidade oceânica de Porto Velho. Dirigia o carro o Sr. Alexandre Masoc, ao seu lado estava o Senhor Branda, Mada, sua esposa ocupava o banco traseiro.

O asfalto era em dupla pista, uma enorme rede elétrica de alta e baixa tensão margeava a estrada, o fluxo de caminhões e carretas era intenso.

O Sr. Alexandre Masoc parou o carro em um bolicho, a beira da estrada, um alpendre antecipava o pequeno comércio. Para acessá-lo havia três degraus, na porta havia diversas propagandas coladas, um pequeno degrau, diferenciava o nível entre o alpendre e o prédio comercial.

O Sr. Masoc, adentrou e solicitou informações ao bolicheiro.

— Boa tarde Senhor. — Disse Alexandre. — Por favor, como podemos chegar a Pesca Oceânica.

O homem de aparência humilde e feições fortes informou:

— Fica no final da estrada, não tem como errar é um prédio alto com vidraças verdes.

Agradeceu e retornou ao carro. Ao final da rua, como havia informado o bolicheiro, surgiu um imponente edifício de três andares, tipo cristaleira, ostentando vidraças verdes.

Alexandre estacionou o carro, era o final da tarde, desceu, contornou o carro e abriu a porta para o Senhor Branda, que desceu e abriu a porta de traz para a Senhora Branda descer.

O Senhor Branda, homem alto, aos seus 58 anos fazia uma bela figura aristocrática, mais se parecendo como um Lorde Inglês. Cabelos castanhos claros, barba e bigode com cerca de 10 milímetros de comprimento, naturalmente branco com óculos de grau de grande tamanho que escondiam os olhos azuis. Como era inicio de primavera, ainda fazia frio. Vestia um casaco xadrez, camisa azul claro, gravata em tom azul escuro, sobre a cabeça tinha um chapéu de feltro preto de abas curtas, com uma pequena pena branca na lateral direita da fita que contornava o domo. Madalena Branda (Mada) como carinhosamente lhe chamava o Senhor Branda, era uma jovem senhora, cabelos escuros, olhos verdes, lábios grossos, com um metro e setenta e seis, uma bela figura de mulher, vestindo um traje preto sob uma capa branca.

Adentraram no estabelecimento, após subir três amplos degraus de mármore e abrimos a grande porta de aço com afrescos em bronze e latão, foram recepcionados por uma moça muito esbelta, que se apresentou como sendo a secretária executiva do Sr. Renato Corso, diretor presidente do Grupo Pesca Oceânica S/A.

O Senhor Branda se apresentou:

— Sou o Ricardo Branda, Oceanógrafo, esta é minha esposa Madalena Branda e este é meu amigo, parceiro e motorista, professor Alexandre Masoc.

A secretária fez uma mesura a cada apresentação e informou que o Sr. Renato Corso os aguardava, e que a seguíssemos até o seu escritório. Bateu a porta antes de abri-la, convidou—os adentrar. Sentado tendo diante uma sofisticada mesa de trabalho estava o Sr. Renato Corso, que ao vê-los levantou-se. Era um homem de poderosa compleição, peito amplo, ombros largos, ligeiramente gordo, o sólido pescoço sustentava uma cabeça admiravelmente bem—formada, os cabelos eram escuros e crespos, feições fortemente pronunciadas, simpático, esboçava um amplo sorriso, que ressaltava o canino direito que ligeiramente se adiantava dos demais dentes perfeitos e alvos. Vestindo uma fatiota cinza, camisa branca e gravata estampada. Adiantou—se cumprimentou inicialmente o Sr. Ricardo Branda dizendo.

— Que imensa satisfação conhece-lo professor Branda, não é sempre que temos um Oceanógrafo famoso interessado em formar uma parceria cientifica com a nossa empresa.

O Senhor Branda respondeu:

— A satisfação é toda minha Sr. Renato Corso, espero que seja profícua a nossa parceria. Esta é Madalena, minha esposa e este é meu amigo e parceiro Sr. Alexandre Masoc.

O Sr. Renato quando cumprimentou Madalena quase desabou ficou pálido dizendo.

— Desculpe, mas sua esposa tem uma enorme semelhança com minha falecida esposa Margarita, por um momento parecia que estava na presença dela.

O Senhor Branda disse:

— Acho que sua falecida esposa era muito bonita, as mulheres bonitas todas se parecem.

— Não Senhor Branda, sua esposa realmente é muito parecida com Margarita, se fossem irmãs não se pareceriam tanto.

Houve uma pausa, olhares se entrelaçaram com grande habilidade o Sr. Renato Corso quebrando o silêncio disse:

— Os Senhores devem estar cansados da viagem, deixaremos os negócios para amanhã. A companhia tem um hotel neste.

mesmo prédio no lado norte. Márcia (a secretária executiva do Sr. Renato Corso) os acompanhará até o hotel.

O hotel era pequeno, tinha dez apartamentos e duas suítes, o Sr. Alexandre ocupou um dos apartamentos, o Senhor Branda e esposa ocuparam uma suíte. Após um gostoso e demorado banho, com água quente encanada Alexandre desceu ao bar e restaurante, como sabia dos gostos do Senhor Branda e de Mada, determinou que o “barman” preparasse um drinque de vodka com suco de abacaxi, e para ele, apenas um refrigerante sabor cola. Puxando conversa com o “barman,” perguntou, qual era o seu nome e se trabalhava no hotel há muito tempo, ao que respondeu que já faziam 10 anos naquele mister, e que, seu nome era Pedro Elias de Assis.

— Eu sou Alexandre Masoc, secretário do Senhor Branda que é um Oceanógrafo que ira desenvolver um estudo sobre cadeia alimentar dos peixes desta região.

Fale—me sobre a Pesca Oceânica Sr. Pedro Alias?

— Argüiu Alexandre

— A Pesca Oceânica é uma empresa familiar, o Sr. Renato Corso a herdou de seu pai que a herdou de seu avô, a empresa tem diversas fábricas em todo o país e é voltada para a exportação de peixes enlatados e congelados.

Nesse momento chega o Senhor Branda e Mada, o Senhor, Branda disse:

— Como é Alexandre o meu drinque está servido?

— Sim e está no cálice.

Não e necessário se dizer que os dois se conheciam demasiadamente bem. Alexandre apresentou o Senhor Branda e Mada ao “barman” e lhes disse que ele estava lhe contando sobre a Pesca Oceânica, como o interesse era comum aos três, solicitou ao Pedro Elias que continuasse a sua narrativa. Pedro disse:

— O que sei sobre a empresa é que se trata de um grupo muito forte e que é dirigido pelo braço de ferro do Sr. Renato Corso, que após o falecimento de sua esposa em 1990, dedicou—se de corpo e alma ao trabalho. Após haver assumido a presidência da empresa, esta dobrou de tamanho, para tanto o Sr. Renato trabalha das 5 horas da manhã ate às vezes às 21 horas da noite. No entanto, viaja com frequência ao exterior, se afastando da empresa por mais ou menos 15 dias a cada três meses, viaja também para as demais unidade industrial do país.

O metre se aproximou, cumprimentando-os, todo solícito alcançando a carta de vinhos e de refeições. Como de costume os cavalheiros deixaram à escolha a cargo da dama. Mada após haver discutido os pratos e vinhos com o metre sugeriu um vinho nacional de ótima qualidade. O metre abriu a garrafa e ofereceu a rolha a Mada que a cheirou e aprovou o vinho. Mada escolheu como entrada uma sopa de anholines e como prato principal um file de atum grelhado com batas no vapor. Enquanto esperavam pelo preparo da refeição, conversava sobre o hotel, a forma sofisticada da construção, na lateral esquerda do restaurante havia uma lareira, onde nós de pinheiros eram queimados, ao centro uma pequena pista para dança, circundada por finas mesas para quatro lugares, a luz era atendida por luminárias incrustadas nas paredes, quebrando qualquer incidência de luz direta. Os comensais eram poucos, havia um casal de idosos à direita a esquerda um casal de meia idade e aos fundos um senhor falando espanhol, logo determinaram que fosse Argentino, pois estava dando uma bronca no “garçom”. A música ambiental naquele momento tocava “AS TIME GÓES BY” O que os fazia lembrar do filme “Casablanca” O ambiente estava divinamente agradável, o que fez o Sr. Alexandre convida Mada para dançar, enquanto dançavam na pequena pista, Alexandre observava o Senhor Branda e, pensava.

— Homem extraordinário! Devo a ele tudo o que sou praticamente ele me tirou da sarjeta, completamente embriagado já com delírios tremes, amparou—me, mesmo antes de saber que se tratava de um professor de línguas e de etiqueta social. Internou—me em uma casa de recuperação de alcoólatras, custeou todas as despesas e aceitou—me com parceiro e amigo, isso há mais de dez anos. Se havia verdadeira amizade e respeito é o que sento pelo Sr. Ricardo Branda.

Agora a música que tocava era o “TEMA DE LARA” O que os fez lembrar do filme Dr. Jivago. Vendo que o “garçom” havia servido o jantar, pararam a dança. Alexandre conduziu Mada até a mesa. O Senhor Branda já a esperava de pé, recuando a cadeira para Mada se colocar na posição de sentar, aproximou—a levemente e Mada sentou. O jantar estava de excelente qualidade, o que os fez comer mais do que o necessário.

CAPÍTULO II

VISITA À PESCA OCEÂNICA

No dia seguinte após haverem tomado um excelente desjejum no hotel, dirigiram—se até a sala do Sr. Renato Corso, este os recebeu com muita simpatia esboçando um largo sorriso, chamou a secretária Márcia Regina Murdoc. Determinou que a mesma levasse a Senhora Branda até o escritório que lhes havia reservado, salientando que tinha mandado instalar, Internet, E-mail, fax, televisão, vídeo, reto projetor e dois micros computadores, servidos por uma impressora. No entanto, se algo mais fosse necessário teria apenas de solicitar a Márcia Regina. Mada e Márcia Regina se afastaram. Acomodaram—se em um grande sofá de couro. O Sr. Renato Corso apertando as mãos uma contra a outro pela ponta dos dedos, disse:

— Senhor Branda, conte—me sobre o trabalho que vai desenvolver na Pesca Oceânica, confesso—me curioso sobre o estudo da cadeia alimentar dos peixes, o que isso significara para a minha empresa?

— Sr. Renato Meu trabalho consiste em analisar a cadeia alimentar dos peixes, principalmente o que mais é pescado pela sua indústria que é o Atum. A cadeia Alimentar é uma sequência de transferência de energia e matéria onde cada organismo serve de alimento para o outro. Quem produz o alimento é produtor e quem consome é o consumidor.

Como as plantas fabricam alimentos para si e para outros seres vivos, eles são os produtores de um ecossistema.

Os animais herbívoros que se alimentam das plantas são chamados consumidores primários.

Os animais carnívoros que se alimentam dos herbívoros, são chamados consumidores secundários. Os carnívoros que se alimentam de outros carnívoros são chamados de consumidores terciários e assim por diante.

Os animais que consomem plantas e animais são chamados onívoros, como o homem. Os que se nutrem de sangue são os hematófagos, de insetos são os insetívoros e de detritos de vegetais e animais são os detritívoros.

Os consumidores secundários, terciários e quaternários são chamados de predadores, animais que caçam outros animais.

Quando os seres produtores e consumidores morrem, eles são decompostos por fungos e bactérias chamados decompositores. O produto dessa decomposição serve para realimentar as plantas.

Essa sequência de alimentação dos seres vivos é chamada cadeia alimentar que também podem ser marinha, a dos oceanos e mares.

As cadeias alimentares mantêm os ecossistemas em perfeito equilíbrio.

Setenta e um por cento da superfície terrestre está coberta por mares e oceanos. O oceano é importante para o mundo, pois a chuva mantém temperaturas adequadas para a vida e sustenta a pesca. É também fundamental para o equilíbrio ecológico do planeta, pois cerca de 70% do oxigênio libertado para a atmosfera é produzido pelo fitoplâncton durante o processo fotossintético.

Após a formação da Terra, há 4600 milhões de anos, enormes quantidades de vapor de água foram libertadas dos vulcões e da superfície do planeta em fogo. Alguns milhões de anos mais tarde, assim que a temperatura da superfície da Terra baixou, ocorreu à condensação deste vapor. Formou-se, então, toda a água existente atualmente, originando um oceano Primitivamente Oceano Primitivo, formado há mais de 4000 milhões de anos, era muito diferente do atual. As águas eram ácidas e a sua temperatura rondava o ponto de ebulição.

As forças que o oceano exerceu sobre a costa primitiva ajudaram a moldar o relevo do globo. Lentamente, entre 4000 e 2000 milhões anos atrás, o fundo do mar abriu-se em diversas fissuras, permitindo o contato do magma com a água. Moldaram-se os fundos oceânicos e iniciou-se um processo de deslocamento das diferentes placas tectônicas. Atualmente, embora imperceptível, este movimento não cessa e origina catástrofes naturais como terremotos e erupções vulcânicas.

Embora a água esteja presente noutros locais do universo, apenas no nosso planeta existe água nos três estados da matéria: sólido, gasoso e líquido. De fato, bastava a Terra estar cinco por cento mais perto sol para toda a água se evaporar, originando um efeito estufa semelhante ao que se observa em Vênus. Por outro lado, caso estivesse três por cento mais afastada do Sol, toda a água congelaria, como sucede em Marte.

A água da zona oceânica ou mar aberto rodeia continentes mais além das plataformas continentais, onde o fundo do mar cai drasticamente. Devido à pureza das águas profundas, com respeito a partículas, limo e matéria orgânica, a luz penetra profundamente. As plantas podem fotossintetizar até a 100 m de profundidade. Somente alguma luz azul se dispersa novamente à superfície, é por isso que a água parece azul escura; dos satélites os oceanos azuis parecem quase negros.

As correntes de água no oceano são principalmente dirigidas pelos ventos que incidem na água. As correntes marítimas dirigidas por esses ventos vão a grandes círculos. A corrente do lado oeste do oceano é muito forte. Um exemplo na Flórida é a corrente do golfo, que chega a velocidades de 2 a 20 km por hora para o norte. Em profundidades maiores existe uma contracorrente com as águas do fundo que voltam para o equador. Essas águas são muito frias, com temperatura perto do ponto de congelamento da água marinha, quase 2 °C mais frio que o ponto de congelamento da água doce.

As águas mais profundas do ecossistema oceânico são ricas em nutrientes provenientes da decomposição, no passado, de matéria orgânica. Essa matéria foi levada ao fundo do mar por migração animal e por movimento das águas profundas. Esse movimento é chamado correntes de ressurgência. O plâncton, que é um microorganismo em suspensão na água move—se junto a estas correntes.

Apesar da vida na área oceânica ser dispersa, também é diversa e interessante. Ela tem muitos tipos de minúsculo fitoplâncton. O zoo plâncton move—se perto da superfície durante a noite, quando não é tão visível para os carnívoros, e mais profundamente durante o dia. Muitos animais maiores, incluindo peixes, também se movem desde a superfície ao fundo, até 800 metros, no seu ciclo diário; são auxiliados por grandes e turbulentos remoinhos gerados pelas correntes, ventos, ondas e marés.

Esses organismos refletem o sonar, que são ondas sonoras, que as embarcações usam para visualizar o fundo do mar, parecendo um falso fundo marinho que sobe na noite e desce de dia. Os alimentos convergem através da cadeia alimentar em peixes que nadam depressa, como o atum.

O sistema oceânico tem algas do tipo sargaço—marrom que forma colunas paralelas em direção ao vento. Ondas dirigidas pelo vento causam redemoinhos que movem o sargaço flutuante por essas linhas, onde as águas superficiais convergem e giram para voltar por outro caminho. Muitos dos animais que flutuam nesse ecossistema são azuis—brilhante, como a medusa, chamada de caravela portuguesa.

A organização do ecossistema tem a mesma forma básica de outros sistemas; tem fontes externas, produtores e consumidores. No sistema oceânico, a turbulência é de especial importância, pois causa as misturas verticais e horizontais de nutrientes e gases. A turbulência é água com muitos redemoinhos circulares e correntes que mudam de direção constantemente. Ventos e diferenças de pressão da água mantém a água em constante movimento. Essas energias, como redemoinhos turbulentos e correntes de ressurgência.

A turbulência mantém o plâncton em movimento, ajudando a prover suas necessidades e levando à superfície àqueles que estão no fundo do mar. O fitoplâncton é o produtor no ecossistema marinho como as diatomáceas, dinoflagelados e outras algas microscópicas. O zoo plâncton está composto por animais em suspensão, que em sua maior parte alimenta—se do fitoplâncton. Nestes incluem—se muitos tipos de organismos, desde protozoários microscópicos até medusas.

Os materiais perdidos da rede alimentar marinha dirigem—se às águas profundas antes de sua decomposição. Decomposições subsequentes liberam os nutrientes da matéria orgânica. A água marinha de ressurgência devolve esses nutrientes perdidos à superfície onde estimulam o crescimento do fitoplâncton, e depois, toda a cadeia alimentar. As áreas de ressurgência criam ricas zonas pesqueiras.

Correntes, costa continental, e áreas de ressurgência importantes para a pesca.

As baleias e os Atuns dependem de cardumes de pequenos camarões chamados killpra se alimentarem. Vivendo de fitoplâncton em águas férteis, o killd se reproduz em enormes quantidades. Especialmente em águas árticas e antárticas, fortes correntes concentram fitoplâncton para alimentar o krill. Normalmente, a energia que passa através da cadeia alimentar necessitaria de vários passos intermediários para passar de organismos tão pequenos como o fitoplâncton a organismos tão grandes como as baleias e os atuns, mas fortes correntes fazem que menos passos sejam necessários. Devido a muitos anos de caça indiscriminada, é possível que haja apenas um décimo da população original de baleias hoje em dia; e algumas espécies estão a correr perigo de extinção. Tratados internacionais reduziram a caça às baleias, e algumas populações estão a restabelecer—se. Aparentemente, outros peixes, aves marinhas e gaivotas comem o krill que não é aproveitado.

A pós a longa conversa científica entre duas pessoas que conhecem profundamente um assunto, foram convidados a fazer uma visita à indústria de pescado, o Sr. Renato Corso, perguntou ao Senhor Branda se sua esposa Madalena não quereria os acompanhar, o Senhor Branda respondeu:

— Mada é especialista apenas na parte limpa do processo de pesquisa, fazendo traduções e versões nas línguas; Francesa, Inglesa e Alemã, as quais domina muito bem. Porém, não gosta de lidar com pescado.

Como é exigido pela inspeção Federal de Alimentos, tiveram de trocar de roupas, colocando as da indústria que eram formadas por calças e guarda pó de brim branco, botas de PVC.

branco, máscara de pano e capacete tipo casquinha. Já no parque industrial o Sr. Renato Corso os levou a parte limpa do processamento de pescado. (Entende—se por parte limpa do processo a parte em que os peixes já estão limpos, sem vísceras, cabeça, cauda e pele). Adentraram na área de processamento de atum.

Dizia o Sr. Renato Corso:

— O processamento do pescado de atum resulta em 3 produtos industrializados: atum sólido, atum ralado (grated) e farinha de peixe, a partir do resíduo proveniente da limpeza inicial do pescado.

Em linhas gerais, as etapas do processo são três: evisceração; cozimento e resfriamento. A retirada de pele; limpeza final com início na parte da manhã é realizada à temperatura ambiente.

Em média são empregadas 50 toneladas de atum ao dia, sendo que o seu aproveitamento se restringe a cerca de 40% (20 ton.) devido às perdas provenientes da evisceração; cozimento e limpeza.

A meta de produção no setor do atum é de 450.000 latas/dia, sendo 70% de atum sólido.

Inicialmente ocorre o recebimento de um monobloco, (bandeja plástica retangular), com peso total de cerca de 30 kg contendo no seu interior de 7 a 12 unidades de atum com aproximadamente 3,0 a 5,0 kg por peça, já pré-cozidos, sem cabeça e à temperatura ambiente que é encaixado num suporte (fixo) localizado à direita e atrás do assento de cada operadora. Para facilitar a retirada do peixe do interior do monobloco. O suprimento do monobloco é feito pelo apontador, toda vez que este for esvaziado, o que, pelo ritmo de produção desejado pela empresa, ocorre a cada uma hora;

É usada uma faca sem corte para, com a outra mão, preparar e limpar o peixe (raspagem e corte).

No processo de fabricação da farinha de peixe, que utiliza a espinha central e a carne escura do lombo dos peixes.

No preparo do atum sólido e do atum ralado. Em ambas as situações, os pedaços inteiros e ralados, limpos, são depositados numa bandeja.

Quando as bandejas são preenchidas (peso final de cerca de 4 kg em média), o funcionário a coloca sobre a esteira transportadora situada ao nível da mesa e no seu centro, que após pesagem, será direcionada para a respectiva linha de produção (atum ralado ou sólido).

Existe prescrição da empresa para que o tempo máximo entre a limpeza e o enlatamento do processo seja de 30 min, devido à qualidade requerida para o produto (escurecimento da carne por oxidação). Assim, a avaliação da qualidade de cada peça de pescado é feita pela funcionária, a quem cabe também a obrigação, de mensurar a qualidade inicial do pescado (odor, coloração e estrutura do tecido). Vale dizer que existe preferência generalizada por pescados de tamanhos maiores, uma vez que o resultado final, em peso produzido, é mais conveniente.

Após visitarem a parte de processamento, o Sr. Renato Corso os levou até as partes de utilidades como: casa de caldeiras, sala de refrigeração e outras.

De volta ao escritório do Sr. Renato Corso trocaram a roupa utilizada na visita à indústria. O Senhor Branda solicitou licença para ir ao escritório que iria ocupar juntamente com Mada. O Sr. Renato Corso lembrou que deveriam fazer os planos para as ações dos próximos dias. O Senhor Branda disse que voltaria logo acompanhado de sua esposa. O Sr. Alexandre Masoc permaneceu no escritório. O Sr. Renato perguntou:

— Sr. Alexandre conhece há muito tempo o Senhor Branda?

— Há mais de dez anos, o sirvo com lealdade e dedicação, é o homem mais correto e bondoso que conheço. O Senhor Branda é um homem do mundo, fala diversos idiomas, todas as suas ações são previamente estudadas e planejadas, em suas pesquisas de oceano faz registro fotográfico e até mesmo filmagens de todos os eventos importantes.

Nesse momento entram o Senhor Branda e Mada. O Sr. Renato Corso pergunta a Senhora Branda o que achou do escritório, ao que respondeu que tudo estava na mais perfeita ordem, estando lá tudo o que necessitava. Agradeceu com uma mesura.

CAPÍTULO III

INICIO DOS TRABALHOS

O Senhor Branda diz que necessitaria para a pesca do dia seguinte: Cinco contendores térmicos com gelo seco, para colocar as amostras colhidas durante a pesca; que sairia com o primeiro barco, que faria a pesca das amostras com uma pequena rede de arrasto, uma vez que o atum é pescado com caniços. No entanto, teria de abrir alguns exemplares para retirar os restos alimentares, os quais seriam acondicionados em gelo para exames no laboratório da indústria. Que a primeira fase do trabalho seria a coleta de amostras; a segunda a análise das amostras em laboratório e a terceira o relatório da pesquisa, esse feito em sua casa de campo.

No dia seguinte, às 6 horas parte o Senhor Branda com o primeiro atuneiro. Às 9 horas da manhã, Mada foi para o escritório. O Sr. Alexandre Masoc retornou para o Rio de Janeiro, onde tinha varias atividades a desenvolver.

— Bom dia Senhora Branda! — disse Márcia ao aproximar—se.

— Bom dia! — respondeu Madalena — Em que lhe posso ser útil?

— Em nada no momento, apenas queria ver se a senhora não esta precisando de alguma coisa, como uma garrafa de café, por exemplo.

— Senhora Brada! Soube que é uma secretária trilíngue, tão jovem com tanta experiência?

— Certamente nem sempre fui esposa do Sr. Ricardo Branda. E, você quantas línguas fala?

— Apenas a do nosso país, respondeu vexada.

— Não se preocupe às vezes isso não faz a menor diferença. Fale—me sobre a Pesca Oceânica.

— Trabalho para o Sr. Renato Corso, apenas há dois anos, não cheguei a conhecê-lo antes do acidente da esposa.

— Como foi o acidente? — Perguntou Mada

— Foi horrível, segundo o que me contaram alguns dias antes do natal, dona Margarita foi fazer compras na cidade vizinha onde o comércio é mais forte, ao retornar o motorista perdeu—se em uma curva e ela foi lançada para fora do veículo durante capotagem, teve o pescoço partido e morte instantânea.

O atuneiro singrava o oceano, na proa ia o Senhor Branda com seu binóculo procurando algo no horizonte. De repente alguém, puxa—o pela perna das calças, ele olha é um grumete, que lhe diz que o comandante o estava chamando. O Senhor Branda dirigiu—se a sala de comando, lá o esperava o comandante Flamingo, homem forte aos seus 45 anos de idade, cabelo vermelho, exibindo um grande bigode cor de fogo, “queimado” pelo hábito de fumar charutos. Convidou o Senhor Branda a entrar na cabina e sentar—se em uma pequena poltrona ofereceu um charuto, o Senhor, Branda agradeceu dizendo que preferia o seu cachimbo, dando início ao ritual necessário para o fumar de um bom cachimbo.

— Mas em que posso servir?

— Acabo de receber ordens para lhe dar todo o apoio necessário a sua missão, incluindo desvio de rota se o senhor entender necessário. Com todo o respeito o que é que o Senhor vai fazer? Se isso não for uma indiscrição.

O Senhor Branda com inigualável paciência e cortesia narrou detalhadamente suas atividades, as quais foram pelo comandante Flamingo, plenamente entendidas, destacando dois marinheiros para ajudar na pesca de araste.

Mada conversava com Márcia Regina, quando a porta do escritório surge o Sr. Renato Corso, pede licença a Madalena e lhe deseja um bom dia o qual é respondido por Madalena. Márcia Regina que já se encontrava de saída, disse que lhe traria uma xícara de chá e se retirou. O Sr. Renato Corso, meio sem jeito, disse que falara com o navio pesqueiro onde se encontrava o Senhor Branda e que lá estava tudo bem, colocando—se a disposição para o que fosse necessário. Mada agradeceu dizendo que tudo estava correndo as mil maravilhas. O Sr. Renato encompridando a conversa perguntou?

— Senhora Branda fale—me sobre seu marido.

— O Senhor Branda é um homem do mundo, é sincero, honesto e trabalhador, o homem mais generoso que conheci.

— Como conheceu seu marido?

Fui classificada em um concurso que ele fez para ser sua secretária, após contratada tive de especializar—me em três línguas: Francês, Inglês e Alemão. Já trabalhava para ele há dois anos, quando meu pai foi acometido de uma doença grave e rara, tratável apenas nos Estados Unidos da América. Sendo de família pobre, não tínhamos o suficiente nem para a viagem de ida. O Senhor Branda custeou todas as despesas até a morte de papai que ocorreu nos EUA, após 1 anos e meios de tratamento. O Senhor Branda nunca perguntou se íamos pagar a conta, que passara de um milhão de dólares. Após o falecimento de meu pai, continuei trabalhando para ele e estudando as três línguas necessárias ao desempenho de minhas funções.

— Se não for uma indiscrição gostaria de saber que idade tendes?

— Tenho 26 anos.

— Dez anos mais moça do que teria minha esposa Margarita se estivesse viva.

Nesse momento chega Márcia Regina trazendo o chá que havia prometido o Sr. Renato Corso colocou—se novamente a disposição, afastou—se.

Passado duas horas aproximadamente, Mada recebe uma ligação telefônica do Sr. Renato Corso, que solicita sua presença no seu escritório. Lá chegando o Sr. Renato Corso lhe diz:

— Chamei—a, pois acabo de receber uma mensagem do navio, por rádio, o telefone celular está péssimo, o comandante, informa que não consegui localizar o cardume e que não retornará hoje. O Senhor Branda mandou—lhe dizer que tudo está ótimo, solicitou—me que a acompanhasse no jantar.

Às 20 horas o Sr. Renato, conforme combinado, compareceu ao restaurante do hotel. O “barman” lhe serviu sem que tivesse solicitado, uma pequena dose de uísque Escocês, com bastante gelo. A porta do restaurante se abre surge àquela figura impar, deslumbrante, em um vestido de veludo preto, com um discreto decote, onde brilhava um colar de ouro com uma pedra de esmeralda azul. O Sr. Renato Corso ao vê-la levantou e dirigiu-se ao seu encontro, fez uma mesura, pegou-a pela mão e levou-a até a mesa, afastou a cadeira e aproximou-a quando Mada estava no lugar. Renato ofereceu-lhe uma bebida, Mada respondeu que aceitava uma pequena dose de uísque Escocês com bastante gelo.

— Senhora Branda é impressionante a semelhança que tem com a minha finada esposa Margarita.

— São seus olhos que estão desejosos para vê-la.

— Madalena, se assim posso chamá-la.

— Claro que pode Sr. Renato.

— Voltando a nosso conversa, que fora interrompida, como casou com o Senhor Branda?

— A única maneira que achei de retribuir o que o Sr. Branda fizera por meu pai, foi oferecer-me como sua esposa.

— E ele aceitou?

— Relutou muito até fazermos o contrato, fez questão de que no contrato tivesse uma clausula que ele poderia ser rescindido por mim a qualquer momento sem dar qualquer justificativa. Por minha vez fiz questão de colocar uma clausula de que somente rescindiria o contrato após haver pago com correção todas as despesas que fizera com meu pai. Como vê fomos muito honestos um com o outro.

O metre chegou e alcançou a carta de vinhos e refaz. O Sr. Renato Corso perguntou?

— Gosta de camarão?

Mada respondeu que sim.

— Queremos um camarão à parmegiana. Madalena escolha o vinho.

— Queremos o mesmo vinho que foi servido ontem, estava ótimo.

Em todo o jantar Renato Corso não deixava de olhar para Mada, parecia extasiado. Mada disse:

— Fale—me sobre você, sua família, seus negócios?

Tudo que Renato Corso contou a Mada foi que estudara na Europa e Ásia, por dois anos, antes de assumir a direção das Indústrias da família. Ao retornar dos estudos enamorou—se de Margarita que era filha de um dos diretores do Grupo, casou—se aos 28 anos e permaneceu casado por 7 anos, quando Margarita sofreu um acidente fatal, que antes do acidente planejavam ter filhos, o que não se concretizou.

No navio pesqueiro, o Senhor Branda jantava com o Comandante Flamingo, durante a qual falavam sobre a pesca do Atum. Dizia o Senhor Branda:

— Atum, Albacora, Tuna, Albacoras são consideradas os peixes mais hidrodinâmicos entre as formas existentes. O corpo é fusiforme e o pedúnculo caudal bastante estreito. Existem várias espécies que alcançam de 50 a 200 kg. As espécies mais comuns na costa brasileira são a albacora (Thunnus albacares) e o atum (Thunnus atlanticus), menor que a albacora.

— Quais as espécies que você costuma a pescar Comandante?

Costumamo-nos a pescar espécies mais novas, que andam em cardumes e com peso a baixo dos 20 kg.

É realmente, as espécies encontram—se amplamente distribuídas de acordo com a temperatura da água: — Argüiu o Senhor Branda. — Por exemplo, a albacora vive em águas quentes, com temperatura ao redor dos 27 °C. São encontradas sozinhas ou em cardumes. Grandes cardumes de albacora costumam frequentar o litoral do Nordeste. Os cardumes, muitas vezes mistos, às vezes são acompanhados por golfinhos e baleias. Indivíduos jovens costumam formar grandes cardumes. Alimentam—se de lulas e peixes, como sardinhas e manjubas. Não costumam se aproximar da costa, sendo mais frequentes em alto mar. São importantes para a indústria pesqueira.

— Que tipo de linhas vocês utilizam na pesca?

— Por serem espécies de grande porte e muito ativas, os equipamentos são do tipo pesado. As linhas variam de 12 a 30 lb. E os anzóis de n° 3/0 a 8/0.

— Quais as iscas que utilizam?

— Se não for uma indiscrição gostaria de saber que idade tendes?

— Tenho 26 anos.

— Dez anos mais moça do que teria minha esposa Margarita se estivesse viva.

Nesse momento chega Márcia Regina trazendo o chá que havia prometido o Sr. Renato Corso colocou—se novamente a disposição, afastou—se.

Passado duas horas aproximadamente, Mada recebe uma ligação telefônica do Sr. Renato Corso, que solicita sua presença no seu escritório. Lá chegando o Sr. Renato Corso lhe diz:

— Chamei—a, pois acabo de receber uma mensagem do navio, por rádio, o telefone celular está péssimo, o comandante, informa que não consegui localizar o cardume e que não retornará hoje. O Senhor Branda mandou—lhe dizer que tudo está ótimo, solicitou—me que a acompanhasse no jantar.

Às 20 horas o Sr. Renato, conforme combinado, compareceu ao restaurante do hotel. O “barman” lhe serviu sem que tivesse solicitado, uma pequena dose de uísque Escocês, com bastante gelo. A porta do restaurante se abre surge àquela figura impar, deslumbrante, em um vestido de veludo preto, com um discreto decote, onde brilhava um colar de ouro com uma pedra de esmeralda azul. O Sr. Renato Corso ao vê-la levantou e dirigiu-se ao seu encontro, fez uma mesura, pegou-a pela mão e levou-a até a mesa, afastou a cadeira e aproximou-a quando Mada estava no lugar. Renato ofereceu-lhe uma bebida, Mada respondeu que aceitava uma pequena dose de uísque Escocês com bastante gelo.

— Senhora Branda é impressionante a semelhança que tem com a minha finada esposa Margarita.

— São seus olhos que estão desejosos para vê-la.

— Madalena, se assim posso chamá-la.

— Claro que pode Sr. Renato.

— Voltando a nosso conversa, que fora interrompida, como casou com o Senhor Branda?

— A única maneira que achei de retribuir o que o Sr. Branda fizera por meu pai, foi oferecer—me como sua esposa.

— E ele aceitou?

— Relutou muito até fazermos o contrato, fez questão de que no contrato tivesse uma clausula que ele poderia ser rescindido por mim a qualquer momento sem dar qualquer justificativa. Por minha vez fiz questão de colocar uma clausula de que somente rescindiria o contrato após haver pagado com correção todas as despesas que fizera com meu pai. Como vê fomos muito honestos um com o outro.

O metre chegou e alcançou a carta de vinhos e refaz. O Sr. Renato Corso perguntou?

— Gosta de camarão?

Mada respondeu que sim.

— Queremos um camarão à parmegiana. Madalena escolha o vinho.

— Queremos o mesmo vinho que foi servido ontem, estava ótimo.

Em todo o jantar Renato Corso não deixava de olhar para Mada, parecia extasiado. Mada disse:

— Fale—me sobre você, sua família, seus negócios?

Tudo que Renato Corso contou a Mada foi que estudara na Europa e Ásia, por dois anos, antes de assumir a direção das Indústrias da família. Ao retornar dos estudos enamorou—se de Margarita que era filha de um dos diretores do Grupo, casou—se aos 28 anos e permaneceu casado por 7 anos, quando Margarita sofreu um acidente fatal, que antes de o acidente planejavam ter filhos, o que não se concretizou.

No navio pesqueiro, o Senhor Branda jantava com o Comandante Flamingo, durante a qual falavam sobre a pesca do Atum. Dizia o Senhor Branda:

— Atum, Albacora, Tuna, Albacore são considerados os peixes mais hidrodinâmicos entre as formas existentes. O corpo é fusiforme e o pedúnculo caudal bastante estreito. Existem várias espécies que alcançam de 50 a 200 kg. As espécies mais comuns na costa brasileira são a albacora (Thunnus albacares) e o atum (Thunnus atlanticus), menor que a albacora.

— Quais as espécies que você costuma a pescar Comandante?

Costumamos pescar espécies mais novas, que andam em cardumes e com peso a baixo dos 20 kg.

É realmente, as espécies encontram—se amplamente distribuídas de acordo com a temperatura da água: — Argüiu o Senhor Branda. — Por exemplo, a albacora vive em águas quentes, com temperatura ao redor dos 27 °C. São encontradas sozinhas ou em cardumes. Grandes cardumes de albacora costumam frequentar o litoral do Nordeste. Os cardumes, muitas vezes mistos, às vezes são acompanhados por golfinhos e baleias. Indivíduos jovens costumam formar grandes cardumes. Alimentam—se de lulas e peixes, como sardinhas e manjubas. Não costumam se aproximar da costa, sendo mais frequentes em alto mar. São importantes para a indústria pesqueira.

— Que tipo de linhas vocês utilizam na pesca?

— Por serem espécies de grande porte e muito ativas, os equipamentos são do tipo pesado. As linhas variam de 12 a 30 lb. E os anzóis de n° 3/0 a 8/0.

— Quais as iscas que utilizam?

— As iscas naturais mais usadas são lulas e peixes pelágicos, entre eles sardinha, parati e peixe voador, muito apreciado. — Também pegam muito bem iscas artificiais, como plugues de meia água, lulas sintéticas e colheres.

— Durante a noite fez—se a captura do isco com auxílio de luzes para atrair os peixes. Depois de cada lanço, e mantendo a rede na água, os peixes aprisionados são retirados em pequenas quantidades com auxílio de chalavares e imediatamente introduzidos no viveiro, metendo a xalavar suavemente dentro deste e deixando sair o peixe sem os forçar. Os viveiros são em madeira, é um dos componentes da pesca com isco vivo, neste atuneiro temos quatro viveiros com aproximadamente dez metros cúbicos cada um localizados abaixo do convés principal, na zona central do navio.

A conversa foi até altas horas da noite. Na manhã seguinte às 6:00 horas iniciaram a procura dos cardumes. O barco dirigia—se para as zonas onde tradicionalmente os atuns aparecem, um corrico com a amostra empatada em uma linha fraca, para partir quando o atum mordesse, impedindo que o peixe ficasse preso e os seus movimentos desordenados espantassem os outros que o acompanhassem. Após duas horas o cardume fora avistado e detectada a sua presença, o atuneiro iniciou a abordagem, os pescadores identificam a direção que levava a localização da “cabeça” do cardume. “O barco navega ao lado do cardume, com todo o cuidado para não o cortar colocando—se um pouco a frente da cabeça”. Nessa posição, o engodador começara a lançar à água isco vivo em quantidade para atrair o cardume tentando pará-lo. Quando foi conseguido, o cardume de atum começou a vir ao encontro da embarcação, o engodador, nesse momento passou a lanças o isco vivo um a um, regularmente, apenas à borda onde seriam lançadas as canas, até que os atuns viessem comer quase encostado ao atuneiro. No momento em que o atum já está francamente a comer à borda, pararam—se todas as bombas de esgoto e a própria hélice, e ligaram—se os chuveiros, ao mesmo tempo, em que, os pescadores iscaram os anzóis e começaram a pescar. Explicou Flamingo:

— Os chuveiros têm duas finalidades: não deixar o atum ver os pescadores, pois as águas ao largo eram límpidas, e provocar à superfície uma marulhar que se assemelha ao movimento dos cardumes de pequenos peixes, o que tornava o atum mais sôfrego de alimento.

O pescador, quando o atum era pequeno ou médio, mal sentia o peixe ferrar, levantava a vara fazendo com que o atum ficasse à altura da axila, apertava—o com o braço e retirava o anzol, ou o lançava simplesmente para trás, o que fazia o se desferrar.

O convés estava cheio, os homens estavam cansados. E, ainda teriam de acondicionar os peixes no gelo. O cardume se fora, era hora de acondicionar o pescado no gelo. Enquanto os homens acondicionavam os peixes no porão sob camada de gelo, o Sr. Branda escolhia alguns exemplares e os eviscerava, com imenso cuidado usando uma técnica que se poderia comparar a uma técnica cirúrgica. Os restos das últimas refeições eram acondicionados cuidadosamente em sacos plásticos, os exemplares eram mapeados, medidos e as anotações, todas numeradas, correspondiam às amostras que eram acondicionadas nos contentores com gelo seco.

Algumas horas depois, o ritual se inicia novamente até que a carga por fim ficou completa, era hora de retornar ao porto. No retorno que durara 8 horas, o Sr. Branda aproveitou para colher amostras utilizando redes de arrasto. As espécies capturadas eram miudamente catalogadas, medidas pelo Sr. Branda que ora filmava, ora fotografava.

O barco atracara no cais da Pesca Oceânica. O Sr. Branda desceu e se dirigiu ao escritório de Madalena que o esperava de braços abertos, um forte e carinhoso abraço de ambas as partes se sucedeu, Mada disse que havia sentido muito a sua falta, embora estivesse absorta na maioria do tempo pelo trabalho. O Sr. Branda contou-lhe demoradamente toda a pesca enquanto lhe segurava as mãos. Ao final lhe disse que convidara o comandante do Luzianna para o jantar.

— Como foi de pescaria Sr. Branda? — Disse o Sr. Renato Corso ao surgir à porta.

— Ó como vai Sr. Renato, a pesca foi ótima colhi belos exemplares para meus estudos, mas sente—se e conversemos.

A conversa foi animada o Sr. Renato prestava a atenção nos mínimos detalhes com simpatia e admiração. Mada nesse momento passara a fazer suas atividades normais. Ao final da conversa o Sr. Renato desejando uma boa noite a ambos se afastou.

À noite no restaurante do hotel, o comandante Flamingo, trajando um blazer azul e calças brancas, chegara antes de seus anfitriões, tomava uma dose de vodka com suco de abacaxi encostado no balcão do bar. Passado alguns minutos, adentra no restaurante o casal Branda. Mada vestia um traje verde calipso, exibia uma gargantilha de ouro no pescoço, o Sr. Branda um terno grafite, camisa azul claro e gravata preta. O comandante Flamingo dirigiu—se a eles, o Sr. Branda os apresentou.

— Este é o comandante Flamingo, esta é Madalena.

O comandante Flamingo fez uma mesura, Madalena alcançou-lhe a mão, o comandante pegou-a e depositou.

lhe um osculo no dorso da mão. Todos concordaram em beber vodka com suco de abacaxi, o barman preparara uma dose e serviu a todos. A conversa fluía e versava sobre pesca e navios. O comandante do Luzianna mandara preparar para o jantar a pedido dos anfitriões, iscas de peixe, uma tábua de frios e uma salada completa a moda da casa. Como parecendo cansada da conversa sobre pescas e navios, Mada dirigindo a palavra ao comandante Flamingo, disse:

— Comandante porque não nos fala sobre o senhor? Deve ter uma vasta experiência de vida?

— Menos do que a senhora possa imaginar Sra. Branda.

CAPITULO IV

COMANDANTE FLAMINGO:

— Sou filho de pescadores, com idade de 12 anos já pescava com meu pai, quando não estava estudando. Não necessito dizer que meus pais eram podres, porem vivíamos com honestidade e respeito mutuo.

Certo dia quando tinha 17 anos, conhecera na escola uma menina de 16 anos, que estudava uma séria anterior a minha, ela se chamava Lailla, filha de um advogado famoso na época, iniciara—se um flerte e logo intitulavam-nos namorados. O namoro evoluía, estávamos apaixonados, nos intervalos na escola sempre estávamos juntos. Lailla, ou Lai, como carinhosamente a chamava, uma obra de arte da natureza, o rosto angelical, o corpo perfeito, a pele aveludada como um pêssego maduro, seus seios bem formados, o cabelo loiro formavam imensos cachos que se debruçavam sobre os ombros, seus olhos verdes, mais pareciam duas esmeraldas lampejantes. Eu era louco por Lai. Certo dia combinamos que no sábado iríamos sair de barco, oceano a dentro. O pequeno barco subia e descia as ondas que quebrava na praia, passada à rebentação, o mar estava calmo, Lai estava adorando o passeio, quando já não mais se avistava a praia, desligamos o motor deixando o barco à deriva. Lai se aproximou peguei—a em meus braços e nos beijamos longamente, como a situação era propícia fomos ate as últimas consequências, nos amamos por mais de uma vez. O corpo despido de Lai é a mais fantástica lembrança que carrego comigo. Seus cabelos absolutamente louros, os seios fartos, mas firmes, sua cintura era bem marcada, seus quadris arredondados, pernas longas bem torneadas, canelas grossas e pé pequeno.

Retornamos do passeio, ao chegar à beira do cais para o atracamento, seu pai já a esperava andando indócil ao redor do luxuoso carro.

Mau Lai descera seu pai pegou-a pelo braço, sem ao menos olhar para mim. Com truculência a colocou no carro e partiu em disparada. Na segunda feira Lai não compareceu às aulas, na terça também não, na quarta, quina e sexta não. Fiquei desesperado, criei coragem e fui até a mansão, onde ela morava, era um casarão antigo, portas largas e altas, maçanetas de bronze, um batente, com a forma de uma mão em bronze. Bati na porta com bastante firmeza, um senhor de mais ou menos 40 anos atendera—a, perguntei—lhe por Laila, o homem disse que Laila viajara para o exterior. Disse—lhe que queria falar com o pai dela, o homem respondeu que o Dr. Francisco era um homem muito ocupado e que não poderia me atender. Passaram—se varias semanas, todos os dias e a todo o momento, que podia, passava rondando a casa, o pai de Laila saia de carro, por diversas vezes tentei pará-lo, porem tinha de sair fora senão era atropelado. As noites, sozinho na casa de meus pais que nada sabiam, ficavam ate altas horas da noite pensando em Lai, em meus pensamentos recordavam como era carinhosa e quanto a amava. Terminara o segundo grau e tendo completado 18 anos, resolvi alistar—me na marinha. Fui aceito na marinha, entrei para a escola naval, estudara muito, pois o meu objetivo era retornar graduado e procurar Lai. Tive oportunidade de seguir a carreira militar tendo, em 15 anos, galgado o posto de capitão da Marinha Brasileira.

Tirara uma licença de duas semanas e resolvera retornar a minha cidade natal, meus pais já haviam morrido, por isso hospedei—me em um hotel. No dia seguinte caminhava pela cidade saudoso nos últimos detalhes, a cidade havia crescido muita coisa mudara as ruas agora eram todas calçadas ou asfaltadas.

Ao chegar à rua onde morava, Lai avistei o casarão, velho e mal cuidado. Bati com o batente, alguém abrira a porta, era um homem que deveria ter 60 anos ou mais, seus traços não me eram estranhos, lembrei—me era o mesmo empregado que me atendera há 15 anos atrás. Apresentai—me como capitão Pedro de Albuquerque da Marinha Brasileira, e disse que queria saber notícias de Laila. A senhorinha Laila! Disse o homem, o senhor esta louco? O homem não me tinha reconhecido. Perguntei—lhe: Se o Dr. Samuel Noronha, advogado famoso, ainda morava na casa. — Não senhor respondeu o homem, A família Noronha mudou—se após a morte de sua filha Laila. A dor que senti no peito foi maior do que se estivesse sentido a penetração de um punhal. Disse ao homem, não se lembra de mim há mais de 15 anos, um garoto que passou varias semanas rondando a casa e procurando falar com o Sr. Samuel.

A agora me lembro de como você está mudado ficou um homem forte e vistoso.

Por favor, conte-me o que aconteceu, quando Laila morreu?

Quando você desapareceu, ou seja, quando não mais rondava a casa, Laila entrou em profunda depressão, praticamente prisioneira em seu quarto, passou a não se alimentar, seu pai, não amoleceu seu coração, passaram-se meses. Seu pai dizia que Laila estava em viajem pelo exterior, enquanto permanecia trancada dentro de casa. Dada à fraqueza contraíra uma gripe que se transformou em pneumonia, não resistiu e morreu três meses após a sua partida. Em seguida sua mãe morreu de desgosto e seu pai se suicidou.

Senti uma profunda tristeza, chorei profundamente, passei uma semana embriagado. Em um dia acordei olhei—me no espelho e disse: homem reaja, tomei um banho, desci para o refeitório do hotel tomei um desjejum, não mais bebi, ao cabo da licença retornei ao navio onde servia. Dois anos depois, passei para a reserva sendo contratado pela Pesca Oceânica como comandante do Luzianna, adotando o codinome de Flamingo. E, aqui estamos.

O garçom serviu a refeição, todos comiam o Sr. Branda disse:

— Comandante, ficamos muito comovidos com a sua história, mas depois disso o senhor não voltou a se apaixonar?

— Não Sr. Branda até o momento não apareceu à mulher que substituísse as recordações de Laila.

Voltaram a falar sobre pesca e oceano, até o final do jantar.

ARAQUEM NORTON 1945 — Rio de Janeiro.

O bem sucedido empresário Aníbal de Toledo, mantinha em um pequeno bordel da cidade, uma jovem com apenas 18 anos, chamada Andora da Silva, que ele mesmo tinha colocado lá, sob suas expensas econômicas. Andora ficara grávida de Aníbal que, quando soube da gravidez, disse-lhe que esta era de sua total responsabilidade abandonando-a sua sorte. Andora que não era prostituta profissional e estando grávida foi amparada pelas prostitutas do bordel que se cotizavam para prover o seu sustento. Chegara o dia e à hora do nascimento, as prostitutas chamaram uma parteira da cidade, que atendeu o parto. O parto fora difícil, mas nascera um belo bebe varão, passado uns poucos dias, Andora passou a ter febre alta, foi chamado um médico, que a hospitalizou para fazer uma curetagem, porem a infecção estava generalizada e Andora morreu poucas dias após a hospitalização. O bebe de Andora foi adotado pela dona do bordel, uma mulher madura, porém com uma beleza incontestável e uma alegria contagiante que, o registrou com o nome de Araquém Norton. Araquém foi à criança mais amada do mundo, era paparicado e adorado por uma dúzia de tias, todas prostitutas, que sempre lhes dedicavam toda a atenção e carinho. Araquém desde pequeno mostrara ser mais inteligente que a maioria dos homens, muito cedo entendeu que o mundo é um grande mercado onde tudo se compra ou se vende. Na escola esteve sempre à frente dos demais colegas, chegava a entender que a escola era uma perda de tempo, pois sua capacidade de aprender era tal que a frequentava apenas por obrigação para passar de ano, pois seu aprendizado auto didático o levava a ter interesse por matérias diversas as do aprendizado normal.

Chegando à maioridade, sua mãe adotiva, a dona da Casa Rosada, o enviou para o exterior, primeiro para a Europa onde Araquém permaneceu durante dois anos, apreendendo as línguas inglesa, alemã e francês. Mais tarde permaneceu nos Estados Unidos da América por seis meses onde ampliou seus estudos sobre diversos níveis de conhecimento.

Araquém Norton teve de retornar ao Brasil prematuramente, pois sua mãe adotiva tinha falecido, deixando-lhe a propriedade e uma pequena fortuna que acumulara em toda sua vida.

Araquém nomeou uma das mulheres de sua confiança para tomar conta da Casa Rosada, passando a dedicar-se a estudar o submundo, envolvendo-se com drogados e alcoólatras, fundou diversos alcoólatras anônimos e drogados anônimos. Sempre dedicando, com muito carinho, as prostitutas, afinal estas foram as que ele conheceu como sua parente mais próximas. Com sua inteligência não foi difícil passar em concursos, chegando a ser gerente de uma rede bancaria, porem não era o que queria, terminou se demitindo e, passando a dedicar-se aos investimentos de capitais. Na bolsa de valores ganhou milhões. Fez grande investimento em casas de tolerância, mas sempre as doava as prostitutas que lá frequentavam.

CAPITULO V

UM AGRAVO: ARAQUEM — 1980

— Em 1980, quando Araquém tinha 35 anos, foi procurado em sua casa de campo, por uma prostituta a qual não conhecia. A mulher estava com o rosto deformado, cheio de hematomas, tendo lhe contado a seguinte história:

Que o procurara aconselhada por uma amiga, para que ele a ajudasse. Pois, fora espancada por um cliente, que lhe fizera uma proposta, para que, vivesse apenas para ele, em um apartamento na cidade. Como se recusara, aplicou-lhe uma tremenda surra e desapareceu.

Araquém, perguntou:

— Você o conhece bem? Qual é o seu nome?

A mulher lhe respondeu:

— Ele se apresentou simplesmente como João, nada mais disse sobre si, pois sempre o atendi como cliente e tudo o que fiz, para agradá-lo, foi em pleno exercício da profissão. Araquém colocou a mão na testa e pensou por alguns instantes: Ela não sabe nada, estamos num mato sem cachorros. E, disse?

— Minha cara, você terá de me fornecer no mínimo um retrato falado desse homem. Coloque—o em seu pensamento, reproduza a sua imagem e a descreva miudamente.

A mulher posse a pensar, e disse:

— Não sei como descreve-lo

Araquém sacudiu a cabeça, e falou:

— Vou lhe fazer um rol de perguntas, a cada uma delas deverá pensar, e, somente responda quando estiver certa de estar dando a mais correta descrição.

A mulher assentiu sacudiu a cabeça positivamente, e ele perguntou:

— Descreva a sua estatura:

— Em torne de um metro e sessenta, pernas curtas, tórax largo, cabeça grande e pescoço curto.

— Descreva a sua fisionomia;

— Cabelos pretos e lisos, um pouco grisalhos, com grandes entradas nas têmporas; apresentava—se com barba escanhoada e sem bigode; quase nunca sorria e quando o fazia apenas alargava o canto da boca; seu nariz e orelhas normais para o tamanho da cabeça.

— Que idade acha que tem?

— Em torno de quarenta e cinco anos.

— Ele é expansivo, ou soturno; de fala fácil, ou quieto; alegre ou triste?

A vítima pensou detidamente, coçou a cabeça embaraçada e disse:

— Não sei como responder, pois, o seu humor era muito variável tinha dias que estava alegre e falante, outros estava triste e soturno.

Araquém colocou a mão no queixo pensativo, e falou:

— O relacionamento foi longo, tanto que, o levou a interpretar que você gostava dele, estou certo?

— Sim, respondeu pensativa.

— Alguma vez ele a convidou para sair com ele para jantar ou passear?

— Apenas uma vez, convidou—me para passar com ele um fim de semana, em um hotel na cidade vizinha, porém, eu tive de dar entrada, sozinha, no hotel que ele recomendou ficarmos em quartos separados, para fins de registro no hotel.

— Sabe o nome do hotel?

— Sim, eu lembro perfeitamente, pois o seu nome estava escrito, no cardápio e nas toalhas de banho, o nome era Lafaiete Hotel.

— Quando isso aconteceu? Será possível você lembrar a data, pense o quando for necessário.

Após pensar demoradamente, respondeu:

— Não, não lembro.

Araquém lhe disse:

— Quanto tempo faz isso?

— Mais ou menos dois meses atrás.

Ótimo! Respondeu Araquém

— E, foi no início ou no fim do mês?

— No início, sim, foi na primeira semana do mês.

— Ótimo! E, que dia da semana?

— Foi em uma segunda feira.

— Considerando que estamos em novembro, dois meses atrás seria em setembro; na segunda feira da primeira semana, vejamos, foi no dia 4 de setembro de 1980.

— Minha amiga! Disse Araquém com muito carinho:

— Siga teu caminho a justiça será feita.

Abraçou a mulher, aplicou—lhe um ósculo na fronte e disse vá em paz.

A INVESTIGAÇÃO NO HOTEL

Araquém chegara ao Lafaiete Hotel, às 19 horas, este estava em pleno movimento, a recepção cheia, após esperar por 20 minutos, foi finalmente atendido pelo recepcionista. Que

registrou mediante a apresentação de documentos de identidade.

Às 22 horas, Araquém desceu até a recepção. O movimento já era insignificativo, apenas pessoas circulavam dirigindo—se para o refeitório. Araquém Norton encostou-se no balcão de atendimento, quando foi interpelado pelo recepcionista que lhe perguntou?

— Em que posso servi-lo?

Araquém tirou um bloco de anotações do bolso, e disse:

— Um cidadão esteve hospedado neste hotel no dia 4 de setembro passado, eu tive um contato de negócios com ele, e agora necessito de seus serviços, perdi o seu cartão, e não me lembro do nome dele e também não sei o seu endereço.

O recepcionista, rapaz de mais ou menos 25 anos, disse:

— Não podemos dar informações sobre nossos hóspedes, você entende é regulamento do Hotel.

Araquém passou a mão na cabeça, alisando o cabelo e disse:

— Não se trata de uma informação, o que quero é apenas que o Sr. me faça um serviço, e para tanto devo pagar. O que quero é que durante a noite, quando não tiver mais movimento, o Sr. me faça uma lista de todo o homem que se hospedou no dia 4 de setembro e que não estivesse acompanhado, apenas isso. Para tanto lhe proponho o pagamento de *100 cruzeiros, pelo trabalho de no máximo.

Uma hora.

O rapaz assentiu e disse:

— Terá a sua relação pela manhã, no entanto, a direção do hotel não deve saber de nada.

Certamente respondeu Araquém, piscando o olho direito.

A ESTRATÉGIA DA PROCURA.

No dia seguinte. Araquém Norton levantou cedo em sua casa de campo, após o desjejum, começou a procurar na lista telefônica, colocando ao lado dos nomes a número do telefone encontrado na lista. Após haver completado o serviço. Passou a elaborar a estratégia de abordagem que consistia em telefonar para os números dizendo o seguinte:

Por favor, quero falar com o Sr. Fulano de Tal — Quando este atendesse, perguntaria:

— O Sr. esteve Hospedado no Hotel Lafaiete na cidade de Landría, no dia 4 de setembro?

Esperaria a resposta, se fosse positiva, diria o seguinte:

— Eu estive hospedado no mesmo hotel, onde tive uma valise trocada. Acontece que dei saída do hotel e viajei para o exterior, somente retornando agora. Por acaso o Sr. também não teve uma valise trocada?

Caso a resposta fosse não, não, estive hospedado nesse hotel. Vamos considerar esse nome como suspeito de ser o indivíduo que procuramos.

De toda a lista de 34 pessoas, Araquém obteve 5 respostas de que não estiveram hospedados, portanto, cinco suspeitos. Procurou na lista telefônica, desta feita, o endereço do assinante. Que foram:

João Victor de Mendonça — Rua Flores da Cunha, 1456;

Marcos D’Almeida Vasconcelos — Rua Duque de Caxias, 1287;

Antônio Pereira de Albuquerque — Rua Marques do Pombal; 234;

Otávio Becker — Rua 25 de Julho; apto 24. Edifício Claudia;

Gilberto Martins — Rua das Alamedas, 976.

No escritório havia apenas uma mesa para reuniões, a qual era utilizada para os trabalhos burocráticos. Na parede uma placa que dizia: — “Detetive Pereira, investigações especializadas”.

O homem de estatura mediana, com média obesidade, olhos de chacal, nariz afilado, calvo com cabeça pequena e pescoço curto, usando um terno cinza amarrotado, camisa azul-claro e gravata borboleta.

— Sou um cliente, meu endereço postal é Cx. 235. Espero não me identificar. Quero um trabalho extremamente confidencial. Quando pronto, o Sr. deverá enviar a cx. Posta, o número da sua conta bancária e quanto deverei depositar para satisfazer os seus honorários. Após o pagamento o Sr. enviará a caixa postal o fruto de seu trabalho.

O detetive, nada perguntou, dizendo apenas:

— Qual é o trabalho?

— O trabalho consiste no Sr. fotografar cinco homens, para que seja identificado, portanto, deverá ser tiradas diversas fotos e em diversos ângulos. Aqui está a relação com os nomes e endereços.

Passados 15 dias, Araquém telefona para Marta, pedindo que ela o procurasse com a brevidade que fosse possível.

Marta não se fez esperar. Os hematomas haviam desaparecido, Araquém nem a conheceu quando a viu.

Quando Marta disse: —

— Me chamou, pois, aqui estou.

Araquém a cumprimentou, e disse:

— Marta, tenho algumas fotos para você ver, espero que identifique o seu agressor.

Marta examinou as fotos e disse, separando cinco delas.

— É este, é este o homem que me espancou.

Araquém agradeceu a identificação, e disse:

— Terá notícias dele em breve, é só esperar.

A TÁTICA DA AÇÃO:

Araquém estacionara o carro no pátio de estacionamento do Banco Interamericano do Brasil S/A. E, adentrara no saguão do salão principal, que era circundado por diversos posto de atendimento personalizado, separados uns dos outros por um pequeno espaço. Logo foi atendido por um dos gerentes executivos, que o fez sentar em uma poltrona localizada a frente do posto de trabalho. Araquém disse que queria abrir uma conta corrente. O gerente solicito, perguntou?

— De quanto será o depósito inicial?

— De um milhão de Reais!

Respondeu Araquém. Após a abertura da conta, Araquém solicita informações confidenciais, sobre uma empresa da região. O gerente executivo informa que não as poderia dar, no entanto, o encaminharia ao Diretor executivo do banco. Araquém foi encaminhado a um gabinete luxuoso, o gerente falou em solilóquio com o diretor, virou—se para Araquém e disse:

— Este e o Sr. Araquém Norton, nosso novo cliente, que deseja algumas informações. — Fez uma mesura e se afastou. O diretor levantou—se e dirigiu—se para perto de Araquém, estendeu—lhe a mão dizendo:

— Grande satisfação em tê-lo como novo cliente de nosso banco. Sou João Victor de Mendonça, diretor executivo deste banco. Em que lhe posso ser útil?

— Sou Araquém Norton, investidor de valores. Acabo de abrir uma conta com o seu banco, de forma que pretendo estreitar nosso interesse, comerciais e financeiros. Necessito para tanto que o seu banco me forneça um dossiê completo sobre as Indústrias Têxteis Brascubas S/A.

João Victor passou a mão sobre a cabeça, apertou o queixo e disse:

— Bem, essas indústrias estão passando por séria dificuldade, diria até que estão em fase pré-falimentar.

Araquém sorriu, esticando os cantos da boca, olhou demoradamente para o seu interlocutor e disse:

— Sr. João, esse fato já é de meu conhecimento, o que quero saber é a quem pertence o controle acionário da empresa? Como está composto o seu capital? Com quem estão as ações ordinárias que dão direito a voto? Qual o montante das ações preferências? Etc; etc.

O Sr. João Victor de Mendonça, levantou—se e dirigiu—se até uma mesinha, onde havia uma garrafa térmica e algumas xícaras para cafezinho, serviu dois cafezinhos, alcançou um para Araquém. Gesto este que o permitiu pensar por alguns instantes e falou:

— Para obtermos tais informações é necessária uma demorada pesquisa, e isso, leva tempo e demanda muito trabalho. Mas poderá ser feito. No entanto, necessito saber qual o seu interesse?

Araquém preparando uma porção de fumo no cachimbo, disse:

— Já contava com essa pergunta. Nosso interesse é em adquirir o controle acionário e tomar posse da empresa. Como disse sou um investidor tenho faro para o negócio, essa empresa em minha mão, dobrará sua produção em poucos meses, suas ações irão subir vertiginosamente, sua produção de têxteis será voltada à exportação. Naturalmente necessito saber as exigências do banco para a prestação desse serviço?

— Apenas faremos o serviço na promessa de tê-lo como cliente preferencial do nosso banco. Dentro de 15 dias terá o seu relatório.

Passados os 15 dias, Araquém retorna ao banco e é recebido pelo Sr. João Victor, que após uma breve conversa de negócios, entrega—lhe o levantamento realizado. Araquém examina o trabalho verificando que as ações ordinárias estavam nas mãos de apenas dois sócios, as preferências essas sim, estavam pulverizadas, no entanto, a maioria estava em poder de investidores conhecidos no mercado de capitais. Araquém disse:

— No momento somente me interessam as ordinárias, as quais pretendo comprar por preço vil, negociando com os diretores da empresa.

Agradeceu dizendo que voltaria a vê-lo no futuro próximo.

Passados dois dias, o Sr. João Victor recebe um telefonema dos diretores da empresa, Indústrias Têxteis Brascubas S/A, solicitando informações sobre o Sr., Araquém Norton, que estava interessado em adquirir o controle acionário da empresa.

João Victor informa que o Sr. Araquém, é cliente preferencial do banco e que tem uma grande quantia depositada em sua conta.

Os diretores informaram que sendo assim, iriam fechar o negócio no dia seguinte, ou seja, passariam o controle acionário da empresa ao Sr. Araquém Norton.

A transação é realizada no dia seguinte, após a compra Araquém vai ao banco e conversa demoradamente com o Sr. João Victor, dando—lhe ciência que haverá um aporte financeiro de $50.000.000 de dólares, para modernização e duplicação das indústrias.

O DIA DA BOLSA:

No dia seguinte, Araquém vai à bolsa de valores, e vê que três pessoas estão comprando as ações preferências da indústria.

Têxteis Brascubas S/A e que estas estão valendo cada vez mais, as três pessoas as compram sem parar.

Por uma semana Araquém acompanhou as negociações das ações das Têxteis Brascubas, as ofertas já não existiam mais, o que indicava que as ações já estavam nas mãos dos três compradores.

Araquém pede a autofalência da empresa Têxtil Brascubas e a liquidação da massa falida.

Tão rápido como um rastilho de pólvora a notícia se espalhou, Araquém recebe um telefonema do Sr. João Victor de Mendonça, o homem estava possesso dizia que fora traído, que havia comprado todas as ações preferenciais da Brascubas, que agora não valiam nada. Araquém perguntou apenas se lhe aconselhara a comprar as ações? Se lhe tinha garantido algum negócio? Não, então porque estava se queixando?

No dia seguinte os jornais estampam a seguinte notícia: “Preso”.

“Diretor executivo de banco por dar desfalque, para adquirir ações que não valiam nada.”

JULIA MENEZES PEREIRA — 1997

O telefone toca na residência de campo do Sr. Araquém Norton, É pelo próprio atendido.

— Alo quem fala? Diz a voz de uma mulher

— É Araquém Norton, as suas ordens.

— O senhor não me conhece, diz a voz, no entanto já ouvi falar muito do Sr. que ajuda as pessoas que se sentem injustiçadas, como é o meu caso, por isso, necessito falar com o Sr..

A voz deu uma pausa, como que sugerindo que o seu interlocutor falasse alguma coisa.

Disse Araquém:

— Podemos marcar uma hora para recebê-la em minha casa. A voz hesitou e disse:

— Não eu não poderia ir vê-lo, em não tenho recursos e sou paraplégica. O Sr. teria de vir até a minha residência, que fica em um bairro pobre perto da Central do Brasil.

– Pode me fornecer o endereço completo? — Perguntou Araquém.

– Sim fica na Rua dos Açores, 4765, o Sr. chegando à Central do Brasil é só perguntar a alguém ou consultar um mapa que é fácil de encontrar. Eu estou sempre em casa, meu nome é Júlia Menezes Pereira.

— Me aguarde Sra. Júlia, em breve nos encontraremos.

Eram dez horas da manhã, quando Araquém Norton chegou a Central do Brasil, o movimento era intenso, trens que chegavam e trens que saiam.

Araquém abre o mapa do bairro e localiza a Rua dos Açores, o número 4765, distava em 4 quarteirões, o que o levou a pegar um táxi. O motorista era um português, com sotaque acentuado dos lusitanos.

— Donde vais? Perguntou o motorista.

Araquém forneceu—lhe o endereço e o homem que deu partida no veículo.

— Localizada a casa, Araquém pagou o táxi e o dispensou. A casa era realmente modesta, de construção mista, sua frente era em alvenaria de tijolos e os fundos em madeira, um portão de ferro dava entrada ao pátio, uma rampa dava acesso à porta. Araquém apertou a campainha, a porta abriu, uma jovem senhora aparentando 40 anos, conduzindo-se sobre uma cadeira de rodas surgiu sob o resplendor do Sol da manhã. A jovem senhora de cabelos castanhos claros, que formavam um coque na parte lateral esquerda da cabeça, olhos verdes como duas esmeralda, lábios grossos e bem formados, esboçando um largo sorriso, que expunha uma grande e perfeita dentadura, lhe disse:

— Estava a sua espera Sr. Araquém, entre, por favor.

A sala era pequena, mas acomodava em sofá e duas poltronas, sobre um grande tapete.

Araquém acomodou—se em uma poltrona, pondo—se a imaginar qual seria a história daquela mulher? Júlia posicionou sua cadeira de rodas a frente do Sr. Araquém e disse:

— Ouvi falar muito do Sr. e por isso resolvi telefonar-lhe, e lhe expor as minhas dificuldades.

O que disse Araquém:.

— Antes que comece, quero lhe informar que não deve ter grandes esperanças. E, que seu caso pode ser de difícil solução, em síntese não lhe garanto nada, a não ser ouvi—lá atentamente e estudar o seu caso.

— Quando em tinha 20 anos, isso já vai 18 anos, era uma jovem sonhadora que tinha vindo do interior. A vida não era fácil, para encurtar o caso, logo passei a ser garota de programa. Saí por varias vezes com um rapaz com 20 anos que me apanhava seguidamente para fazermos programa. Costumávamos dançar, beber e após irmos terminar a noite em um motel de qualidade.

Uma noite quando nos dirigíamos ao motel, o rapaz em alta velocidade e embriagado perdeu—se em uma curva e o carro bateu de lado em um poste. Eu perdi os sentidos com a batida, tendo me acordado em um hospital, alguns dias depois, quando tive notícias de que tinha ficado paraplégica. Perguntei pelo meu companheiro me disseram que nada havia sofrido. Permaneci por diversa semana hospitalizada, quando tive

alta fui para a casa de uma amiga. Alguns meses depois, recebi uma intimação para comparecer a uma audiência para apurar a responsabilidade criminal do acidente. Perante o juízo para dar um depoimento no julgamento do rapaz que tinha se acidentado junto comigo. Quando da audiência, vi o réu, disse haver um engano que aquele não era o rapaz que havia se acidentado comigo. O advogado de defesa começou a perguntar-me, qual era a minha profissão, se no dia havia bebido muito, quantas doses, em fim fez a corte não dar bola para o detalhe que o que estava em julgamento não era a pessoa que se acidentara junto comigo. Mais tarde soube que o acusado fora condenado, porem ficara em liberdade por ser réu primário e por ter bons antecedentes. Meu advogado me informou que o réu não tinha nada na vida, que impetrar uma ação indenizatória seria perda de tempo. Com o acidente mudei de profissão, passei a ser costureira, que é como ganho a vida atualmente.

— Tem alguma ideia do por que da mudança de acusado?

— Sim, o rapaz que se acidentou junto comigo, era um playboy, utilizava diversos carros, sempre que saímos gastava sem exagero, porem tudo era do melhor, dês dos restaurantes como os motéis, nunca regateava quando eu lhe cobrava os meus serviços.

— Diga-me uma coisa, o veículo acidentado a quem pertencia? — Perguntou Araquém.

— No processo constava que o dono do veículo era a pessoa que estava sendo julgada. — Respondeu Júlia.

— Para que eu possa iniciar as investigações e o processo de reparação, necessito saber dos seguintes:

— Todo o seu nome, como consta no processo, o número do processo, a vara onde tramitou e a data do acidente. Aqui tem o meu cartão, quando obtiver as informações favor me remeter. A mais um detalhe. Quanto acharia que deveria ser indenizada como reparação?

Não diga nada agora, pense, e me informe oportunamente.

PESCA OCEÂNICA.

Na manhã seguinte o Sr. Ricardo Branda, dirige—se ao escritório do Sr. Renato Corso, bate a porta e adentra.

— Bom dia Sr. Renato, acabo de receber um E-mail, que me obriga a viajar para a Suíça, devo ficar afastado por uma semana.

— Os negócios sempre nos obrigam a interromper um trabalho por outro mais urgente. Argüiu o Sr. Renato Corso.

— No entanto, Mada prosseguirá as suas tarefas junto a Companhia, vou poupá-la dessa viagem maçante.

Falaram sobre o andamento das pesquisas e outros diversos assuntos. O Sr. Branda despediu—se com um até breve.

Madalena levou o Sr. Branda até o aeroporto na cidade vizinha, e retornou a Pesca Oceânica. No dia seguinte estava Madalena no escritório trabalhando quando batem à porta e entra o Sr. Renato Corso.

— Bom dia Sra. Branda, isto é Madalena, se assim posso chamá-la?

— Bom dia Sr. Renato, certamente que pode me chamar de Madalena.

Vim convidá-la para passear de barco no sábado, a previsão do tempo será favorável aos velejadores.

— Aceito o convite, pena que esta frio ainda para banho.

— Também quero convidá-la para o jantar a noite em um restaurante na cidade vizinha.

— Certamente, pois com a viagem do Branda ficarei muito solitária.

O Sr. Renato observou-a trabalhando antes de se afastar. Madalena era uma das mulheres mais lindas e desejáveis que já vira e, ele pretendia possuí-la. Porém, não era estúpido nem cego, tratava-se de uma mulher comprometida. Tinha de ir devagar. À noite a estrada para a cidade serpenteia ao longo do vale do mesmo nome, com sua colina formada por dunas de areia. No confortável banco do luxuoso carro, Madalena e Renato conversavam. Ele lhe falou da esposa falecida, de que pretendiam ter filhos. Mada ouvia com simpatia. Renato estacionou o carro a frente de um restaurante, desceu contornou o carro abriu a porta para Madalena, que desceu. Um manobrista solicita a chave do carro, Renato dá o braço a Madalena e a conduz até a porta de entrada do restaurante. A porta abre-se automaticamente, eles adentram no salão. O recepcionista lhes deseja uma boa noite e um excelente jantar, conduzindo-os até uma mesa no canto esquerdo do salão. Renato afasta a cadeira, Madalena põe-se na posição, ele aproxima a cadeira e ela senta. O metre apresenta a carta de vinhos e refeições. A música ambiental, naquele momento tocava Lá Luna interpretado por Sarah Brigntman. O Sr. Renato Corso olhava atentamente para a sua companheira e imaginava.

— Como sou um homem de sorte, a vida me coloca a oportunidade de ser feliz novamente. No entanto, devo ser cauteloso e sensato, não posso me precipitar, tudo tem de dar certo.

— Vamos tomar um aperitivo. – Sugeriu Renato.

— Um whisky com soda e gelo. – Respondeu Madalena.

A conversa fora animada, o jantar estava ótimo, porém tinham de retornar ao hotel, pois haviam combinado que velejariam no dia seguinte.

Eram 7 horas da manhã de sábado, Renato apanha Madalena no hotel e se dirigem ao clube de regatas. Na enseada onde fica o clube a potente lancha já estava pronta. Renato segura a mão de Madalena apoiando—a para entrar no barco. Madalena vestia um traje de banho, branco, em duas peças. E, se cobria com um quimono branco, seus cabelos estavam protegidos por um esvoaçante lenço branco, preso a cabeça por um chapéu de abas largas. O Sr. Renato vestia uma camiseta roxa, “colada ao corpo” e uma bermuda preta. O mar estava tranquilo. O vento se fazia sentir como uma delicada brisa, a enseada desaparecia no horizonte. Renato dirigia a lancha com rara habilidade. Madalena sentada ao seu lado desfrutava das carícias do vento em sua delicada pele. Renato a observava, esperando que ela falasse. Madalena olhou para Renato e sorriu. Renato perguntou:

— Esta se divertindo?

— Estou adorando respondeu Madalena. Renato colocou sua mão sobre a mão de Madalena, fitou-a nos olhos e disse:

— Madalena desde que a conheci, minha vida se modificou, não paro de pensar em você. E, não é pelo fato de se parecer com minha falecida esposa, pois a conhecendo mais vejo que a aparência é apenas física, no mais é completamente diferente.

— Espero que seja para melhor! Argüiu Madalena.

— Assentiu Renato

— Sem dúvidas, você é mais desembaraçada, tem mais vivência.

Renato para o barco, o fluxo das ondas o balançar suavemente, a brisa da maresia com delicadeza acaricia os rostos deles. Renato olha para Madalena, o encontro de olhares é como um ímã a aproximá-los. Para desfazer o embaraço, Madalena diz:

— Vamos preparar um drinque? E após pescar?

— Certamente respondeu Renato dirigindo—se para o interior do barco.

— Madalena permanece apreciando a calmaria do oceano. Renato não suporta mais, somente pensa em Madalena, toma-la em seus braços e beijá-la. Ao retornar com os drinques diz:

— Não aguento mais, estou apaixona do por você, eu a quero somente para mim.

Aproximando-se, Madalena coloca a mão em seu peito e o faz parar, e diz:

— Sr. Renato, Não haverá nada entre nos, até que eu resolva tudo com Ricardo. Como já lhe disse ele é um homem honrado e lhe devo tudo o que sou, além disso, temos um contrato de casamento que não poderei saldar no momento. Argumentou Renato:

— Sou um homem rico e posso saldar toda a sua dívida com Branda!

— Ainda assim restará à gratidão que tenho para com ele, essa não tem preço.

— Madalena você é jovem demais para permanecer com ele! Nos podemos ser felizes, por um longo tempo, somo feito um para o outro, eu a amo.

Por mais que Renato insistisse, Madalena resistia heroicamente. Renato disse que iria falar com o Sr. Branda ao retornar da Suíça e esclarecer tudo. Madalena disse—lhe que não, quando fosse o momento ela mesma falaria, no entanto, teriam de se conhecer melhor.

Durante a semana seguinte se encontraram todas as noites, conversavam, porém, Madalena não deixava haver qualquer aproximação, sempre alegando que jamais trairia a confiança de Ricardo. Renato por sua vez não cansava de insistir. Após 8 dias de viagem retorna Ricardo Branda. Madalena foi busca-lo no aeroporto da cidade vizinha. Como de costume Ricardo beijou-a na testa e lhe deu um abraço carinhoso, Madalena demonstrava imensa alegria ao velo retornar.

Ricardo lhe conta que tudo correra dentro do programado, porem que a viagem fora cansativa.

Ao chegarem ao escritório da Pesca Oceânica, Ricardo dirige-se ao escritório do Sr. Renato Corso, os dois homens trocam cumprimentos, Renato não consegue disfarçar o nervosismo, O Sr. Branda nota e lhe diz:

— Sr. Renato há algo errado? Você parece nervoso e preocupado!

Ao que Renato responde:

— Esta tudo bem! Como foi de viajem?

— Muito bem, porém como sempre, cansativa!

Branda lhe conta a viagem. Com abundância de detalhes. Renato houve com aparente atenção, ao final o Sr. Branda lhe pergunta.

— Como foram as cousas por aqui?

— Muito bem, fiz companhia a Madalena, não foi favor algum, foram horas agradáveis as que passamos juntos.

— Mada é uma ótima companhia! Respondeu Branda.

— O comandante Flamingo se encontra em terra? Perguntou Branda.

— Sim, esta se preparando para uma nova pescaria, sairá amanhã cedo. Respondeu Renato.

Nesse momento adentra Madalena.

— Com licença senhores. Ricardo! Acabo de receber um E-mail para você.

Madalena alcança o E-mail à Branda, que o lê e diz:

— É do Masoc, diz que devo ir ter com o meu editor imediatamente. Responda que vou vê-lo amanhã.

Antes que Madalena se afastar, Renato disse:

— Quero convidá-los para o jantar hoje à noite.

Ambos assentiram, Renato disse:

— Apanho—os às 20 horas no hotel.

— Madalena se afastou, os dois homens continuaram a conversar. Dizia o Sr. Branda que necessitava alguns esclarecimentos para seu estudo que poderiam ser fornecidos pelo Comandante Flamingo, que iria procura-lo mais tarde.

Às 20 horas, Renato Corso estaciona o seu luxuoso carro na frente do hotel, já prontos Madalena e Ricardo, o varão abre a porta de traz do carro para a dama entrar, após acomodá-la entra na dianteira do carro.

— Será uma linda noite Sr. Renato! Diz Ricardo, acomodando-se no banco.

O potente carro anda sobre o asfalto, seus ocupantes, em silêncio, apreciam a paisagem que se movimenta velozmente. O carro é estacionado na frente de um restaurante a beira da estrada. Renato adianta-se e abre a porta para saída de Madalena, Branda já fora do carro oferece-lhe o braço, os três adentram no restaurante. O restaurante estilo Holandês, com decoração própria da terra que lhe dava o nome. O metre os recebe dizendo:

— Sejam bem vindos. Renato se adianta e diz:

— Queremos um reservado, pois vamos tratar de negócios.

O meter assentiu com uma flexão da cabeça.

— Acompanhem—me, por favor.

O reservado como é comum na Holanda, consistia em uma peça não mais de dois por três metros, quatro poltronas, uma mesa baixa entre as poltronas, um exaustor de parede iniciara seu funcionamento, deixando o ambiente bem ventilado. Os comensais se acomodaram nas poltronas, Renato a frente de Madalena e Branda. O garçom ofereceu a carta única onde continha aperitivos, bebidas e refeições à Madalena, ao Sr. Ricardo Branda e por final ao Sr. Renato. Após a escolha o garçom se afasta. Renato diz:

— Sr. Ricardo somos pessoas cultas e embora nos conheçamos há pouco tempo, o Sr. é merecedor da maior estima e consideração. A verdade é que eu amo Madalena, porém ainda não sei se sou correspondido. No entanto, quero casar-me com ela.

Um silêncio fúnebre se instalou no ambiente, ao fundo apenas se ouvia o barulho do exaustor. Branda fitou demoradamente o Sr. Renato, olhou-o olho no olho, após fitou Madalena da mesma forma, cofiou a barba demoradamente e disse.

— Sr. Renato aos meus 58 anos, com toda a experiência de vida que tenho, sabia que mais cedo ou mais tarde Madalena iria encontrar um homem mais novo que a amaria, tanto como eu. Por isso, somente aceitei casar—me com ela, mediante a condição de que a qualquer momento, que entendesse necessário, sem qualquer explicação eu a deixaria livre. E, Sr. Renato, isso foi um ato consciente, o qual vou cumprir, sem qualquer mágoa ou rancor.

Minha cara Madalena esse também é seu desejo?

Perguntou Ricardo

— Sim! Porém, em nosso contrato, eu coloquei uma clausula que o ressarciria de todas as despesas que tivestes com meu pai. Como sabes não tenho como fazê-lo.

Renato interpôs-se dizendo:

Tais despesas eu as ressarcirei.

— Não, isso não é importante. Interviu Ricardo

— Faço questão de cumprir o contrato que Madalena tem com o Sr. arguiu Renato.

— Os drinques chegaram, o ambiente focou soturno, Madalena completamente deslocada, permanecia de cabeça baixa. O jantar transcorreu com um clima de embaraço de todas as partes. O Sr. Ricardo Branda, visivelmente abalado, mal tocara na comida. As 22:30 aproximadamente, o carro foi estacionado a frente do hotel da Pesca Oceânica. O Sr. Branda desceu, abriu a porta traseira e Madalena desceu Branda ofereceu—lhe o braço, como que nada tivesse acontecido despediram-se de Renato que ficou totalmente embaraçado, retirando-se em seguida.

No dia seguinte, Ricardo acordou cedo, tomou um táxi e dirigiu-se ao aeroporto da cidade vizinha. Às 9 horas, Madalena chegou ao escritório e dirigiu-se ao gabinete do Sr. Renato, que já se encontrava trabalhando.

— Bom dia Renato!

Sentou-se a sua frente, olhando-o demoradamente disse:

— Havia lhe dito que eu comunicaria ao Ricardo, você precipitou tudo, no entanto, acho que foi melhor assim.

Renato como um adolescente extasiado, levantou-se, Madalena posse de pé, Renato aproximou-se dela tomou—a em seus braços e lhe sugou os lábios, enquanto a comprimia entre seus braços. Madalena quase perdendo o fôlego o empurra libertando-se, disse:

— Vá com calma, estamos em ambiente e horário de trabalho. Renato voltou a se sentar, Madalena fez o mesmo. Renato perguntou-lhe como foi ontem à noite com o Sr. Branda?

— Agiu como um perfeito cavalheiro fez de conta que já esperava o acontecido, acordou cedo e viajou.

— Fale—me mais sobre o contrato de vocês, inquiriu Renato.

Madalena contou—lhe novamente a história, desta feita com maiores detalhes, Renato que ouvira atentamente lhe disse:

— Você certamente tem as contas bancárias do Sr. Ricardo Branda?

— Sim, eu tenho, necessito de três bancos, mandarei fazer três depósitos de quinhentos mil dólares. Após isso comunicarei ao Sr. Branda.

— Renato com ímpeto de adolescente, no dia seguinte acompanhado de Madalena, viajam para Porto Seguro em lua de mel, hospedam-se em finíssimos hotéis. Madalena está eufórica. Renato imensamente feliz. Retornam dentro de 8 dias, encontram um telegrama do Sr. Branda que diz:

congratulo-me com você Sr. Renato Corso, desnecessário ressarcimento efetuado, como já foi feito, o encaminharei a quem é merecedor. Meus votos de felicidades. Dados aos imprevistos acontecimentos dou por interrompidos os trabalhos na Pesca Oceânica, meus estudos serão continuados em outra companhia. Ricardo Branda.

ARAQUEM NORTON

Duas semanas após haver visitado Júlia Menezes Pereira, Araquém Norton recebe uma carta da mesma.

— Caro Sr. Araquém. De acordo com o combinado estou lhe enviando as informações solicitadas. Apenas não posso informar o quanto custaria uma justa reparação de tudo o que passei. Deixo isso a seu critério, quanto à reparação em dinheiro, no entanto, acho que o ingrato deve pagar por tudo o que passei, para que a justiça seja feita. Um grande abraço: Júlia.

— Alo quem fala: É o Dr. Cristiano Júri as suas ordens.

— Aqui fala Araquém Norton, desejo contratar seus serviços, como advogado. Como serão cobrados seus honorários para fazer uma investigação judicial.

— Cobro por tarefa, diga-me o que deverei fazer e eu informo o preço.

— necessito de informações pormenorizadas de um processo ocorrido em 1982, em que foi vítima Júlia Menezes Pereira, quero informações do réu, e se possível, seu endereço na época.

— Sr. Araquém não sei da dificuldade que terei, pois, já fazem bastante tempo, poderei de ter desentranhá-lo de um arquivo morto do tribunal. Por isso proponho pagamento por hora trabalhada. Cobrar-lhe-ei R$ 100 Reais por hora. Com 10 horas pagas antecipadamente, se for menos horas lhe devolverei o que sobrar.

— Fechado, dê-me o n.º da sua conta bancaria que lhe farei o passe.

— Telefonarei dentro de uma semana. Muito obrigado,

Passado uma semana Araquém recebe o resultado da investigação que dizia:

Processo n.º 45 780/82

3.ª Vara Civil da cidade do Rio de Janeiro.

Réu: Sebastião Rodrigues de Azevedo.

Profissão: Escriturário

Endereço: Rua das Andorinha, 4780 — Rio de Janeiro.

Endereço Ocupacional: Distribuidora de Alimentos Andrau Ltda.

Telefone: 15. 476.3999

Conclusão do Processo; O réu foi considerado culpado de lesões corporais graves. Por ser primário, ter endereço fixo e ser trabalhador foi sentenciado a 2 anos de reclusão, a pena foi comutada para a de liberdade vigiada.

CAPITULO VI

HERCULAN DECROIS — UM DETETIVE ESPECIALIZADO.

Nos pequenos classificados se lia:

HERCULAN — O Detetive.

Especialista em desaparecidos.

Investigações de adultério.

Informações confidenciais.

Telefone 011.525.3333

— Alo é Erculan o detetive.

— Aqui é um cliente que necessita de seus trabalhos confidenciais. Como pagarei seus honorários.

— Meus honorários são de $100,00 dólares por dia mais despesas.

— Nada feito somente pago em Reais, Quanto custa.

— Trezentos reais por dia mais despesas.

— Fechado, dê—me a sua conta bancária para eu fazer o passe inicial.

— Minha conta e no BB n.º da agência 324; conta 456987. Meus honorários adiantados são de R$1.000,00.

— Farei o passe de R$10.000,00. Os quais no final do trabalho serão ajustados. Seu trabalho será encontrar um cidadão de nome:

Sebastião Rodrigues de Azevedo.

Profissão: Escriturário

Endereço: Rua das Andorinha, 4780 — Rio de Janeiro.

Endereço Ocupacional: Distribuidora de Alimentos Andrau Ltda.

Telefone: 15. 476.3999

Estes dados são de 1982. Portanto, há quase vinte anos.

Esse rapaz, na época serviu de laranja em um processo de lesões corporais, por um acidente de carro, ou seja, ele substituiu o verdadeiro culpado. Sua missão será descobrir quem realmente foi o culpado, onde se encontra atualmente e como poderá ser localizado. Seus métodos terão de ser sutis, não poderão criar suspeitas em hipótese alguma. Ou seja, o verdadeiro culpado não poderá saber que está sendo investigado.

— Como poderei entrar em contato com o Sr.?

— Não poderá, eu entro em contato com você daqui a 30 dias, lhe fornecendo o número da caixa postal para o envio do relatório.

Herculan Decrois era um homem feliz. Holandês, radicado no Brasil desde a adolescência, pois seu pai era cônsul da Holanda. O grande detetive, pois tinha um metro e noventa e oito, seu pé calçava o n.º 54, por isso tinha de mandar fabricar seus calçados sob medida, suas faces rosadas, com ausência de barba, mais parecia à face de um bebe. Nariz aquilino fazendo uma leve curvatura como o bico de um falcão. Seus olhos cinza claros eram sempre escondidos por uns óculos espelhado. Pelo seu grande tamanho caminhava arqueado, nem gordo, nem magro, com uma barriga de abundante dimensão dado ao hábito de tomar cervejas.

Com escritório escondido no fundo, de uma barbearia, que era sempre atravessada pelos seus clientes, que não raras vezes ficavam fregueses para o corte de cabelo e barba. Erculan dizia que o local era estratégico, pois seus clientes não tinham de se cuidar ao procurá—lo, pois poderiam apenas estar frequentando uma simples barbearia, em fim, não causava suspeitas.

Seu habito de vestir era o mais normal possível, calças e camisa esporte, dizia que era para não causar suspeita.

O grande detetive careca estava sentado à mesa de trabalho, um charuto entre os dentes manchados, contemplava as anotações à sua frente. Com parcas informações que continha iria causar—lhe um tremendo trabalho, no entanto, estava satisfeito, pois, ganhara um novo cliente. Pegou um mapa da cidade do Rio de Janeiro, localizou a Rua das Andorinhas. Pegou o telefone e discou o n.º 15. 476.3999

— Distribuidora de Alimentos Andrau, boa tarde, em que lhe posso ser útil?

— Por favor, pode passar para o setor de RH (Recursos Humanos).

— Um momento, por favor.

— Recursos Humanos as suas ordens.

— É possível obter o telefone do Sr. Sebastião Rodrigues de Azevedo.

— Não é nosso empregado Sr.

— Trata—se de um velho amigo, o último contato que tive com ele foi em 1982, quando trabalhava nessa empresa, seria possível dizer—me quando ele foi desligado e se deixou um endereço?

— Terei de pesquisar Sr. poderá telefonar daqui uma meia hora.

— Farei isso, muito obrigado.

Ao telefonar mais tarde o detetive Decrois, soube que o rapaz havia se demitido da empresa em maio de 1983. Não deixando qualquer informação para ser localizado.

— Só pego merda, mas, se fosse fácil, para que um detetive especializado, ele mesmo faria a busca.

Apanhara seu chapéu no cabideiro, ao cruzar a barbearia, costumava a caçoar com os barbeiros, e não raro contar—lhes, ou ouvir, as últimas anedotas.

Sua caminhonete marrom de cabina dupla representava espaço suficiente para acomodar sua enorme carcaça. Com o mapa a seu lado rumara ao bairro que procurava mais precisamente a Rua das Andorinha, 4780. Lá chegando, localizada a casa, modesta, porém bem cuidada. Bate a porta, uma senhora atende.

— Boa tarde minha senhora.

— Diz Decrois, fazendo uma mesura de grande dimensão e tirando o chapéu. Estou procurando um amigo de um amigo meu, de nome Sebastião Rodrigues de Azevedo.

— Moro aqui há cinco anos, nunca ouvi falar desse nome.

— Pena que não o encontre, meu amigo vai ficar decepcionado, queria tanto vê—lo. Me diga às vizinhas que moram aqui há muito tempo, você as conhece bem? Poderá me indicá—las para que as procure?

— Sim, com muito prazer, como e mesmo o seu nome?

— Decrois as suas ordens.

— Sr. Decrois vou lhe indicar uma amiga minha, que mora aqui desde o nascimento, esta vendo aquela casa verde à frente. Peça pelo dona Arminda. Ela e uma ótima pessoa e lhe dará todas as informações que puder.

Palmas, palmas, o cão feroz avançava a cerca, Boa tarde dona Arminda, estou à procura de um amigo que morou no número.

4780, ele se chamava Sebastião Rodrigues de Azevedo. O último contato que tivemos foi em 1982.

— Sim, lembro-me dele rapaz bonito, mudou-se em 1983, parece que tirou a sorte grande.

— Sabe para onde se mudou?

— Não, não sei quem poderá lhe informar e uma tia dele que mora no bairro, terceira rua paralela a esta naquele sentido.

— Muito obrigado, sabe o número da casa?

— Não, mas é uma casa de alvenaria e cor amarela, não tem como errar.

— Muito abrigado mais uma vez, passe uma boa tarde.

— Decrois bate a porta, um homem velho abre.

— Boa tarde senhor!

Tirando o chapéu curvando-se.

— Estou procurando Sebastião Rodrigues de Azevedo. Que se mudou em 1983, sabe onde mora atualmente?

— Sou tio dele, ele mora atualmente, com o pai, no estado de Minas Gerais, não o vemos há muito tempo.

— Por acaso teria o endereço dele? Tenho um amigo, que é amigo dele que o esta procurando.

— Dele não tenho, porém, tenho o de meu irmão, que é pai dele. O telefone, um momento que vou procurar. Aqui está é 012.788.2345.

— Ajudou bastante, muito obrigado, uma boa tarde.

No dia seguinte, no escritório, o grande detetive telefona para Minas.

— Aqui quem fala e Erculan Decrois, desejo falar com o Sr. Sebastião Rodrigues de Azevedo.

Uma voz do outro lado diz:

— Sr. Erculan, aqui quem fala é o pai do Sebastião, meu filho mora em S. Paulo o telefone dele é 11.324.7558. Ramal 244.

— Muito agradecido meu Senhor, desejo-lhe sorte e prosperidade.

— Logo a seguir:

— Desejo falar com o Sr. Sebastião Rodrigues de Azevedo.

— É ele quem está falando

— Senhor estou falando do Rio de Janeiro, o senhor foi contemplado pela Lista Telefônica, com um rádio gravador, desejamos que nos forneça seu endereço para a remessa via correio.

— Tome nota, por favor: Distribuidora de Alimentos e Logística de Transportes Ltda. Rua dos Salgueiros, 4560, Bairro Catupi - S.P. Capital.

— Muito agradecido, receberá o seu prêmio nesse endereço.

— Três dias após Sebastião, recebe um telefonema de Decrois, que lhe informa que ira cobrir o circo da fórmula um, no próximo final de semana e que lhe entregará o prêmio pessoalmente.

O gigante viaja a São Paulo, pela ponte aérea, lá chegando, no aeroporto Congonhas, aluga um táxi, que o leva até o endereço procurado.

Constata que a Logística é uma empresa moderna, que representa e distribui para diversas empresas de gêneros perecíveis, grandes câmaras de estocagens, compõem a empresa, bem como um terminal de cargas e descarga de congelados.

Erculan Decrois desce do táxi, com o rádio gravador na mão. E, fica a observar mais atentamente o complexo logístico a sua frente:

— Que merda, como vou fazer para arrancar informações desse cara? Certamente que após o término do caso, recebeu uma recompensa pelo trabalho sujo, por isso que a dona Arminda se referiu que teria ganhado na loteria. Conveniente seria para o verdadeiro culpado que ele trocasse de emprego, de preferência para outro estado. É Sr. Decrois, pegou merda com as mãos. Mas vamos em frente.

— Bom dia em que lhe posso ser útil?

Perguntou a recepcionista.

— Sou da Lista Telefônica, desejo entrevistar o Sr. Sebastião Rodrigues de Azevedo, ele recebeu o 10.º prêmio do concurso “Usar a lista da prêmios”.

— O Sebastião termina seu expediente as 14:00, poderá esperá-lo, pois durante o expediente será impossível recebê-lo.

— Senhorita pode me dizer o que faz o Sr. Sebastião, qual é a sua função?

— O Sebastião é o encarregado da recepção e expedição de produtos.

— Por onde sairá o Sr. Sebastião quando terminar o expediente.

— Sairá nesta portaria.

— Posso esperar-lo às 14 horas?

— Sem dúvidas, esteja à vontade.

— Deixa ver! Aqui tem! Um bombom pela sua gentileza.

Às 14 horas o arqueado detetive, oferecia balas à recepcionista, dispondo-a conversar. As 14:15 surge na porta de saída um Sr. calvo, com aparência atlética, aparentando 40 anos aproximadamente, com altura de 1,70 aproximadamente. A recepcionista o chama:

— Sebastião, faz favor!

O homem se aproxima, estando Decrois encostado no balcão, logo se pôs atento.

— Este é o Sr.

— Decrois. Erculan Decrois.

— Sr. Erculan este é o Sr. Sebastião.

Os homens se cumprimentaram com um aperto de mãos.

— Sou o promotor de eventos da Lista Telefônica, entrei em contato com o Sr. há poucos dias. E, como prometi, vim entregar-lhe o seu prêmio, aqui está agora em continuação devo entrevistá-lo. Se o Sr. me der o prazer, gostaria de convidá-lo para bebermos uma cerveja em um lugar que preferir, para que possa entrevistá-lo.

— Bonito prêmio, no entanto, não entendi como pude ser contemplado!

— Asseguro-lhe que tudo será explicado durante a entrevista.

Erculan e Sebastião foram até uma cervejaria nas imediações da empresa.

O pé grande, como era chamado carinhosamente pelos amigos, explicou ao seu novo convidado, que o concurso “Usar a lista da prêmios”, procura contemplar o usuário, por isso entram nos sorteios os ramais quando é usado o sistema PABX, com diversos ramais. O próprio usuário é contemplado sem a necessidade de inscrição ou envio de cupões. Concorrem todos os que estão na lista. No seu caso o seu ramal é que foi sorteado.

Decrois como um bom bebedor de cervejas, as tomava uma após a outra, tomando no mínimo o dobro do que Sebastião tomava, dessa forma não haveria a desconfiança de que o queria embriagar. Após uma demorada explicação sobre o sistema de Listas Telefônicas, o face de bebe, como lhe chamavam alguns amigos, iniciara propriamente a entrevista.

— Sebastião, Alista telefônica quer saber: A sua educação e formação profissional?

— Tenho formação secundária. Comecei a trabalhar cedo, aos 17 anos, trabalhava como feirante. Aos 20 iniciei a trabalhar na empresa Distribuidora de Alimentos Andrau Ltda, onde permaneci até 1983, passando logo após a trabalhar na Distribuidora de Alimentos e Logística de Transportes Ltda, onde estou até hoje.

— Conte-me sobre as recordações da escola, uma pessoa especial do seu tempo de estudante?

— Recordo que estive apaixonado por uma professora quando no primário, tinha apenas 9 anos, a paixão era tão forte que chagava a chorar por ela a noite. Lembro que não queria passar de ano para continuar aluno dela. Até hoje a recordo com um imenso carinho.

— O pé de esqui, como carinhosamente lhe chamavam alguns amigos, continuou a perguntar, coisas triviais enquanto tomavam cerveja. Já estavam na sexta cerveja, Sebastião enrolava a língua, Decrois, fingia o mesmo, embora tivesse tomado o dobro de cerveja.

— Fale—me sobre seu primeiro emprego, algo de excepcional, amigos, promoções, chefes, ou fatos que o tenham marcado.

— Nada de mais, a não ser que tive a oportunidade de ajudar a um amigo e ganhar um bom dinheiro.

— Quer falar sobre o caso?

— Não, isso não pode aparecer na entrevista.

— Se você quiser contar em prometo que não tomarei nota de nada, afinal estamos bêbados mesmo.

CAPITULO VII

A NARRATIVA DE SEBASTIÃO:

— Eu tinha um amigo de farras, ele era boa gente, porem não conhecia o Rio de Janeiro. Conhecemos no trabalho, pois a empresa da família dele era cliente da distribuidora para quem eu trabalhava. Quando saímos ele custeava todas as despesas, só que trocávamos de posição quem pagava a conta nas boates era eu, pois ele tinha medo de ser raptado, também trocávamos de carro, quando ele ia para os motéis, embora andássemos juntos, quando pegávamos mulheres nunca era em conjunto.

Um certo dia, fomos a uma boate, dançamos e bebemos, ele saiu com uma garota, a qual já havia saído por diversas vezes. Saíram no meu carro com a minha documentação. Eu saí com uma outra rapariga, no carro dele com a documentação dele. Meu amigo naquele dia tinha bebido um pouco a mais do normal, dirigia meu carro em disparada. Numa curva perdeu a direção, derrapou e bateu de lado em um poste. A garota que estava com ele, se acidentou feio e foi levada para um hospital. O rapaz nada sofreu. No dia seguinte ele me procurou, e disse:

— Meu amigo, temos um problema grave para resolver.

— Contou—me o sucedido. Fiquei sem saber o que dizer, portanto, nada disse alguns momentos ele falou:

— No momento que chegou o socorro à garota foi levada para o hospital, a polícia fez o levantamento do acidente solicitou meus documentos, eu tinha apenas os teus, e os apresentei, junto com os documentos do carro. O policial não notou a diferença de fotografia. A ocorrência saiu em teu nome.

— Fiquei mais embasbacado ainda, quando ele disse:

— Não se preocupe nos faremos um negócio, eu te dou um carro novo e mais uma quantia equivalente ao valor do carro.

— Sinceramente, eu teria aceitado se ele nada me desse, pois, nos tínhamos uma boa amizade. Passado alguns dias, recebi uma intimação comparecer, na delegacia para responder inquérito policial sobre o acidente. Telefonei para o meu amigo, e o informei sobre o que estava acontecendo. Ele muito gentil me

disse, não se preocupe, contratarei um bom advogado para defende-lo e no final de tudo lhe darei uma quantia muito boa. Respondi todo o processo e no final fui recompensado, não sei como, mas ele comprou um bilhete premiado e me deu. Foi como eu tirei na loteria

— Decrois que ouviu atentamente, pensava:

— Bosta, sempre que se referiu ao homem que procuro usou chama-lo de amigo. Tenho de mudar de tática, não posso perguntar simplesmente a identidade da pessoa que procuro? O que é que tu vais fazer seu bosta?

— Sebastião! -disse Decrois, eu amanhã tenho de cobrir a fórmula um, não conheço muito bem S. Paulo, você não quer me fazer companhia?

— Com muito prazer Sr. Erculan, que horas no encontramos.

— Onde tem um hotel aqui por perto?

— Neste bairro não há hotel, estamos em área industrial. Você terá de ir ao centro.

— Dê-me o número de seu telefone celular, nos encontraremos no circo, às 11 horas eu lhe telefono dizendo onde nos encontraremos. — Muito bom respondeu Sebastião.

O detetive paga a conta e se despede de Sebastião, com um efusivo aperto de mão, acena para um táxi, apanha-o, e se afasta abanando para Sebastião.

Enquanto o táxi se movimentava pelas ruas de S.Paulo, o Gigante pensava.

— Boa gente esse Sebastião, pena que não me deu o nome do seu amigo. Vamos ver o que já tenho de concreto. O nosso homem no mínimo é um filho de empresário, cliente da logística, quando a coisa ficou preta, no Rio ele mudou de representante, e também de cidade. Porém, para não perder o contato com o Sebastião, arrumou—lhe um emprego na nova representada. É isso ai. Tenho de conseguir uma relação das empresas que trabalhavam em 83 com ambas as representadas, ou uma que migrou do Rio para S. Paulo. Amanhã verei se arranco mais algumas informações do meu amigo, Sebastião, após mais uma cervejada.

O CIRCO DA Fórmula UM:

Após jogarem conversa fora, na oitava cerveja, o astuto detetive, diz:

— Uma coisa eu não entendo, como é que você deixou o Rio de Janeiro, para trabalhar em S. Paulo. Nada contra S.Paulo, mas aqui o pessoal só pensa em trabalhar, no Rio não, também pensamos em diversão, praia e mulheres.

Sebastião querendo justificar, sua mudança disse:

— Não tive escolha, o meu amigo, trocou de representante e quis que eu mudasse para S. Paulo.

— A sim, quer dizer que o seu amigo, quis você tratando dos interesses dele em S. Paulo. Seu amigo tem transportadora de certo?

— Não ele tem indústria.

ARAQUEM NORTON:

Passado trinta dias da contratação do detetive Erculan Decrois. Araquém liga ao detetive, e pergunta se obteve progressos e se tudo estava dentro do combinado. Decrois pede o número da caixa postal, para envio de uma foto para ser confirmado se era a pessoa procurada. Araquém fornece o n.º e fica no aguardo. Passado uma semana, vai ao correio para examinar a caixa postal. Abre a porta da caixa e vê que Decrois, cumprira com o combinado. Lá estava um envelope com a foto de um desconhecido. Araquém procura Júlia, que reconhece na foto o homem que por imprudência a tinha aleijado. O homem que dissimulara e produzira uma farsa para fugir da responsabilidade do ato cometido. O homem que gastara uma pequena fortuna para não assumir seu infortúnio, deixando a vítima a mercê de sua desgraça. E, como a justiça é cega nada viu. Araquém telefona para Erculan e confirma o reconhecimento da foto. Trinta dias são passados, quando o Araquém recebe o relatório final de Erculan Decrois.

O INVESTIGADOR ERCULAN DECROIS.

30 de março de 1997 as 13:30 horas, circuito de Interlagos, 72 voltas de 4.292 metros, Grande Prêmio Brasil. Roncam os motores, Erculan com seu telefone celular, na mão, procura falar com.

— É o Sebastião? Onde você está?

— Estou próximo, logo estarei junto de você.

Assistiram à corrida, que foi ganha por Jacques Villeneuve, correndo com carro Williams.

Decrois convida Sebastião para limpar a goela. Ambos se dirigem para uma tenda onde vendem bebidas, sentam—se em uma mesa, Erculan pede uma cerveja e dois copos, comentam a corrida enquanto bebem cerveja, já na quinta garrafa, Decrois estimula Sebastião a voltar para o Rio de Janeiro, fazendo alusão às praias, o clima e as farras que a cidade propicia. Chega ao exagero de dizer que não sabe como ele consegue depois de viver no Rio, aturar S. Paulo. Sebastião diz que tem de estar onde há trabalho. Decrois lhe diz:

— E o seu amigo, aquele do acidente não o pode ajudar, ele não é influente proprietário de empresa, por que não o leva para trabalhar na sua própria empresa?

Sebastião fica pensativo, e diz:

— Não para ele é mais conveniente que eu trabalhe em uma logística, em que a empresa dele é cliente, assim eu posso cuidar dos seus interesses. Foi assim que nos conhecemos e fizemos amizade, pelo interesse que tinha que eu dentro da empresa que trabalhava, antes no Rio e Após S. Paulo, cuidasse dos interesses dele. Decrois pensa:

— Tenho de descobrir nem que seja o nome da empresa desse cara. Arrisco uma pergunta à queima roupa ou não?

— Garçom mais uma cerveja. Mas Sebastião, esse seu amigo, lhe dá, alguma coisa até hoje?

— Não, no entanto, tenho emprego garantido por ele, que tem grande influência na empresa em que trabalho. Mas Decrois, fale-me sobre você.

— Merda, tenho de inventar alguma coisa.

— Quando jovem eu queria ser jogador de basquete, não levei jeito, pois sempre gostei mesmo era de praia, vida mansa, muitas mulheres, bastante bebida, farra todas as noites. Ate que meus pais morreram em um acidente de carro, em dois anos terminei com a herança que me tinham deixado, ai tive de trabalhar para me manter, tive diversos empregos até ser contratado pela lista e aqui estamos. Garçom mais uma cerveja. Mas Sebastião qual é o seu projeto de vida para o futuro?

— Sebastião conta sobre suas ambições e perspectivas de futuro, tudo dentro do trivial, como troca de carro, melhora no apartamento e outras coisas mais.

— Agora sim, já está no ponto, posso fazer a indagação, esse merda nada vai notar. Garçom mais uma cerveja. Na verdade, Sebastião estou querendo sair da Lista, e arrumar um novo emprego, será que você não pode me dar uma força com esse seu amigo empresário. Ao menos dar uma indicação para que eu possa mandar um currículo, mencionando que sou seu amigo. Eu trabalho bem em propaganda e eventos.

— Não as empresas dele são sediadas no interior, em pequenas cidades oceânicas, ele trabalha com pescado, você não quer trabalhar no interior? Quer?

— Não

— Nem eu.

— Filho da puta, não fala mesmo. É mais liso que sabão encharcado, vou terminar com esse enrosco.

— Garçom a conta.

— Foi um prazer conhece-lo Sebastião.

— Os dois homens se despediram. Decrois pegou um táxi e foi para o aeroporto de Congonhas. Durante o voo, Decrois, com os olhos fechados, pensava:

— O negócio é obter uma lista de clientes da empresa na logística do Rio no ano de 83 e uma, na logística de S. Paulo, a que trabalha com pescado que constar nas duas relações será a que procuro.

Ao chegar ao Rio de Janeiro Decrois vai direto para a Internet, entra no site da empresa logística do Rio de janeiro, consulta à lista de clientes encontra 37 clientes cadastrados três são do ramo da pesca. Consulta a de São Paulo, quatro são do ramo da pesca, única coincidente: Pesca Oceânica Ltda.

— Nunca foi tão fácil, essa é a empresa que procuro, vamos ver o que diz o site?

— O colosso humano, procura o site da empresa Pesca Oceânica Ltda.

— Nosso detetive viaja para a cidade de Porto Velho. Vestia um terno de linho, chapéu Panamá, com seu tradicional, óculos refletivos, falando com um sotaque Holandês, sua origem. Chega a Pesca Oceânica. A recepcionista o atende.

— Que deseja senhor?

— Decrois falando com sotaque Holandês diz:

— Falar com o responsável por exportação.

— A quem devo anunciar Erculan Decrois, sou cidadão Holandês, tenho diversas representadas no meu país de origem que estão interessadas na importação de produtos.

— Queira me acompanhar, por favor. Este é o Sr. Homero Lampert, gerente de exportações da Pesca Oceânica Ltda. Este é o Sr. Erculan Decrois representante comercial para importações da Holanda.

Homero expões a Decrois um ligeiro histórico da empresa, seus principais produtos tipos exportação, informa que se trata de uma empresa familiar herdada pelo Sr. Renato Corso, com grande habilidade tanto comercial como industrial e de um grande espírito de empreendedor. Decrois fala das empresas holandesas que representa. Com brevidade comenta o infortúnio sofrido por Renato Corso com a perda de sua esposa em um acidente de carro, em dezembro de 1990, que atualmente se dedica de corpo e alma aos negócios. Erculan no dia seguinte vai à biblioteca municipal.

Um prédio de três andares, na entrada lia-se:

— Biblioteca Municipal Paulo Setúbal, expediente das 8:30 as 12:00 e das 13:30 as 17:00. O imenso corpo vence dois lanços de escadas, uma porta envidraçada com duas partes móveis, um aviso: mantenha fechada, ar condicionado. Sentada atrás de uma escrivaninha, tendo a sua frente um micro computador, uma jovem, levanta as vistas são se assusta com aquela robusta presença, que lhe diz:

— Bons dias, minha jovem, estou interessado em tomar conhecimento das obras disponíveis, também em jornais e revistas locais.

A atendente esboçando um simpático sorriso aponta para um dos corredores e diz:

— Esta é a seção de livros, todos separados por gênero e escritores. Ao fundo, estão as revistas e jornais locais, caso queira copiar, há na direita do setor de jornais uma máquina de reprografar, custa 10 centavos por cópia.

O grande visitante, em sinal de agradecimento, faz uma mesura, e dirige-se ao setor de livros, onde examina alguns compêndios, como o de J.J. Benitz Operação Cavalo de Tróia. E, finalmente chega onde estão os jornais. Procura nos jornais locais o de dezembro de 1990. Na página frontal um retrato com a seguinte manchete: Morre Margarita Corso. Herculan tira diversas cópias, de outros jornais, e no centro coloca o retrato da vítima. Ao sair apresenta as cópias em número de 12, paga 1,2 real, agradece à senhorita e se retira.

ARMANDO FERRI (Arman)

Araquém manda chamar seu fiel escudeiro, o Sr. Armando Ferri. O caro Arman, como carinhosamente lhe chama Araquém. Ao chagar Arman toma conhecimento de todo o caso Júlia, examina o dossiê Decrois e diz:

— Araquém estou ao teu dispor para o que desejares.

— Contava com isso, caro amigo. Inicialmente quero que me ajudes a arquitetar um plano, que no final, possamos dar uma indenização em espécie para a Júlia, digamos em torno de R$ 1.000.000,00 de Reais. E, que o homem pague pelo que fez.

— Acho a missão de difícil realização, haja visto que o alvo é uma pessoa de grande projeção no cenário nacional e também no exterior.

— É, de fato, teremos de agir com muita cautela. — Assentiu Araquém.

— No entanto, já tenho um plano que com o seu auxílio poderá ser melhorado.

Araquém expões o plano à Arman, ambos discutem-no demoradamente por uma semana, examinando todas as suas fases nos mínimos detalhes. Ao final da qual dão-no como exequível. Pela complexidade de sua realização duraria no mínimo 1 anos, com um custo aproximando R$ 1.000.000.00.

Arman chega ao Cristal Shopping, na grande Rio, a procura de um artista que grafita caricaturas de pessoas ou de retratos. Lá estava um jovem sentado em uma cadeira de rodas, ao seu redor havia diversos trabalhos, todas as encomendas já prontas para entrega.

— Bom dia meu rapaz! Diz Arman. Alcança-lhe uma página de jornal interiorano, que expunha uma foto. Quero que me faça uma caricatura dessa foto, quanto tempo demora?

— Será breve, basta o Sr. dar uma volta no Shopping, e logo estará pronta.

— Vou esperar aqui mesmo, apreciando seu trabalho.

— É impressionante a ideia de Araquém, o artista capta os traços mais fortes da pessoa quando faz a caricatura, todas as pessoas que possuam estes traços, basta que os detalhes como, cor e o modo de posicionar os cabelos, cor dos olhos e jeito de falar, para que uma pessoa se pareça com a outra.

Passados alguns minutos o trabalho estava pronto, Arman pagou o rapaz e se retirou.

CAPITULO VII

A PROCURA DE UMA ATRIZ:

Araquém manda imprimir centenas da caricatura, contendo também as regras para o concurso, intitulado à procura de uma Atriz. A candidata teria de parecer-se com a caricatura, falar mais de uma língua estrangeira e ser obrigatoriamente uma artista da noite e ter idade entre 21 e 35 anos. A escolhida teria um contrato milionário para uma única representação. Currículo com fotos deveriam sem enviadas a Caixa postal n.º 224. Rio de Janeiro, Agência Centro.

Arman e Araquém recebem centenas de candidatas, escolhem 10 finalistas, e as convidam para uma entrevista, individual em dias diferentes. Eles próprios iam à origem para a entrevista. Ao final por unanimidade foi escolhida a Candidata. Uma jovem de 23 anos. Arman toma a incumbência de preparar a atriz para a grande encenação. Em regime de trabalho de 8 horas diárias a atriz recebe aulas de comportamento social, etiqueta social e aperfeiçoamento nas línguas, Alemã, Inglês e Francês. Araquém se dedica ao estudo de seu novo personagem. Um ano se passa, os atores, acompanhados de Arman, fazem uma viagem à Europa, passando diversos dias, em Paris, outros tantos em Londres e finalmente em Berlim. Ao retornarem ao Brasil, fazem uma reunião para costurarem os últimos detalhes.

Tomando a palavra disse Araquém Norton:

— Eu vou representar o papel de um oceanógrafo, Sr. Ricardo Branda. No último ano estudei tudo sobre cadeia alimentar e sobre pesquisa relativas a tais cadeias, eu me encontro plenamente preparado para a ação. Madalena Junqueira, fará o seu próprio papel, usará o seu próprio nome, e será tratada como à senhora Branda. Madalena! Não esqueça, você não

cederá aos assédios, sem antes terem comunicado aos Sr. Branda, ou seja, a mim. Arman, fará o papel de Alexandre Masoc, um motorista e amigo do Sr. Branda.

Alguma pergunta final?

— Eu tenho uma pergunta? Disse Madalena!

E, se eu não gostar do homem para casar?

— Isso será uma decisão de foro íntimo! A missão estará finda no momento em que obtenhamos a indenização para a vítima, no caso Julia Menezes Pereira. No final, ninguém mais falará em Ricardo Branda, afinal ele nunca existiu.

ARAQUEM NORTON:

Arman estaciona o carro, Araquém Norton desse e se dirige à porta principal da modesta casa de Júlia Menezes Pereira. A campainha é tocada, a porta se entreabre, a voz no interior da casa determina que entrem. Araquém e Arman adentram na modesta casa, Júlia sorrindo, movimenta a cadeira de rodas na direção dos dois homens e lhes estende ambas as mãos, Arman pega a mão esquerda de Júlia e Araquém à direita, ambos quase que, ao mesmo tempo, beijam-lhe as mãos, Arman diz: — Muito prazer em conhecê-la Júlia, permita que me apresente: Sou Arman, amigo e colaborador do Sr. Araquém Norton. Araquém por sua vez, disse:

— Minha cara Júlia, damos por encerrada a nossa missão e viemos lhe trazer os resultados:

— Júlia convida-os a sentarem nas poltronas a sua frente. Araquém Norton conta-lhe nos mínimos detalhes, todo o desenrolar da trama. Ao final do relato, Júlia enxuga as lágrimas que lhe corriam pelo rosto. Araquém ao final lhe diz, segurando-lhe ambas as mãos:

— Júlia o resultado final tirado todos os investimentos, você terá uma indenização da parte do Sr. Renato Corso, seu agressor, na ordem de R$ 1.235.000,00. Que está depositado em uma conta pessoal em seu nome no Banco Norte-americano de Investimentos.

De volta ao sítio, Arman acabara de ler a correspondência e diz a Araquém:

Temos novidades, Madalena escreveu está realmente apaixonada por Renato Corso já programam a concepção de um herdeiro. E, estão de partida para um cruzeiro ao redor do mundo. Aqui tem outra carta que diz contar com sua ajuda, trata-se de uma jovem de 38 anos que deseja ser recebida por você para lhe expor o seu problema pessoalmente. No entanto, diz que se trata do desaparecimento de sua filha. A aqui tem outra, que parece ser bem interessante. Um homem chamado Manfred Murdoc, diz que quer lhe vender uma fábrica de tecidos.

— Responda à Madalena, que sejam felizes para sempre, pois eles o merecem e, um feliz cruzeiro. Para a jovem de 38 anos que perdeu a filha, que procure a polícia. Ao tal Manfred, diga que não estamos interessados em adquirir fabrica de tecidos.

Nesse momento toca o telefone, Arman atende uma voz lhe diz.

E da residência do Sr. Araquém Norton?

Sim, Arman falando.

— Posso falar com o Sr. Araquém?

— Quem deseja?

— Sou um ancião de 85 anos de idade, moro sozinho com minha neta. Estou enfermo, não posso me levantar, minha neta trabalha para uma das casas do Sr. Araquém ou que foi do Sr. Araquém, fazem três dias que minha neta não volta para casa, minha situação e periclitante, fazem dois dias que nada como, apenas bebo água que fica a minha disposição para tomar o remédio. Tenho certeza de que minha neta não me abandonou algo teve de ter acontecido com ela, à única referência que tenho é o telefone do Sr. Araquém, a quem ela disse que eu deveria recorrer quando em extrema necessidade.

— Sr. dê-me seu endereço, nos procuraremos.

A! Sim, essa é outra história. Até breve.

Otrebor Ozodrac
Enviado por Otrebor Ozodrac em 17/12/2022
Reeditado em 15/01/2023
Código do texto: T7673763
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